CAPÍTULO SEIS

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ZACH

—...então, eu encomendei um macaco, e ele equilibrou os pratos durante o jantar. Foi fantástico, coisa do outro mundo.

— O que você disse? — Perguntei saindo do transe em que me encontrava para dar de cara com meu irmão me olhando com uma expressão irônica.

— Ah, finalmente chamei sua atenção. — Jake toma um gole do café fumegante e nem tenta disfarçar o sorriso. — Estou aqui falando há horas e você está com esse sorriso idiota grudado no rosto. Vai me contar o que houve?

— Eu e Miriam terminamos ontem. — Declaro dando a volta no balcão da cozinha e caminhando em direção ao sofá, onde me sento já procurando pelo controle remoto da televisão, pois não quero me estender nesse assunto, principalmente com Jake. Mas, nada na minha vida é fácil e em dois segundos ele está sentado ao meu lado, com os cotovelos apoiados nos joelhos, segurando o queixo com uma das mãos.

— Elabore, por favor, irmão. Você sabe que eu gosto dos detalhes e, quanto mais sórdidos, melhor.

— Não teve nada de sórdido. Apenas disse a ela que não dava mais para continuar como estávamos e mandei ela passar a noite no Four Seasons.

— O que? — Ele levanta a sobrancelha e eu já começo a suar frio de nervoso. Odeio as piadas e as hipóteses que meu irmão cria em sua cabeça e, desde criança, ele me irrita e me coloca em situações que eu poderia muito bem passar a vida toda evitando. E, como eu já esperava, ele continua — Mas, ela não tinha um apartamento em Upper West Side? Ou já estava morando com você e eu não sabia por isso você teve que mandar a pobre e agradável Miriam para um dos hotéis mais caros da cidade?

— Chega, Jake. Não quero falar sobre isso.

— Mas eu quero. Adoro uma fofoca e você sabe disso. — Ele larga o café sobre a mesa de canto, ao lado do retrato dos nossos pais e se acomoda no sofá, como se estivesse na casa dele. — Além do mais, gosto de ter o que conversar com Nellie, você sabe como ela gosta dessas futilidades.

— Não sei porque ainda está com ela se a considera fútil demais para seus padrões.

— Ela é divertida, gostosa e está sempre disponível. — Ele tira o controle remoto das minhas mãos e coloca no canal de esportes antes de completar — E eu ainda não me cansei dela.

— Mas vai cansar. Você sempre se cansa.

Se ele se ofendeu, disfarçou muito bem pois apenas sacodiu os ombros e colocou os pés sobre a minha mesa de centro, empurrando os livros de arte que deixo ali com o calcanhar antes de declarar.

— Sou quem sou. O que me torna alguém muito diferente de você, que vive buscando um amor perfeito para construir uma família feliz. — ele pega o porta retratos e empurra na minha direção — Nunca teremos o que eles tiveram. Nossos pais foram sortudos demais e a gente não vai conseguir. Então, para que insistir? Está na hora de você aceitar isso e começar a se divertir.

Pego o objeto e fico admirando a beleza e a alegria dos meus pais na foto do casamento deles. Jake está certo, eu quero exatamente o que eles tiveram e não vou desistir enquanto não conseguir, mesmo que parta meu coração diversas vezes pelo caminho.

— Conheci alguém. — Minha voz sai baixa e um pouco envergonhada, principalmente quando vejo o sorriso do meu irmão se alargar como se dissesse que ele sabia disso o tempo todo. — Na verdade, ainda estou em processo de conhece-la.

— Fiquei confuso. Pode me explicar melhor? — meu olhar vai até o celular e ele suspira, entendendo de imediato — Ah, não Zachary. Não vai me dizer que está de conversa com alguma mulher que você conheceu na internet e se apaixonou pela foto falsa dela?

— Nada disso. — aperto os lábios e sei que vou me arrepender do que vou contar a ele — Eu ainda nem vi o rosto dela. Estou encantado pelas coisas que ela me diz.

