Capítulo 6

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Ele queria fazer isso há muito tempo.

Desde o começo, em que o garoto implicava com ele e o provocava, rindo sozinho das próprias piadas e se mantendo por perto, Lan Wangji sentia uma compulsão em prestar atenção nele, olhar em sua direção, mesmo quando não queria ou não tinha o que responder.
Todas aquelas horas de detenções - havia sido a primeira vez em que ele passava tanto tempo com alguém de sua idade e, secretamente, começou a gostar de todas as histórias que o garoto lhe contava, apesar de fingir sequer prestar atenção nelas.

Wangji era alguém curioso e sempre alimentava seus interesses o mais discretamente que podia, para que não conflituassem com as regras de sua família.
Foi o que fez com as músicas não eruditas que passou a tocar quando era tarde o suficiente para ninguém ir conferir. E foi o que fez com os livros proibidos de história que passou a ler escondido na biblioteca. Também com os livros sobre magia, bruxaria e feitiços para os quais criava capas falsas para ler por aí. Ou com os desenhos eróticos que encontrou no quarto de seu irmão por acidente e passou a tentar replicar em papéis que seriam queimados logo em seguida.

E, também, foi o que ele fez com Wei Wuxian.

Quando seu coração estremecia sob os olhos escuros, ele fingia não ver o olhar. Quando queria saber mais sobre ele, se mantinha em silêncio. Quando achava graça de uma piada, insistia na expressão vazia. Quando tinha ciúmes de seus amigos e como eles se davam tão bem, como pareciam se divertir juntos, Wangji apenas se trancava com seus livros e ignorava as risadas do grupo - inclusive a especialmente alta de Wei Wuxian.

Ele era bom em fingir até para si mesmo, arranjando boas desculpas para as reações de seu corpo e para os pensamentos constantes sobre o garoto.

Porém, ficou muito mais difícil com o passar do tempo.

Lan Wangji começou a se tornar inconsequente e menos cuidadoso - até mesmo se meteu em uma briga para defender Wei Wuxian. Seus pontos de vista se transmutaram aos poucos para entender tudo aquilo que o garoto falava e como ele via o mundo - de forma que seu tio tanto odiava.

E então teve aquele dia em que Wei Wuxian o chamou para sair com ele e seus amigos.
Ele não deveria ter ido, mas foi mesmo assim.
Era estranho e ele não sabia o que fazer no meio deles, mas Wuxian havia ferido seus sentimentos quando Wangji entendeu que o garoto só o achava tedioso e alguém de quem tinha dó o suficiente para ser caridoso, então queria provar que ele estava errado.

Os livros de Wei Wuxian o fascinaram ainda mais pelo garoto e era tanta coisa que ele queria falar, contar e discutir sobre. E Wuxian era inteligente, sempre sabia os limites de verdade que não podia ultrapassar com ele, quão perto podia chegar, e sabia como demonstrar o que pensava sem dizer isso.
Lan Wangji se arriscou por mais castigos cada vez que saiu com ele e os amigos naqueles encontros noturnos em que eles conversavam, jogavam cartas e bebiam, e ele ficava ao canto assistindo e participando aqui e ali. Mas valia a pena, independente do que Wei Wuxian ainda pensasse sobre ele.
Era a sensação mais estranha e desconhecida, mas ele se sentia bem de alguma forma naqueles encontros.

Um bem diferente do "bem" que sentia quando ele e Wei estavam sozinhos.

Ter dormido lá naquela noite, mesmo que não se lembrasse de quase nada, piorou os sonhos que tinha as vezes com o outro garoto.
Alguns eram extremamente constrangedores, puramente algo de que se ter vergonha e que deveriam ser esquecidos. Outros também lhe davam igual vergonha, mas por motivos diferentes e que o faziam se sentir estranho e confuso e o levavam a passar horas debruçado sobre os mesmos livros para tentar entender algo do que sentia.

Mas tudo isso, todo aquele ano, parecia... Havia acabado e Wei Wuxian iria embora. Então tudo aquilo simplesmente sumiria e se perderia em suas lembranças.
Era aterrorizante.

Os Dias de Hoje... (Wangxian) +18 Onde histórias criam vida. Descubra agora