CAPÍTULO 3

47 16 9
                                    


SUSAN

Não consigo tirar os olhos do post-it cor de rosa onde anotei o número de telefone de Zach e é impossível parar de pensar no pedido que ele me fez. Não sei porque ainda estou em duvidas, afinal, o que tem de errado em mandar uma mensagem para ele se já conversamos tanto nos últimos dias pelo bate papo? A coisa mais natural é evoluir para as mensagens de texto e, depois quem sabe, falar por telefone.

Fecho os olhos e imagino como deve ser a voz dele. Aposto que é rouca e baixa, com um timbre forte, capaz de enlouquecer uma mulher em questão de segundos. Assim que a imagem de uma boca carnuda sussurrando em meu ouvido se forma na minha mente, sinto um calor inexplicável e trato de me levantar e buscar algo para me ocupar enquanto espero as horas passarem. Pego o telefone e saio do quarto, caminhando em direção a cozinha, pronta para vasculhar a geladeira em busca de ingredientes para fazer um jantar bem gostoso quando o interfone toca, me dando um susto.

— Será que Anna esqueceu as chaves de novo? — Murmuro sacodindo a cabeça. Minha amiga anda distraída demais depois que começou a namorar Frank e não me espantaria se ela estivesse voltando em casa para pegar as chaves, o celular ou até mesmo a cabeça, se essa não estivesse firmemente presa ao seu corpo. — Alô.

— Susan, querida, abra a porta para mim. — A voz cantada com sotaque da Flórida faz com que um sorriso tome conta do meu rosto — sou eu, Amanda.

— Que surpresa boa — libero a porta para que ela entre e, em questão de minutos, me vejo envolvida por uma cascata de cabelos ruivos e presa em um abraço forte.

— Quanto tempo eu não te vejo, Susie!

— Você sabe que eu detesto que me chamem, assim, Mandy.

— Por isso mesmo eu adoro fazer isso. — Ela passa o braço pelo meu e olhando ao redor pergunta — Por onde anda Anna? Não vá me dizer que ela saiu com algum novo namorado e te deixou sozinha em casa?

Dou uma risada e ajudo Amanda a colocar a mala para dentro do apartamento. Parece que ela trouxe um elefante na mala, de tão pesada que ela está.

— Anna saiu com o namorado da vez, Frank, e eu fiquei em casa porque quis. Eu não estou com vontade de socializar essa noite. Mas, que tal me contar o que você está fazendo aqui e porque essa mala está tão pesada.

— Ah, isso. — Ela fecha a porta e se encosta nela, sorrindo para mim — estou voltando para a Florida e resolvi passar por aqui antes do meu voo.

— Assim de repente? E não podia ter deixado a mala em casa e ter chamado a gente para tomar um drink de despedida como qualquer pessoa normal?

— Desde quando eu sou uma pessoa normal, Susie?

— Porque essa viagem repentina?

— Harrison conseguiu um emprego na Florida e eu não gosto mesmo de Los Angeles então pensei, que diabos, porque não voltar para casa?

— Amanda, você está voltando para a Florida por causa do Harrison? — Ela faz um biquinho e sacode o dedo na minha direção, mas eu a ignoro e continuo a falar — Parece que você não aprendeu nada com o que aconteceu comigo e com o que sempre acontece com Anna. Não dá para mudar nossa vida por causa desses trastes e no fundo eu sei que você concorda comigo, que o Harrison é um traste.

— Você está sendo muito radical, Susan. Eu entendo que esteja magoada com o que aconteceu entre você e Doug, assim como entendo a sua preocupação com Anna e esses namorados imprestáveis que ela coleciona. Eu sei que tive algumas brigas com Harrison sobre o estilo de vida dele mas, dessa vez é diferente, ele tem uma carreira, uma vida financeira estável e, com essa mudança, eu vou poder voltar para perto da minha família. Voltar para a Florida vai ser bom para mim pois lá em me sinto confortável de uma forma que nunca me senti na Califórnia.

O CALOR DO SEU TOQUE  - Simone Freire - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora