Capítulo 5

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Caminhamos em silêncio por algumas horas, o leão sempre está a me vigiar como se estivesse de sentinela. Chego no topo da colina e paro para descansar por um instante, assim que levanto meu olhar vejo um vale logo a frente, uma mata fechada, com forte chuva, aquela paisagem linda e serena ficou para trás.

Parece que mudei de lugar, olho para trás e vejo o leão parado e o bosque todo florido e encantado, e assim que viro a cabeça vejo chuva e cinza.

- Este é portal? - pergunto com receio.

O leão se aproxima e encara o bosque sombrio e assustador.

- Este é o vale das sombras. - ele responde sério - O portal ainda está longe criança.

Engulo seco.

- O que é o vale das sombras? - pergunto não querendo saber da resposta.

Ele me olha com piedade.

- Só você poderá me dizer. - ele diz com tranquilidade.

Suas palavras não fazem sentido algum para mim, elas me deixam mais confusa.

- Você terá que passar pelo vale das sombras para me dizer o que ele é. - complementa.

Eu o olho com espanto.

- E vai demorar para nós passarmos por ele? - pergunto com medo.

O leão fica em silêncio, ele ignorou minha pergunta. Eu a faço novamente.

"Vai demorar para nós passarmos por ele?"

"Minha criança, somente você poderá passar pelo vale das sombras, eu não poderei te acompanhar nessa jornada" - ele responde em pensamento.

- Como assim, não vai me acompanhar? - pergunto afobada e desesperada.

Ele me pede para ter calma e que eu o escute com atenção.

- Você terá que caminhar com seus próprios pés e enfrentar os desafios do vale, não temas Cecília, eu estarei logo no final te esperando.

- Eu não quero ir sozinha! - digo alto.

- Se você quer chegar ao portal terá de passar pelo vale das sombras sozinha, mas não temas, eu estarei contigo em pensamento para que teu pé não tropece em pedra alguma, não precisa ter medo.

Foi a minha vez de ficar em silêncio.

- Infelizmente eu não poderei te acompanhar porque o vale é um caminho que somente o viajante pode fazer, você encontrará escuridão, gritos, e sentirá medo, só que eu estarei contigo em pensamento.

- Você não pode me deixar assim Leão, e se algum bicho me atacar? - pergunto cerrando os punhos.

- Eu te ataquei? O rei da floresta, te atacou? - ele me pergunta e me olha fixamente.

Nego com a cabeça.

- Então nenhum outro animal irá te atacar. O caminho pode não trazer boas lembranças, mas se lembre do que a borboleta te disse, do que a água e a tartaruga te ensinaram, você aprendeu coisas importantes com eles e conseguirá sair dali com a ajuda de mais um animal.

"Qual animal?" - penso.

"Aquele que te perseguir" - ele responde.

Eu me afasto dele e vejo seu olhar de piedade.

- Eu não vou. Podemos voltar para o abismo, eu não quero passar por isso. 

Eu me viro e ele começa a falar.

- Você não teve medo de pular, mas está com medo da chuva e da mata fechada?

- É diferente... Eu... - fico em silêncio novamente.

O LEÃO QUE ME SALVOUOnde histórias criam vida. Descubra agora