CAPÍTULO QUATRO

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ZACH

Depois de passar a maior parte do jantar em silêncio, me despeço de Jack e Nellie e, segurando Miriam pelo cotovelo, saio o restaurante caminhando em direção ao carro preto estacionado em frente a porta. Em uma cidade como Nova Iorque, conseguir um taxi pode ser uma missão quase impossível e, já que minha situação financeira é mais do que confortável, me dou ao luxo de ter um carro com motorista sempre a minha disposição. Miriam está um pouco mais alegre depois dos três cosmopolitan que bebeu e engata o braço no meu, sussurrando em meu ouvido.

— Uhm, alguém está com tanta pressa de voltar para casa que deixou John de sobre aviso. — Ela se refere ao meu motorista em tom jocoso e eu me sinto incomodado principalmente por ela ter razão sobre eu estar com pressa de ir para casa. Mas duvido que Miriam saiba o motivo real da minha pressa.

— Sim, estou muito cansado. Entre no carro, que vou te deixar em casa.

Ela faz um biquinho e me segura pela gola da camisa, balançando o corpo para trás e me obrigando a enlaçá-la pela cintura.

— Não posso ir para casa, querido. Minha colega, Ava, está com o noivo e eu prometi que deixaria os dois a sós. — Ela estreita os olhos e sorri, maliciosa — você sabe do que estou falando.

— Sim, sei. — Abro a porta do carro e empurro-a para dentro. Ela desliza no banco de couro e eu me sento ao seu lado — Então vamos para minha casa. Estou bastante cansado e acho que nós dois precisamos de um boa noite de sono. John, você sabe o caminho.

— Sim, Sr. Perry.

Miriam, se sentindo solta e ousada, desliza a mão por minha coxa e teria agarrado meu pau se eu não tivesse segurado seus dedos antes que eles chegassem a minha virilha.

— Aqui não. — Falo em tom baixo e muito sério.

— Não seria a primeira vez que eu faria isso com você no banco de trás de um carro. Lembra da nossa viagem a Amsterdam?

— Lembro, Miriam, mas hoje eu não estou a fim.

— E quando você está afim? — Ela sobe a outra mão pelo meu peito e acaricia meu queixo. — Já faz algum tempo.

— Por favor, comporte-se. Não estamos no banco de trás de um taxi em uma cidade liberal da Europa. Estamos no meu carro, dirigido pelo meu funcionário e eu não quero dar margem a fofocas. Eu tenho um nome a zelar.

— Ah sim, o grande senhor Zachary Perry, dono de uma das maiores cadeias de lojas de roupas do país. — Ela sacode as mãos fazendo pouco da situação, o que faz com que meu nível de irritação aumente — Quem sou eu para manchar a sua reputação não é, querido?

— Miriam, se a conversa continuar nesse tom, vou deixar você em um hotel para passar a noite — ela faz um gesto como se estivesse trancando os lábios e jogando a chave fora e reclina a cabeça no encosto do banco fechando os olhos e me abençoando com quinze minutos de silencio.

Preciso acordá-la quando chegamos em frente ao meu prédio e ela sai do carro, ainda sonolenta, segurando firme em meu braço e com a cabeça encostada em meu ombro, como se nada tivesse acontecido. Isso é uma das coisas que mais me irrita em Miriam, a forma como ela rapidamente esquece as palavras e ações inconvenientes que tem comigo e faz de conta que tudo está bem quando, ambos sabemos, nada está bem de verdade.

Assim que entramos no elevador, ela me abraça e eu, em um momento de fraqueza, beijo o topo da sua cabeça, me arrependendo em seguida. Ela suspira profundamente e declara.

O CALOR DO SEU TOQUE  - Simone Freire - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora