Gucci's Boy - Kim Taehyung

❀ seven | no escurinho é mais gostoso

Boa leitura!

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Uma vez minha mãe me disse que coisas acontecem por um motivo maior, motivos que provavelmente não compreenderemos naquele momento, mas que nos servirá de lição posteriormente. Desde uma grande e repentina perda... Como também esquecer de descer o frango da geladeira, colocar ele no micro-ondas, esquecer de pôr um prato por baixo, a água escorrer, entrar em contato com a parte elétrica e estragar tudo. E essa era uma lição que eu não gostaria de ter aprendido.

Meu micro-ondas... Sim, eu perdi meu micro-ondas... Em pleno meio de semana...

Aí, agora, eu me encontrava nessa péssima situação de quase ferrar com a parte elétrica da minha casa e precisar pedir comida em restaurante. Eu poderia ligar na casa da Soso? Poderia, sim, mas hoje coincidentemente é dia de folga da mãe dela, e tá pra nascer uma senhora que me odeie mais do que a senhora Jinae. Não que eu deitasse para a fera, mas hoje eu me daria uma folga de olhares tortos. Bastava o luto pelo meu Arnaldinho.

Sim, meu micro-ondas tem nome. Deixe-me ter meus momentos de insanidade.

Bastava hoje. Só hoje. Só mais um dia deprimente tendo que gastar dinheiro sendo pobre.

Havia um restaurante perto da minha casa, mas que por algum motivo desconhecido eu nunca pedi ou fui lá, talvez pelo costume mesmo. Soso já tinha me falado dele algumas vezes e realmente parecia ser de uma procedência decente. Mas, apesar de tudo isso, eu decidi que não valia a pena o valor base de entrega – acabei de me entregar na pobreza – e fui eu mesma ao restaurante a duas ruas da minha casa, na canelinha, ver quanto custava uma humilde quentinha para matar minha fome.

Esquecendo um pouco das desgraças, me permiti observar a noite. A cidade de Seul era magnificamente mais linda sob a lua. Eram tantas luzes de tantas cores, que se eu fosse astigmática, todas elas se misturariam em uma grande e colorida tela abstrata – e provavelmente meus olhos doeriam com o excesso de brilho. Era incrível... Era incrível que eu estivesse aqui, do outro lado do mundo, vivendo uma vida que, mesmo tendo imaginado muito, nunca se aproximaria do que eu realmente vivia. Eram tantas oportunidades ao mesmo tempo que eu não conseguia focar no que fazer! É ingênuo, eu sei, mas me sentia capaz de conquistar o mundo, de ter tudo o que gostaria, de provar o meu valor e mostrar minha arte para quem quisesse ver.

Mesmo que, agora, eu estivesse indo comprar comida de restaurante enquanto me lembrava do meu querido Arnaldinho que nunca mais voltaria a fazer "pi-pi-pi" quando meu frango terminasse de descongelar. Mas isso ficará no passado, um dia eu serei tão rica e famosa que vou poder descongelar todos os tipos de frangos em todos os micro-ondas que eu quiser – poderia dizer Arnaldinhos, mas o meu era único, especial, nunca será substituído.

Minhas andanças não passaram de dez minutos – mas para alguém sedentária como eu, pareciam horas e horas de maratona – quando me deparei com a fachada do restaurante. Uma beleza e uma decepção. Era meio caro, as opções não eram tão boas pelo preço. E poucas eram sem pimenta. Fiquei tentada a chorar em posição fetal bem na frente do dono do lugar para traumatizar ele – ou pelo menos das câmeras para ele poder assistir sempre que estivesse triste –, contudo, preferi só postar minha indignação no Twitter em forma de um texto de mais de cento e quarenta caracteres, o que dá umas duas páginas de fio.

"É um absurdo! Eu como uma moça brasileira não aceito essa humilhação!!!!! Será que não tem outro tempero nessa cidade que não seja pimenta? Além da tristeza de perder um micro-ondas, acabei de sair de um restaurante e, sinceramente... Todo dia isso! Cadê o orégano, a páprica, o alecrim, o cheiro-verde, o urucum, o louro (não o josé, te amo anamaria) o manjericão e a salsinha? PIMENTA NÃO É TUDO! E a representatividade para nós pessoas de paladar adocicado, hein?? HEIN??????! ATÉ QUANDO NÃO SEREMOS INCLUSAS HEIN"