— Não consigo acreditar que o gênio, o mais inteligente dos irmãos Perry caiu nessa armadilha. Pelo amor de Deus, Zach, você vai mesmo se envolver com alguma vigarista que provavelmente sabe que você é rico e está atrás do seu dinheiro?

— Ela não sabe que eu sou rico e não está atrás de dinheiro. Susan tem a vida dela bem estruturada e não precisa de ninguém para sustenta-la.

— Se é que "Susan" — ele faz as aspas no ar que eu tanto odeio — realmente existe.

— Ela existe! — Sem pensar, destravo o telefone e mostro a foto que recebi hoje pela manhã e só quando Jake cobre o rosto com as mãos percebo a burrada que fiz.

— Você se apaixonou por uma mulher que pinta as unhas do pé de cor de rosa e ainda assim acha que está tudo bem?

— Estou cansado, Jake. Cansado de mulheres como Miriam, filhas de executivos, formadas em alguma universidade da Ivy League mas que não tem a menor intenção de exercer uma profissão. Essas sim estão atrás da minha grana, da minha posição social e do conforto que eu posso dar a elas. Essa mulher — sacudo o telefone na sua cara — não sabe que eu sou o sócio majoritário da Perry's e que rodo o mundo atrás de tendências da moda para as 47 filias da nossa loja. Essa mulher, Susan, tem outras coisas em mente, como o movimento da bolsa de valores, os investimentos dos seus clientes e o coração partido recentemente.

— Você chega a ser fofo de tão estupido que é. — Jake espalma as mãos a frente do corpo e, com um suspiro resignado, se entrega — Não vou tentar fazer você enxergar a verdade, irmão, porque você não vai acreditar em mim. Pela paisagem, essa tal Susan não está em Nova Iorque, então, onde ela está?

— Califórnia.

— Resolva isso rápido então. Pegue um avião e vá encontrar a sua princesa. E, se ela for mesmo tudo isso que você está pensando que ela é, conquiste seu coração e traga ela para o seu castelo, jovem príncipe. Se é isso que vai te fazer feliz, corra atrás da sua felicidade.

Não consigo acreditar no que estou ouvindo, mas Jake estende a mão para mim e assim que eu a toco, ele me puxa para um abraço e sussurra contra meu ouvido.

— Vá, Zachary, corra atrás da sua felicidade. Se um de nós merece ser feliz, é você.

Ele beija a minha testa, dá dois tapinhas no meu rosto e sai, me deixando atônito, parado no meio da sala. Mas, esse meu momento dura pouco e logo entendo o que preciso fazer. Preciso começar a me preparar para ir até Los Angeles e conhecer Susan antes que ela conheça outra pessoa e eu perca a oportunidade de fazer com que ela se apaixone por mim.

Ainda com o telefone na mão, vou até o quarto e me deito na cama. Meus lençóis são de algodão egípcio branco, acetinados e constrastam com o tom bronzeado da minha pele. Resolvo retribuir a foto de Susan e tento fazer com que ela seja o mais sensual possível. Depois de inúmeras tentativas frustradas, cogito ligar para Jake e pedir ajuda, mas como não quero ser motivo de chacota permanente, abro um aplicativo de fotos e faço uma pesquisa, me inspirando para ter alguma boa ideia.

Ajeito o travesseiro sob a cabeça, levanto o braço esquerdo colocando-o embaixo da cabeça e inclino a câmera, pegando não apenas o braço como meu peito todo e o cós do short de seda. Tenho o cuidado de não mostrar o rosto, pois ela também não mostrou e antes que possa me arrepender, anexo a foto em uma mensagem e digito:

"Um bom dia para você, Los Angeles."

Que comecem os jogos.



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E ai?
Se você recebesse uma foto dessas.... como ficaria seu coração?


O CALOR DO SEU TOQUE  - Simone Freire - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora