Jack - Fromista, Espanha. Noite do dia 14 de Janeiro.

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O tempo sozinho no banheiro, não foi suficiente para Jack absorver tudo o que acontecera em tão poucas horas. Depois de passar dez minutos se olhando no espelho e colocando água no rosto, ainda não conseguia assimilar o fato de estar na Espanha.

Até aquele dia, ele nunca tinha saído do país, e em pouco mais de vinte e quatro horas: já tinha ido a dois continentes, voando com seres alados imortais, que estavam petrificados desde a pré-história, junto a uma Balança, que Jack havia roubado, para um ser encapuzado, que a destruiu, garantiu o fim do mundo, e trouxe os seres imortais de volta à vida. — UFA! — Não era pouca coisa.

Mesmo assim, a maior dúvida de Jack era se ele estava sob efeito de alguma substância, se tinha morrido, ou se era simplesmente louco, por acreditar que aquilo tudo era verdade. Porque, apesar de não fazer sentido, no fundo da alma dele, Jack podia sentir que era real.

Era aquela mesma sensação depois de um sonho vívido. Você até pode ter dúvidas, quanto aos seus sonhos serem, ou não, verdade, mas não há ressalvas quanto a realidade. Você não tem dúvidas que a realidade é real. Embora o fato de ser real, fizesse ainda menos sentido.

A comida saborosa o ajudou a se distrair um pouco, dessa situação absurda em que estava. Também era bom estar na companhia de Hanya, ela era muito mais próxima de um humano do que Zion e Luma, apesar de ser uma Nistarim, o que quer que aquilo significasse. Durante todo o trajeto, ela tinha sido muito prestativa e atenciosa, explicando pontos turísticos e contando curiosidades sobre os lugares que passavam. Ela havia explicado todos os ingredientes da comida que pediram, enquanto Jack saboreava o prato.

A garota parecia um computador ambulante, e toda aquela informação e aconchego, já estavam fazendo com que ele se esquecesse da bizarrice de todo o resto. Isso, só até Zion e Luma voltarem a discutir sobre poderes paranormais, e trazerem de volta a confusão para a cabeça de Jack.

Procurando espairecer a mente, ele foi até o balcão para pagar a conta. Irônico como o dinheiro que estava ajudando eles a salvar o mundo, fora dado pelo homem que o destruiu.

Jack estava pensando nisso, enquanto caminhava, quando percebeu que não havia ninguém para atendê-lo. Mas, ao virar para procurar a senhorinha gentil, que havia os abordado, sua visão escureceu. Logo depois, seu corpo todo foi tomado por uma vertigem, digna das suas ressacas mais cruéis.

Levou um tempo até sua visão retornar, e, com ela, uma vaga lembrança de atravessar cortinas de miçangas, até um pequeno depósito, com várias prateleiras e uma porta simples de madeira. Jack não lembrava de caminhar por esses cômodos, também não sabia como havia parado ali.

A porta deu lugar a um cômodo simples, porém bonito, com sofás marrons, sobre um tapete amarelo queimado, em frente a uma ladeira de pedras escuras. No fundo, havia também uma pequena cozinha branca, com azulejos azuis, e com uma mesa de jantar de mogno antigo. Entre a mesa e um dos sofás havia um corredor escuro. O cômodo não tinha janelas.

Tudo parecia perfeito, exceto pelo fato de Jack estar amarrado e amordaçado agora, em uma das cadeiras da mesa. Ele tentava falar, mas saiam apenas resmungos de sua boca. Olhando em volta apavorado, percebeu que a porta de madeira se abriu, alguns minutos depois, para o alívio de Jack, foi Luma, Zion e Hanya que entraram por ela.

Mas, para a infelicidade dele, antes que pudessem fazer algo, a senhora que havia lhes atendido, momentos antes, também entrou no cômodo, vindo do corredor.

Ela estava limpando as mãos em seu avental, e congelou ao vê-los de pé na sala. O olhar da mulher acompanhou o deles até Jack, e levou apenas um segundo para entender o que estava acontecendo. Seu rosto, depois do susto, assumiu uma expressão de resignação completa.

Celestiais - A Pedra, a Lança e o SeloOnde histórias criam vida. Descubra agora