Epílogo

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É mais um dia comum em minha vida, quando decido que devo ir até a colina olhar o pôr-do-sol, agradecer por mais um dia, poder me desconectar por um instante do barulho que tanto me cerca e que muitas vezes, ainda, me incomoda.

Sempre que chego aqui nesse bosque tiro os sapatos e deixo a grama entrar em meus pés, sinto cócegas na maioria das vezes, mas é só mais um motivo para sorrir. Sorrir é bom. 

Meus passos são silenciosos, mas logo ali à minha frente, vejo uma silhueta de uma menina, ela não é tão alta, ela é pequena, suas roupas são pretas, seu cabelo é curto e pintado, ela está a um passo de cair.

"Eu decidi fazer isso!" - eu me lembro da minha frase. 

Não quero assustá-la, então eu me aproximo devagar, ela ainda não percebeu minha presença.

- É muito alto não acha? - sussurro.

A menina se assusta e dá um passo para atrás antes de se virar.

- Quem é você? - ela me pergunta cerrando os dentes.

Sua pele é morena, e ela possui algumas sardas no rosto, seus olhos castanhos grandes combinam com parte de seu cabelo encaracolado curto, já que ele está todo pintado, eu a olho de cima a baixo e tenho certeza que ela não passa de quinze anos.

- Eu sempre venho aqui e você? - pergunto.

Ela me olha ressabiada. 

- Eu vim aqui para ir embora. - ela diz com prepotência.

Me aproximo sutilmente.

- Quer ir embora? - pergunto já sabendo a resposta, pois vejo as mesmas marcas em seu pulso.

Ela afirma com a cabeça.

- Você está me atrapalhando, eu preciso ir.

Eu me sento no mesmo lugar em que o leão sentou comigo, eu a olho e digo que o céu está bonito, o sol está indo embora e logo mais as estrelas vão aparecer para iluminar o caminho. Ela me olha confusa, mas eu a peço uma chance para conversar. Ela aceita.

Ninguém quer ir embora, ninguém quer sacrificar a própria vida para tirar a dor, as pessoas só querem alguém que as escute.

- Há um tempo eu estava aqui, vestida de branco, esperando o sol nascer. É um lugar lindo para se dizer adeus não é mesmo? 

Ela concorda com a cabeça e me escuta atentamente.

- Um lugar que traz paz, mas ao invés de usar um ponto final na minha história eu optei em usar um ponto e vírgula. - comento.

- Por que um ponto vírgula? - ela pergunta curiosa.

- Porque ele é uma pausa maior que uma vírgula, mas não é o fim da história. - eu a olho de canto - Eu estava cansada da minha dor, cansada de não me encontrar, mas foi então que alguém me salvou e hoje eu estou viva por ele, eu ia fazer igual aquela onda, me quebrar nas pedras.

- E de repente não quis?

Nego com a cabeça.

- Por quê?

- Porque viver vale a pena. - eu digo feliz.

- Viver com dor vale a pena?

Eu abro um riso tímido, pois foi exatamente essa pergunta que eu fiz ao leão.

- Morrer com dor vale mais? - pergunto - Você vai se machucar, veja humanos não tem asas para voar, eles têm pernas. Já machucou o braço?

Ela me mostra uma cicatriz.

O LEÃO QUE ME SALVOUOnde histórias criam vida. Descubra agora