Capitulo 11

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P.O.V Gabriela

Minha mente nébula e todos os meus pensamentos embaralham. A adversária a minha frente é o menor dos meus problemas, eu só preciso que pare. As vozes deles ecoam no meu ouvido e os questionamentos retornam a mesma tortura.

Como foi?

Eles resistiram?

Ela estava grávida porra!

O tiro ecoa

O barulho do projétil caindo no chão...

Tudo o que posso sentir é a minha unha tentando perfurar a luva, cada vez que eu faço ainda mais força. Não sinto mais o meu corpo, e também não consigo me situar. Na minha mente apenas lembranças e caos. Meu passado me sufoca, me assombra e me corrói por dentro a cada segundo em que eu respiro.

Dói, dói muito e eu não sei como parar.

- Ei, ei, ei! - Ouço a voz do cara e pisco algumas vezes até me situar novamente.

- Você tá maluca porra? - Balanço a cabeça e encaro a garota a minha frente, o nariz jorrando sangue e muito provavelmente fora do lugar também. - Que porra de treino é esse Beto? Essa maluca ia me matar!

Dou dois passos pra trás e sinto o ar faltar. Tiro rapidamente as luvas e caminho até onde posso me apoiar. As crises que eu tive ao longo da vida me trouxeram experiência o suficiente pra saber controlar e me recuperar sozinha. Mas os últimos dias tem sido cada vez mais difíceis.

Puxo o ar com força, buscando com o olhar qualquer ponto fixo que me traga pra realidade nesse momento. As vozes ao meu redor somem e tudo que sinto é meu corpo fraquejar, meus dedos amolecem e antes que eu caia, sinto algo mais forte me manter de pé.

Meu corpo é virado com brutalidade e a imagem de Ret surge a minha frente. Seus olhos buscam o meu, me fazendo fixar só ali. Eu sempre lidei com isso sozinha, não gosto que as pessoas me encostem dessa forma mas nesse momento eu só preciso que pare. Eu só quero que acabe.

- Olha pra mim, Gabriela. - Sua voz surge chamando minha atenção. - Respira fundo, olha pra mim.

Sigo sua instrução, mas é quase impossível. Minhas mãos tremem e posso sentir meus olhos inundarem. Um misto de emoções me invade, uma sendo substituída pela outra a todo tempo. A culpa me toma, fazendo eu me sentir fraca e vulnerável. A dor me toma, fazendo eu me sentir sozinha e abandonada. Tudo ao mesmo tempo, não consigo controlar.

Fecho os olhos e sinto meu corpo ser abraço com força. Acompanhando a respiração que me envolve uma, duas vezes, a minha mente toma rumo a calmaria de novo. Toda bagunça vai tomando uma proporção menor ate que eu consiga respirar sozinha.

Idiota!

- Não encosta mais em mim! - É tudo que eu consigo dizer.

Abro os olhos puxando o ar com força. Meu corpo inteiro dói e com dificuldade apoio o peso do corpo no antebraço pra conseguir entender aonde eu estou. Porra, aconteceu de novo!

Minha mente gira um pouco e eu puxo o ar novamente para conseguir levantar. É como se um caminhão tivesse passado por cima de mim, mas o cansaço ainda maior é o mental. E ainda sim, minha mente me sabota trazendo mais e mais pensamentos.

Uma lágrima brota no meu olho e a bile sobe a garganta, tudo que eu queria agora é um colo e eu me sinto uma tola por admitir. A vergonha gira ao meu redor ao meu redor e pesa ainda mais os meus ombros.

Pego o celular para ver as horas, mas já consegui prever pela luz dourada invadindo o quarto. Me arrasto até a ponta da cama e me forço a ir até o banheiro, tirando a roupa que vestia e me enfiando de cabeça em baixo do chuveiro gelado.

Puxo o ar algumas vezes até que os pensamentos desacelerem o suficiente para deixar eu me vestir sem que eu me sinta anestesiada. Puxo um cigarro de dentro do maço e pego o isqueiro novo guardado da gaveta.

Fecho os olhos por alguns instantes e a bile sobe novamente a garganta. Não consigo mais me revoltar. Minha mente implora pra que eu xingue, grite, atire, bata, mate, que de alguma forma eu desconte minha raiva. Mas tudo o que eu quero fazer é chorar, me aconchegar em um colo quente e ouvir que toda essa vida foi só um pesadelo ruim.

Sentada na sacada, com as pernas entre as grades, sinto o abismo abaixo de mim. O vento circulando entre meus dedos e as pernas apoiadas apenas pelo chão sob mim. Guio o cigarro até a boca e ascendo, sentindo o frescos e o alívio me obrigando a fechar os olhos para apreciar a sensação.

- Minha primeira crise foi aos quinze. - A voz aguda e o cheiro da maconha chamam a minha atenção.  - Foi difícil pra caralho, eu estava na merda e não sabia o que está acontecendo comigo. - Ret da um sorriso sarcástico. - Naquele dia eu achei que tinha perdido tudo, o mundo tinha parado de fazer sentido e eu tava sozinho. Essa porra aí dentro de tu, eu sei exatamente como é.

- Você não precisa sentir vergonha. - Suas palavras me cortam assim que eu abro a boca. - Você não faz esse tipo.

Apenas respiro fundo. Toda e qualquer intenção que eu tinha de afastar e ofender foram distanciadas pelo cansaço.

- Lá é um ambiente seguro. - Da outra sacada, Ret alterna o apoio entre as pernas enquanto observa a paisagem. - E foi lá que eu consegui me sentir vivo de novo.

La Máfia com Filipe Ret • By ToryOnde histórias criam vida. Descubra agora