Capítulo 8

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A escuridão tenra foi a primeira coisa que notou assim que abriu seus olhos, logo em seguida, o cheiro acre de ozônio invadiu seu nariz, fazendo com que espirrasse. O breu e o fétido odor eram tão familiares que Sans já sabia onde estava, mesmo que não pudesse ver um palmo a frente de seu rosto.

Com um xingamento entredentes, ele se colocou de pé e invocou um pouco de sua magia para iluminar o local a fim de não tropeçar no entulho que recobria o chão.

Estava, mais uma vez, na ala do acidente.

Sua respiração acelerou, com sua alma martelando suas costelas. O metal retorcido e enegrecido pela explosão continuava igual àquele dia fatídico. Haviam muitos cabos de alta-tensão descendo do teto feito trepadeiras grossas e se esparramando pelo chão, a maior parte danificada e com a fiação exposta. Sans decidiu não verificar se estavam ligados ou não, apenas se afastou, tomando extremo cuidado por onde passava.

Dessa vez não se encontrava tão próximo da porta como havia estado no dia anterior, e por mais que quisesse se evadir de aquele pesadelo lívido, o esqueleto se sentia fraco demais para avançar a pouca distância recorrendo apenas de sua magia.

Alphys tinha razão, ele havia extrapolado feio dessa vez.

Mas não fazia sentido. Não lembrava de ter tido nenhum pesadelo.

Uma risada muda, porém incrédula, lhe balançou os ombros.

Não havia tido nenhum pesadelo.

- Teoria refutada. – Murmurou. – Pesadelos não são o gatilho para o teleporte sonâmbulo. – Caminhou lentamente na direção da porta, desviando dos destroços como se estivesse em um campo minado. Sua mente estava a mil por hora, um pensamento se sobrepondo ao outro, uma teoria sendo formada para logo encontrar seu fim ao ser refutada. – Isso não faz sentido! – Gritou subitamente, sua voz ecoando pelo lugar de maneira espectral.

Por mais que tentasse bolar uma explicação suficientemente plausível para seus episódios noturnos, não conseguia raciocinar direito. Havia uma densa névoa encobrindo seu lado racional, impedindo-o. Culpou ao cansaço seu estado atual.

Sans grunhiu, esfregando seus olhos com o antebraço sadio visto que sua respectiva mão estava ocupada em iluminar o caminho.

- É apenas um bloqueio mental, será passageiro. – Ciciou para si mesmo. – Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Pega leve, Sansy.

Porém seu papo motivacional não pareceu surtir tanto efeito.

Finalmente ele chegou a porta. Com um gesto floreado, ele lançou o ambiente às brumas outra vez e se preparou para o teleporte, visualizando seu destino alguns metros a frente passando pela enorme placa de metal que era a escotilha pneumática.

Sans abriu os olhos, inspirou profundamente...

E parou ao ver uma luzinha verde no painel da porta.

Franzindo o cenho em estranhamento, ele tateou os botões, sentindo o relevo do número respectivo de cada um escrito em braile.

- Cinco, oito... Ah, aqui está o dois. – Resmungou, lendo com seus dedos. – Estranho, isso não deveria estar funcionando. Nenhum aparelho sobrevive um pulso eletromagnético. – Complexado, porém curioso, ele decidiu testar uma coisa.

Por um momento nada ocorreu. Então, subitamente, a escotilha se abriu lenta e dolorosamente com um guincho semelhante ao de um maquinário mal lubrificado e a luz do corredor banhou o esqueleto estupefato.

- Isso não faz sentido... – Repetiu feito uma vitrola estragada.

Seu retorno até o apartamento de Alphys foi extremamente tranquilo, nenhum amalgamado surgiu em seu caminho, e ele estava grato por isso pois não conseguiria teleportar outro ser além de si próprio por um bom tempo.

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