Sabe aquela sensação de paz que você sente ao estar com alguém ou estar em algum lugar tranquilo? Aquela sensação de leveza e quietação dentro de você que você não sabe explicar de onde vem ou por qual motivo está ali, mas que é extremamente reconfortante e tranquilizador? Sem negócios. Sem ligações. Sem problemas. Sem caos. Apenas você e você. Naquela noite era apenas o Alan. O Alan que não precisava ser profissional ou falar de documentos perto de Kaipa, a menos que o próprio quisesse ouvir. Naquela noite o mais baixo também não precisava pensar nas coisas que apertavam seu peito.
— Quem você disse que ia ganhar? — perguntou Kaipa enquanto mexia nos cabelos que estavam em sua testa.
— Você roubou, baixinho!
— Eu? — perguntou com sua voz baixa e cara de desentendido — Você me chama de baixinho, mas eu sou mais velho que você. — sorriu, vitorioso.
— Não precisa me lembrar disso. Vamos para casa. — disse Alan, suspirando e controlando a risada, mas sem deixar de sorrir.
— Eu não imaginei que você fosse assim. Tipo, a pessoa que corre na chuva e não que corre da chuva. — começou enquanto aquecia as mãos no ar-condicionado — Você parece ser uma pessoa que abre o guarda-chuva e não se molha.
— Não se deixe levar pelo que vê de mim, Kaipa, ou pelo que vê na minha forma externa. — ele sorriu.
Uma música ao som de um violão estava sendo tocada no rádio e do lado de fora do carro acontecia uma tempestade grande e barulhenta. O caminho da casa de Kaipa era um pouco mais longe do percurso que Alan precisava fazer para chegar até lá, mas mesmo que ele não se importasse com quanto tempo levaria para deixar o mais novo em casa, o trânsito daquela madrugada estava enorme por conta do feriado do dia seguinte.
— Me desculpa, se não tivesse que me deixar em casa não precisaria passar por todo esse trânsito pra só assim voltar pra casa. — disse Kaipa enquanto olhava o trânsito a sua frente e mexia nas mãos sem parar. A sensação de estar incomodando Alan surgiu ali e mais uma vez o bancário o tranquilizou dizendo que estava tudo bem e que não se importava em esperar alguns minutos, mas logo esses minutos viraram uma hora e o carro de Alan não havia avançado muito desde que havia entrado na estrada. Ele não ligou de ficar estagnado no mesmo lugar por quase 2 horas, pois estar perto de Kaipa tornava as coisas mais leves e uma chuva caótica (que normalmente se estivesse sozinho seria ruim) se transformar numa das coisas mais belas que ele poderia ver estando acompanhado por alguém como o baixinho.
— Eu posso pegar o retorno de volta para casa e você pode passar essa noite lá. Se não se importar, claro.
Alan sugeriu e o mais novo concordou sem hesitar. Afinal, já se passavam das 1hr da manhã e ambos estavam cansados demais para esperar muito mais tempo. A chuva ainda estava forte e o trânsito continuava do mesmo jeito, mas o bancário conseguiu retornar para sua casa, que também havia sido afetada pela falta de luz.
— Eu vou arrumar algumas roupas para você tomar banho e passar à noite aqui.
Alan e Kaipa estavam inteiramente molhados e seus cabelos pingavam e escorriam em suas testas. Depois de entregar algumas de suas roupas para o mais baixo, o mesmo foi diretamente para o banheiro e o bancário permaneceu no quarto enquanto arrumava a cama para Kaipa e colocava em cima dela lençóis e travesseiros novos. Sua ideia naquela noite era que o mais novo dormisse bem e ficasse quente, pois fazia bastante frio. Bom, e ele? Ele provavelmente passaria mais algumas horas em seu escritório adiantando alguns trabalhos antes de finalmente ir dormir mesmo que não trabalhasse no dia seguinte. Aquela noite ele passaria no sofá de sua sala enquanto Kaipa poderia dormir em seu quarto, mas isso não era um problema para ele, como nada havia sido desde o início da noite. Alan, por vezes se lembrava que fazia algum tempo que não se importava tanto com alguém desde a partida e separação de Wen, mas algo estava diferente dessa vez, como o brilho em seus olhos, ele voltou...
Enquanto Kaipa terminava seu banho, Alan aproveitava para separar suas próprias roupas e separou uma nova escova de dentes para Kaipa. O tempo em que o mais novo demorou no banho foi o suficiente para Alan preparar algo para ele comer e também organizar suas coisas no sofá. À noite era frequentemente iluminada pelos relâmpagos e Alan passou a gostar de ter sua sala iluminada pelos clarões do céu.
