Capítulo 6

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O lobo me carrega até uma casa velha com tijolos avista, a fumaça estava saindo daquela chaminé.

Ele me coloca com delicadeza no chão de madeira da sala em frente a lareira e me cobre com um cobertor de felpo.

- Isso te manterá aquecida.

Finalmente consigo vê-lo de perto e no claro, ele também está sujo, e existem muitas marcas por seu corpo.

Ele traz um cesto com toalhas brancas e um pote com água quente.

- Se limpe Cecília. - ele empurra o pote com sua pata.

Eu pego a tolha e a molho na água quente, esfrego meus braços e pernas para tirar o barro. Em seguida mergulho minha mão no pote e faço uma concha com ela para pegar água e limpar meu rosto.

O lobo pega algumas ervas e faz uma gosma verde com elas, coloca em cima do meu machucado e amarra com uma pano. Em seguida repete e amarra minha mão machucada.

Estou olhando suas marcas, elas são tão profundas.

- Por que você tem tantas marcas? - pergunto - Brigaram muito com você?

Ele fica em silêncio e termina de curar meus machucados.

- Eu sei que você fala, por favor, por que elas estão ai? - insisto.

Ele suspira e se senta em minha frente.

- Essas marcas são suas marcas. - ele diz baixo e desanimado.

Confusa pergunto por que são minhas.

- Eu sou você, só que em forma de animal. Tudo que você sente reflete em mim.

Eu o encaro com os olhos cerrados.

- Eu não sou nada parecida com você, isso não é possível. - nego.

Ele então se aproxima de mim e sinto sua respiração ofegante.

- Já nos machucamos. Basta. - ele responde - Somos parecidos Cecília, você é solitária assim como eu, gosta de andar nas sombras da vida como eu caminho, olhe para você.

- O que tem? - pergunto com o cenho franzido.

- É uma guerreira! - ele diz alto - Se está aqui hoje é porque foi corajosa demais para enfrentar os diversos perigos que a vida te deu, assim como eu. Só estamos machucados, mas ainda continuamos fortes e vivos.

Eu pego a toalha e passo em seu pelo, o lobo resmunga e se afasta com minha ação com se estivesse com medo.

- Só queria te limpar. - digo e me aproximo dele novamente - Por favor. - peço.

Dessa vez ele tranquiliza o corpo e deixa que eu o limpe, tiro a sujeira de seu pelo.

Ficamos em silêncio enquanto eu passo a toalha na pele cinza e ferida dele.

Daqui de dentro é possível escutar os trovões e raios que caem do lado de fora do bosque, confesso que estou assustada com isso, nem mesmo quando ia pular senti tanto medo.

"Queria que você estivesse aqui Leão, não quero fazer isso sozinha" - envio meu pensamento para ele.

"Existem lições que você precisa aprender sozinha, mas eu estou aqui, ao seu lado e te esperando no final do bosque!" - sua resposta é imediata e isso me conforta.

- Cecília?

O lobo me chama com sua voz rouca e grossa e isso desvia minha atenção do leão para ele, pergunto o que houve.

- Por que você queria voar?

Eu olho dentro dos seus olhos grandes e amarelos, o lobo me amedronta, mas também me conforta porque sinto que ele é o único que não irá me julgar.

O LEÃO QUE ME SALVOUOnde histórias criam vida. Descubra agora