O CALOR DO SEU TOQUE - Simone Freire - DEGUSTAÇÃO

CAPITULO DEZ

ZACH

Largo o telefone no sofá e corro em direção ao quarto. Troco de camisa três vezes até me lembrar que, como Jake insiste em dizer, menos é mais. Com isso em mente, pego uma camiseta preta com gola V e confiro meu reflexo no espelho, ajeitando o cabelo com os dedos. Me sentindo confiante, sorrio para o camarada que parece um pouco nervoso e sussurro:

— Vai dar certo. Você é um cara legal e ela vai gostar de você. Só lembre de respirar e não faça piadas inapropriadas.

Me sentindo um pouco mais confiante, volto para a sala e me sirvo de uma generosa dose de coragem líquida, só para me certificar de que não vou tremer na base quando ela me ligar. O whisky desce queimando minha garganta, e eu o recebo como um velho amigo, afinal, passamos incontáveis noites juntos na época em que meus pais faleceram, e eu agradeço a ele algumas das escolhas erradas que fiz naquele tempo. Girando o copo entre os dedos, deixo meu olhar repousar na paisagem. Apesar da dor da perda ainda ser algo muito latente, eu me pego agradecendo por Jake não ter ido com eles naquela fatídica viagem. Se eu também tivesse perdido meu irmão, nada no mundo teria sido capaz de me tirar da poça de autopiedade em que me enfiei, e, com toda certeza, eu não teria o império que tenho hoje.

Quando eu assumi a Perry's, dei o meu melhor e transformei a pequena rede de cinco lojas na Costa Leste em uma cadeia espalhada por todos os estados do país e três lojas internacionais. Mas eu não fiz tudo sozinho. Segui um rascunho de plano de negócios que encontrei entre as coisas do meu pai e contei com a ajuda jurídica de Jake, que é sócio majoritário de um dos maiores escritórios de advocacia de Nova Iorque. Enquanto eu tenho o sangue do comércio correndo em minhas veias, meu irmão sente o estômago embrulhar diante da mera ideia de ter que encarar esse tipo de negócio. Eu gosto de pessoas, de conversar e negociar, de trazer novidades e ouvir os funcionários. Ofereço um ambiente de trabalho sadio e com recompensas por desempenho, e gosto de ser cumprimentado pelos funcionários todos os dias quando passo pelos andares da Perry's. Meu irmão gosta da corte, de bater de frente com promotores, ganhar causas milionárias e, apesar de não atuar mais nesse campo, adora acompanhar os casos de divórcios multimilionários que chegam até o escritório que ele comanda com punho de ferro.

No momento em que eu entrei na sala dele, brandindo as anotações do velho Perry e afirmando que ele tinha a obrigação de me ajudar, Jake apenas sorriu e me mandou sentar. Meu irmão mais novo assumiu riscos junto comigo e, em tempo recorde, começamos a engolir os concorrentes e crescer exponencialmente até transformarmos a Perry's no que ela é hoje: um sucesso absoluto e a mais amada entre as mulheres.

Esses pensamentos me fazem sorrir com mais vontade, ciente de que, aos 38 anos, eu tenho quase tudo que queria na vida. E se Susan for exatamente do jeito que vem se mostrando, estou bem perto de ter o pacote completo. Abandono o copo na mesa perto da janela segundos antes do meu telefone começar a tocar e, como defini um som diferente para as chamadas dela, sinto meu coração acelerar, pois sei que é Susan.

— Chegou em casa em segurança?

— Sim, Sr. Pelado — o tom da voz é leve. — Super segura. Já estou acomodada no sofá, pronta para conversar. Como foi o seu dia?

— Como todos os dias da minha vida — falo em tom dramático e ouço sua risada suave do outro lado, o que me incentiva a continuar. — Com o agravante de ter recebido duas visitas do meu irmão em um mesmo dia.

— E isso é ruim? — Ela parece intrigada com o meu comentário. — Eu venho de uma família grande, somos três irmãs e mais alguns primos, então posso dizer que estou bastante acostumada a visitas inesperadas dos meus familiares. Crescemos todos juntos em uma tremenda algazarra em New Jersey.