Capítulo 01

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Naquela mesma noite, com o passar devagar dos minutos o céu escurecia cada vez mais e as pessoas começavam a chegar e ocupar as mesas vazias do restaurante do Tio Jim. Elas buscavam um bom lugar para comer. Um lugar calmo e tranquilo.

— Acho que eu vou primeiro, estou ocupando o lugar de outras pessoas e talvez já tenhamos terminado aqui. — disse Alan, sorrindo enquanto levantava da cadeira e colocava sobre a mesa o dinheiro que pagaria por sua refeição daquela noite — Eu tenho o seu número, posso procurá-lo caso precise de mais alguma coisa?

— Você pode me ligar, caso precise de alguma coisa. — começou — Alan, tio Jim não vai aceitar seu dinheiro. Ele te convidou para comer com a gente porque queria que você ficasse, não por esperar que você pagasse por isso. — Kaipa também levantou e, com um sorriso estreito no canto dos lábios, devolveu gentilmente o dinheiro para Alan, que hesitou para aceitar. — Por favor, pega seu dinheiro de volta, eu insisto.

Alan ainda estava relutando para que ele ficasse com o dinheiro e o entregasse para o Jim, mas Kaipa não o fez e abriu sua mão para ali colocar a nota de papel. Sua mão era tão quente e macia, que quando as mesmas entraram em contato com a outra geraram em ambos uma pequena corrente de eletricidade, corrente essa que pode ser facilmente comparada ao choque que recebemos quando esfregamos o pé no carpete e tocamos em uma maçaneta ou outro objeto de metal.

Outras pessoas teriam o instinto natural de reagirem ao choque, puxando assim sua mão de volta, mas Alan e Kaipa não as puxaram e, das mãos, seus olhares oscilaram entre as mesmas e seus olhos, lugar onde pararam e se encontraram por poucos segundos. Eles não queriam desviá-los, ou talvez não conseguissem. Por alguma razão desconhecida, naquele momento seus olhos não pareciam carregar simples estrelas brilhantes, mas carregavam ali universos inteiros que ardiam em plena explosão de brilho.
Seus lábios que estavam curvados em dois calorosos e pequenos sorrisos, aos poucos foram se desfazendo quando ambos olhares miraram os lábios um do outro.

— Me desculpe por isso, senhor Gaipa, e tudo bem, eu aceito de volta. Mas pagarei por tudo numa próxima vez. — sorriu tímido.

Alan desfez o toque de suas mãos e colocou o dinheiro de volta na carteira. Com o recuo do bancário, Kaipa foi obrigado a voltar para o universo real, aquele que estava fora dos olhos de Alan. Enquanto o via juntar seus documentos que estavam em cima da mesa, Kaipa sentiu uma vontade incontrolável crescer dentro de si, vontade essa de chamar o bancário para uma volta ao redor do lago e ver o quão lindo ele fica sob a luz do luar.
Seu corpo estava ardendo como se estivesse complemente aceso em chamas ou estivesse queimando por uma febre muito alta, mas era algo novo... Algo dentro dele gritava e ansiava por alguma coisa. Por dentro de seu corpo parecia acontecer um terremoto de alta magnitude, pois ele sentia seu corpo inteiro estremecer.

— E-eu...

Com as palavras saindo de sua boca de forma insegura, o mais velho gaguejou e o resto da frase sumiu antes de se formar em sua garganta. Kaipa quase desistiu do que em minutos antes estava determinado a fazer. Esses minutos de adrenalina e coragem pareciam aos poucos acabar. Ao ouvir a voz insegura e trêmula de Kaipa, o bancário tirou os olhos dos documentos e o encarou, assim percebendo sua insegurança e timidez e, com um pequeno sorriso surgindo no canto da boca, ele esperou pacientemente pelo resto da frase. Felizmente ou infelizmente, ninguém tem o dom de ler mentes ou saber os desejos de outras pessoas, mas, naquele momento, os pensamentos do bancário e do mais baixo eram iguais.

— Eu posso te levar para dar uma volta?

As palavras que haviam sumido pouco antes, agora estavam ali e pairavam no ar enquanto Alan sorria e o olhava com os olhos brilhantes e risonhos que foram afetados pelo seu sorriso de orelha a orelha.

— Sim — a voz calma e risonha do bancário aos poucos foi apagando as chamas que Kaipa sentia queimar dentro de si e seus tremores internos e inquietantes também cessaram —, você pode me levar para dar uma volta, senhor Gaipa. — disse sorrindo ainda mais.

— Por favor, me chame apenas de Gaipa. — sorriu — Não precisa ser tão formal comigo. Eu vou esperar que você guarde todos esses papéis, enquanto isso vou falar com o tio Jim.

Alan concordou, ainda sorrindo bobo para os papéis em cima da mesa e Gaipa caminhou depressa até o Jim para avisa-lo sobre sua saída, porém voltou ainda mais depressa para se juntar ao bancário afim de não deixá-lo esperando por muito tempo.

— Podemos ir?

O bancário acabará de guardar os documentos do seu cliente em uma pasta transparente e logo concordou em ir caminhar com ele. À noite estava deslumbrante aquele dia e a luz da lua cheia iluminava o lago e as partes em que as luzes dos postes não alcançavam direito. O céu estava aceso com milhares de pequenos pontos brilhantes que o iluminavam.
O bancário e o mais baixo caminhavam tranquilamente em passos despreocupados e descansados, e com apenas alguns minutos de caminhada, Alan e Gaipa sentaram-se num dos bancos abaixo de uma árvore enorme que estava de frente para o lago.

A lua refletia na água e nos óculos de Alan todas as vezes que ele a mirava. Os olhos de Kaipa brilhavam como se metade das estrelas do céu acima de suas cabeças estivessem ali em uma explosão de brilho. Isso porque seus olhos estavam percorrendo os traços e as feições delicadas do rosto do bancário enquanto ele fitava o lago e falava sobre alguma coisa, mas Kaipa não estava prestando atenção, foi quando ele foi pego de surpresa por aqueles lindos olhos castanho-escuros que agora também o encaravam.

O silêncio pairava no ar enquanto seus olhos se cruzavam e criavam ali um novo universo — um universo só deles. Com toda delicadeza e cautela precisa para segurar uma borboleta em seus dedos, Kaipa tocou as hastes dos óculos de Alan, que não recuou e deixou que o mais novo retirasse.

— Eles não estão deixando que eu veja seus olhos, estão refletindo a luz da lua. — disse em tom inocente.

O bancário ainda mantinha seus olhos fixos nos do mais novo e aquele pequeno e travesso sorriso surgiu sem que Alan o percebesse a tempo de contê-lo.

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