O CALOR DO SEU TOQUE - Simone Freire - DEGUSTAÇÃO

CAPITULO SETE

SUSAN

O telefone apitou no exato momento em que eu estacionei o carro em frente ao prédio, mas, antes que eu pudesse conferir quem estava me mandando mensagens, Anna enfiou a cabeça pela janela e estalou um beijo na minha bochecha.

— Por onde você andou? Pensei que tivesse sido abduzida.

— O dia em que Frank perceber a quantidade de besteiras que você fala, ele vai dar um pé na sua bunda. — Ela mostra a língua para mim e eu dou uma risada. — Peguei a estrada até Newport, queria dar um mergulho.

— Acordou cedo então. Eu vim em casa trocar de roupa e te chamar para uma festinha na casa do patrão do Frank. Vamos?

— Não vai dar. Eu tenho algumas planilhas para analisar para aquela reunião de segunda de manhã, lembra?

— Mas hoje é sábado! — Ela faz um biquinho que a deixa ainda mais bonita. Anna tem longos cabelos loiros e os olhos mais azuis que eu já vi em toda minha vida. Sem contar que o coração dela é do tamanho do mundo, o que faz com que ela esteja sempre se apaixonando e se decepcionando.

— Eu sei, querida, acredite quando te digo que não tem nada que eu queira mais na vida do que sair hoje com você e Frank — rezo para minha cara não ficar vermelha e queimar com essa mentira, pois eu odeio profundamente esse novo namorado dela — Mas eu realmente preciso trabalhar. Você sabe que essa foi uma das condições da diretoria para me deixar fazer home office aqui em Los Angeles por um tempo. Que eu não atrase nenhuma entrega e que esteja sempre disponível, como se eu ainda estivesse em Nova Iorque.

— Sim, eu sei. E apesar de saber que isso era algo que você precisava fazer, sair da cidade para evitar Doug, eu me pergunto se você vai conseguir aproveitar estar aqui — ela abre os braços me incentivando a admirar a beleza do céu azul, sem nenhuma nuvem para esconder o sol.

— A vida dos adultos responsáveis é uma tortura sem fim. Um dia você vai saber disso, boneca. — Ela dá uma risada e sacode a cabeça em negativa.

— Nada disso. Eu gosto de servir mesas, mudar de emprego sempre que me aborreço e ainda consigo tirar uma grana extra com os trabalhos temporários nos escritórios de advocacia. Não quero me amarrar a nenhuma dessas responsabilidades chatas da vida adulta. Deixo isso para você e para Amanda.

— Ah, é? E quando você ficar velha demais para carregar aquelas bandejas pesadas, o que vai fazer? — Deixo a pergunta no ar, apesar de estar cansada de saber a resposta.

— Vou morar com você. Ou com a Amanda. Não decidi ainda, quando chegar o momento vejo quem está mais rica, morando mais perto da praia e faço minhas malas. — Frank buzina e ela faz um sinal pedindo para ele esperar antes de olhar para mim de novo. — Não se preocupe comigo, Susie, vá trabalhar e deixe que eu me divirta. Te amo.

— Eu também te amo. — Ela sai correndo em direção ao conversível do namorado e eu murmuro — é por isso que me preocupo com você.

Coloco a bolsa no ombro, tranco o carro e entro no prédio de dois andares, sem elevador onde Anna mora. O apartamento dela é aconchegante, com uma pequena varanda e piso branco. Os armários de madeira nas paredes da cozinha são simples e completamente opostos aos que eu tinha no meu antigo apartamento, que agora está ocupado por Doug. Eles eram em fórmica preta e elegante, e eu tinha muito orgulho deles. A sala do apartamento é bem espaçosa e, se eu me sentir entediada, posso ir até o térreo onde tem uma sala de jogos com duas mesas de sinuca e uma fonte antiga, que refresca os moradores em dias de sol com seus respingos suaves. No geral, é um lugar interessante para passar um tempo, mas sei que em breve vou querer empacotar minhas coisas e voltar para Nova Iorque.