Capítulo 02

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Os olhos de Alan brilhavam muito aquela noite e era tão lindo de vê-los. Uma verdadeira obra de arte viva.

— Você fica muito bem sem seus óculos, da para te olhar diretamente nos olhos... — com o comentário de Kaipa, Alan sorriu e as bochechas do outro coraram. Ele sentiu sua pele arder por dentro como brasa enquanto o bancário o olhava com um sorriso divertido e incrivelmente belo e bobo nos lábios. Isso faria com que qualquer pessoa sorrisse junto à ele. — Quero dizer — tentou se explicar —, pessoas podem conversar olhando diretamente nos seus olhos, isso pode ser uma coisa boa. Acho que pode te ajudar a se sentir mais confiante. Não que você precise disso e também não estou dizendo que você não se sente confiante! Deus... Me desculpe, eu estou complicando ainda mais as coisas...

Kaipa estava nervoso demais com seu comentário sobre os olhos de Alan e temia que isso o assustasse, mas não o fez. O bancário desde o início da noite tinha os olhos leves e calmos e todos os jeitos possíveis que uma pessoa pode ter para sorrir, Alan tinha todos eles e sorriu durante à noite toda.
Sorrisos tímidos. Calmos. Bobos. Incríveis. Tranquilizadores. Exagerados. Do mais largo ao mais tímido. Sorrisos esses que conseguiam acalmar todo o caos que o mais baixo sentia por dentro.

— Kaipa — a voz de Alan era suave e baixa, mas passava confiança e tranquilidade para Kaipa que se sentia cada vez menos envergonhado —, eu entendi. Não se preocupe.

— Eu também não quero que pense que chamei você para dar uma volta porque estou interessado no cartão que o meu amigo falou, eu não sou assim.

— Kaipa — chamou —, tá tudo bem, mesmo. — sorriu — Eu sei que ele não falou sério. Não pense muito.

A voz calma e paciente de Alan fez o coração de Kaipa desacelerar e suas bochechas aos poucos foram voltando a tonalidade normal.
Ambos sentiam uma paz inexplicável dentro de si. Parecia que há muito tempo estava acontecendo uma guerra interminável ali dentro, mas que aos poucos parecia finalmente acabar. Naquela noite não parecia haver outro lugar além daquele lago. Não parecia haver outras pessoas além deles dois no mundo inteiro. No momento em que aqueles dois universos perdidos e distantes se encontraram, pareceram unir-se e virarem um só como o nascimento de uma nova galáxia. Nem mesmo o céu com tudo que ele tinha naquela noite ou em qualquer outra seria capaz de superar aqueles olhos e aquele brilho que estava preso dentro de olhares tão inocentes e puros.

"Eu poderia te pedir uma coisa? Por favor, não olhe assim para mais ninguém...
Não dê a outra pessoa o privilégio de olhar tão de perto esses teus olhos. Este universo que você tem eu gostaria que só pertencesse à mim..."
"Eu preciso de você e do brilho dos teus olhos para me tirar do escuro. Preciso do brilho em teus olhos para iluminar meus olhos opacos. Eu preciso do único universo que se um dia explodir não vai me causar dano algum, e preciso que esse universo tenha como único motivo de explosão o encontro com o meu universo. É você, Alan, desde sempre deveria ter sido você..."

A conversa entre Alan e Kaipa aquela noite fluía de forma leve e descontraída. Ambos se sentiam confortáveis com o outro, tão confortáveis que não viram a hora passar e o quão escuro estava ao redor. Agora de fato só haviam eles dois ali. Só haviam duas respirações em ritmos diferentes, seus batimentos cardíacos que pareciam estar em sintonia, só eles. "Inexplicável", essa é a palavra certa que pode definir os sentimentos de Kaipa naquela noite. Era algo inexplicável, mas bom. Que causaria medo a alguém inexperiente em relação ao amor, mas era bom. Algo que ele nunca sentiu antes, algo novo. Algo que nem quando achou estar perdidamente apaixonado por Jim, sentiu-se daquela forma. Percebendo o silêncio que os cercava, Alan olhou para o relógio em seu pulso e arqueou as sobrancelhas, surpreendido pelo tempo que passou despercebido.

— Nossa, é bem tarde. — mencionou Alan com mais um de seus pequenos sorrisos ladinos e voltou a falar — Não vimos o tempo passar. Eu estou de carro, vou te deixar em casa antes que o Jim pense que te sequestrei. — riu, fazendo com que o mais baixo sorrisse junto à ele.

— Ele deve estar feliz por se livrar de mim.

— Quem em sã consciência ficaria feliz por se livrar de você? Eu realmente ficaria por longas horas aqui, mas já é tarde para você.

Kaipa sorriu tímido e logo os dois levantaram-se do banco, mas, sem que eles esperassem, um estrondoso som surgiu no céu, fazendo com que ambos levantassem seus olhos para encarar aquela escuridão acima deles, mas tudo logo se iluminou com o clarão que ao se apagar, levou junto consigo as luzes da cidade. Pingos de chuva pesados começaram a cair aos poucos e os dois recuaram um pouco para trás, abrigando-se na árvore para não se molharem.

— Corrida até o carro? — Alan falou enquanto olhava o céu. No momento em que ele se virou para encarar o menor ele também o olhou e mais uma vez naquela mesma noite seus olhares se cruzaram e dois sorrisos bobos surgiram ali.

— Corrida até o carro? — ambos voltaram a encarar o céu e Alan retirou seus óculos, fazendo com que Kaipa o olhasse — Quem você acha que vai ganhar?

— Não vai ser você. — Alan sorriu e guardou os óculos — Um, dois... — antes que Alan chegasse ao três, Kaipa saiu correndo no meio da chuva e o bancário saiu do amparo da árvore, escondendo a pasta de documentos abaixo de seu braço e seguindo-o. — Eu não terminei, Kaipa...

As palavras saiam em meio as risadas descontroladas enquanto Alan tinha sua mão levantada sobre a cabeça para proteger seus olhos da chuva e conseguir alcançar o mais baixo.

— Vai molhar todo seu carro! — alarmou ao chegar mais perto.

— Isso não importa agora!

Quando estavam a poucos passos do carro, Alan o destravou e os dois saltaram para dentro enquanto risadas contagiosas ainda saiam de forma divertida. Naquela noite chuvosa Alan estava sendo apenas Alan. Apenas ele... Foi algo diferente para Kaipa, já que ele não imaginava poder conhecer outro lado do mais novo, um lado mais alegre e animado, um lado mais... criança. O jeito tão sério que ele demonstrava ao vestir seus ternos passava uma visão totalmente diferente do que realmente era.

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