Depois que o menor saiu do banheiro, Alan entrou para finalmente tomar banho e tirar aquelas roupas molhadas e pesadas de seu corpo. Tinha sido uma noite incrível, mas cansativa para ambos e ele não gostava da sensação de ter coisas pesadas em seu corpo. Enquanto estava no banho, Kaipa estava sentado na cama secando seus cabelos com uma toalha dada pelo bancário e também estava observando ao redor. Alan tinha incontáveis livros em sua estante e na mesa do computador, mas eram livros usados para trabalho e não para diversão. O quarto estava iluminado apenas pela luz fraca de um pequeno abajur movido a pilhas e vez ou outra era iluminado pela luz dos relâmpagos que atravessavam as cortinas do quarto.
Kaipa estava de costas para o banheiro enquanto olhava os relâmpagos constantes no céu atráves de uma fresta na cortina e quando Alan destrancou a porta ele pulou de susto e virou para olhá-lo. O órgão dentro do seu peito batia acelerado ele levou as mãos até o lugar, tentando se acalmar e se convencer que foi apenas um susto.
— Te assustei? — perguntou, tão risonho e tão bobo. O bancário estava tão lindo aos olhos de Kaipa. Seu cabelo estava molhado e bagunçado depois que ele o sacudiu com os dedos, porém o mais novo logo desviou os olhos para não deixar tão aparente que ele o admirava. Ele vestia uma camisa branca e ela o deixava tão... bonito... — Você já comeu? — perguntou enquanto colocava um perfume doce e Kaipa negou. Logo depois, ambos se dirigiram para a cozinha com as lanternas de seus celulares e depois do jantar voltaram para a sala.
Alan havia preparado ovos com bacon para o baixinho e sendo bem sincera, na perspectiva de Kaipa era melhor que as comidas do tio Jim. Talvez por ser uma pessoa diferente que a preparou. As vezes tendemos a enjoar de nossas próprias comidas e das comidas feitas por pessoas próximas a nós, mas aquele jantar estava esplêndido, tão bom e tão leve... Uma companhia incrível e um tempo majestoso.
— Eu agradeço pela paciência e por me deixar ficar. — disse ao sentar no sofá.
— Você vai ficar no quarto. Que tipo de pessoa eu seria se deixasse você dormir na sala? — disse, sorrindo brincalhão.
— Espera, você vai dormir aqui?! — perguntou Kaipa para Alan que apenas assentiu, porém o menor nunca deixaria isso acontecer e então continuou — A casa é sua, é claro, mas eu não vou deixar que você durma aqui esta noite enquanto eu durmo na sua cama. Está frio. — disse-lhe por fim.
— Está tudo bem, Kaipa, de verdade. Você pode dormir no meu quarto. Não é tão frio pra mim.
— Vamos fazer assim, você divide a cama comigo, ou eu divido o sofá com você. Qual vai ser? Mas o sofá é meio estreito, posso dormir na beira, não ocupo tanto espaço. Mas se você vier para o meu lado eu...
— Huh! Tudo bem! — disse Alan, depressa, aceitando que perdeu para o mais baixo pela segunda vez aquela noite; ele sorriu vitorioso — A gente dorme na cama. Feliz agora?
— Sim. — sorriu — Muito feliz. — ele brincou.
Alan guardou de volta os lençóis que estavam no sofá e quando o menor se deitou ele avisou que ficaria mais alguns minutos em seu escritório e ele poderia se sentir em casa. Também poderia acompanhá-lo, caso quisesse, mas Kaipa estava cansado demais para aceitar o convite de acompanhá-lo e ver como funciona seu trabalho, então achou melhor deixá-lo sozinho. Sentado na cadeira que estava voltada para a janela de seu escritório, Alan via a chuva cair lá fora e escorrer pelo vidro. Tudo isso acontecia enquanto ele se perdia em seus pensamentos.
Pouco tempo depois a luz voltou a funcionar e chamou a atenção de Alan, que a olhou e se libertou daquela prisão torturante na qual ele já estava há alguns minutos, mas que pareciam anos. Já havia se passado uma hora desde que ele sentou-se para trabalhar, mas não o fez, então lembrou do garoto que dormia em seu quarto e levantou para apagar a luz do cômodo.

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It's You
Fanfiction"Nós nos encontramos no nosso pior momento, e você se tornou o que eu procurei por tanto tempo na pessoa errada. Você se tornou oque eu não quero que seja apenas o meu melhor momento, eu quero que você seja a melhor parte da minha vida." Obs: Essa...