Capitulo 9

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Meus pais estavam brigando, de novo.

O cara de terno estava lá na sala e assim que ele chegou, minha mãe me mandou subir e eu não poderia sair do quarto até que ela mandasse.

Uma sensação ruim invade meu estômago e eu ando de um lado para o outro dentro do quarto. Inquieta. Não consegui me concentrar pra pintar, e as vozes altas abafam todo o meu desenho. Eu quero saber o que está acontecendo.

O cara tem aparecido mais vezes. Ele é legal comigo, sempre me trás algo gostoso. Mas ele não vinha com tanta frequência antes. Semana passada encontramos ele no parque quando meu pai me levou pra pedalar, mas pareceu que meu pai não gostou nada daquilo.

- Ei! - Me assusto quando vejo Filipe escalando a janela.

- O que você tá fazendo? - Apresso os passos em sua direção e o puxo para dentro do quarto.

O corpo magro se esparrama no chão a minha frente, mas lá está o sorriso perverso.

- Eu toquei a campainha mas ninguém atendeu, daí eu entrei. - Ele diz enquanto se levanta e senta na poltrona próxima a cama.

- Se meu pai te ver aqui ele te mata! - Respirei fundo e levei a mão na boca, ainda inquieta.

- Tá acontecendo de novo né? - Concordo com a cabeça. - Eu vi aquele cara saindo do carro, mo carrão. Mas ele tem aparecido mais vezes, né?

- Meu pai disse que eles são amigos, deve ser por isso. - A voz da minha mãe soa alto. - Mas sempre que ele aparece, eles brigam. - Puxo o ar com força.

Minhas mãos começam a tremer e eu sinto aquilo de novo. A sensação de estar sufocada, como se nada passasse mais na minha cabeça além de: sobreviva. 

- Ei, ei! - A voz do Filipe ecoa mais longe do que antes. - Se acalma, eu tô aqui. - Puxo o ar com força.

É como se de repente eu fosse sugada para algum lugar. Escuro, frio. Por mais que eu tente, não sinto meu corpo, apenas a falta do ar. Não consigo pensar e nem me trazer para a realidade. Me sinto perdida.

- Respira comigo. - Seus braços me envolvem e sinto seu peito subir e descer devagar.

Uma vez.

Duas vezes.

Seu braço me aperta com mais força. E aos poucos meu corpo reage para segui-lo. O ar que antes me faltava, vai enchendo meus pulmões aos poucos. Meu corpo, que eu nem havia percebido o quanto estava tenso, relaxa até que minha cabeça cai no ombro de Filipe.

- Isso, assim! - Consigo ouvir o barulho da minha respiração agora.

- Agora me solta, se não vou te bater. - Brinco, me sentindo um pouco desconfortável ao perceber que eu estava enlaçada nele.

- Isso é uma ameaça? -  Uma risada escapa de sua boca e então ele se afasta com as mãos erguidas.

- Entenda como quiser. - Semicerro os olhos em sua direção.

Ele poderia ficar mais,

estava bom.

Me apoio na pia a minha frente e me encaro no espelho. Molho as mãos na água e passo na minha nuca e em seguida na testa, tentando fazer meu corpo reagir.

Meu estômago embrulha e sinto o líquido subir a garganta novamente, me obrigando a voltar ao chão e vomitar tudo dentro da privada.

- Merda! - Resmungo pra mim mesma.

Não deve ser mais do que cinco da manhã, acordei assustada, suada e com arrepios ao mesmo tempo. Essa é a terceira vez que acontece essa semana, e eu não faço ideia de que porra tá acontecendo. Eu só quero que pare,

preciso que pare.

Ouço duas batidas na porta e meu corpo reage ao susto. A não ser que seja uma emergência, ninguém bate na porra da porta, principalmente essa hora da manhã.

Me levanto do chão e pego a toalha no gancho para limpar a boca e as mãos que ainda estão molhadas. Saio do banheiro e puxo um short que está em cima da cômoda para vestir antes de abrir a porta.

- Meu Deus, o que você quer? - Ret está de pé do outro lado da porta. Arrumado, como de manhã, mas agora com outra roupa. Como se tivesse passado a porra da madrugada inteira acordado.

Ele tem problema?

Ele extende uma sacola em minha direção e eu o olho confusa. Sua expressão permanece indecifrável e imparcial como sempre.

- Que porra é essa? - Digo ao abrir a sacola e ver dois testes de gravidez e duas caixas de remédios. - Você tem algum problema? - Balanço a sacola e estico em sua direção novamente.

- Você vomitou a noite toda. - Ele engole seco e trava o maxilar. - A mulher da farmácia disse que essas paradas aí vão diminuir o enjoo, e o outro é pra tu dormir suave.

- Você colocou alguma câmera no meu quarto? - Olho em volta desconfiada, mas sabia que não. Qualquer um que entrasse no meu quarto sem a minha permissão, eu saberia no mesmo segundo.

Ele sorri sem mostrar os dentes e relaxa a expressão por um segundo, e então dispara corredor a dentro me deixando sozinha novamente.

La Máfia com Filipe Ret • By ToryOnde histórias criam vida. Descubra agora