Capítulo XI - Conexões, Decisões, Revelações

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  O céu cedeu espaço para uma única estrela cintilante, enquanto duas luas prateadas pairavam sobre a cabeça de Rayan.
  - Eu... Eu não entendo. - murmurou ele sem admirar o céu.
  Rayan mantinha a cabeça baixa, fixando os olhos no chão. Ele tentava conter a emoção ao receber a notícia de seu amigo, enquanto Jambo procurava na sua mente as palavras certas para explicar ao garoto.
  - É. É isso mesmo que você ouviu. - disse Jambo, finalmente - Saile é filho de Michael. Não era para você saber disso agora. Yennefer ordenou que isso acontecesse.
  - Não somos vilões - dizia Rayan, olhando para o chão, organizando os pensamentos  - Passei algum tempo com Saile e sei que ele não está do lado de Michael. Ele também lutou contra Arthur para me salvar na cachoeira. E tem Nico...
  - Rayan - cortou Vinícius - Soubemos disso já. Como eu tinha dito, se foi o Mestre Maly que confiou nele, podemos também confiar.
  Rayan ergueu o rosto para olhar para eles. Os olhos dos amigos, além de brilhantes, refletiam arrependimento e culpa.
  - Desculpa - murmurou Rayan.
  - Não precisa se perdoar, já disse, você é tão leigo quanto Saile.
  Rayan queria chorar, mas não conseguia. A emoção que tomava de conta dele era simplesmente alegria. Uma mistura de alegria e tristeza.
  Rayan abraçou Jambo brevemente, apertou ela contra seu peito agradecendo-lhe silenciosamente. Sentiu-se aliviado.
  - Vamos perder a noite na fogueira.
  Rayan soltou Jambo. Ela e Vinícius se levantaram e saíram correndo.
  - Você não vem? - perguntou Vinícius chamando Rayan.
  Rayan se levantou. Enxugou os olhos e ajeitou suas roupas.
  - Vamos lá, garotos.

  A noite na fogueira se realizava no centro da vila, de frente para uma estátua grande de prata. Muitos nômades estavam sentados ao redor de uma fogueira de fogo azul. Observar aquela chama balançando, fez ele lembrar de Saile. 
  - Depois daqui, você poderá ver Saile. - afirmou Jambo quase lendo o pensamento de Rayan. Ele fez que sim com a cabeça.
  Jambo e Vinícius haviam retirado as gravatas das camisas e as guardado nos bolsos das calças. Rayan fez o mesmo. Todos que estavam ali também estavam sem gravatas.
  Enquanto todos se sentavam ao redor da fogueira, as mulheres começaram a entoar uma melodia suave, suas vozes se misturavam em harmonia, evocando uma sensação de conexão com os antigos rituais daquele povo.
À medida que a música alcançava seu ápice, as mulheres levantavam as mãos em direção ao céu noturno.
  Enquanto as mulheres entoavam seu cântico, os homens se levantaram e se dirigiram a um círculo formado ao redor da fogueira. Ali, cada homem pegou uma tocha e acendia.
Com suas tochas em mãos, os homens começaram a dançar em movimentos cadenciados, com passos e giros, criando um espetáculo de luz e sombras dançantes ao redor da fogueira.
  Depois do canto e das danças, tiraram comida de umas cestinhas de piquenique, frutas e carnes, e todos começaram a comer e conversar entre si sobre a luz azulada da fogueira. Jambo passou a Rayan um pedaço de carne assada.
  - Obrigado.
  Passados algum tempo de muita comida e conversa, algumas pessoas foram deixando o círculo e indo para suas casas, os outros deitaram no piso e olhavam para as luas lá em cima, admirados.
  - As luas Tales e Aidê. - murmurou Jambo para Rayan. Ele olhou curioso para ela - A lua cheia é a de Aidê. Dizem que ela mora no fundo do mar e ajudou na paisagem do nosso mundo. E a lua minguante é a de Tales, deu vida aos seres animados. Os dois são um casal antigo.
  - Eles são os seus deuses?
  - Não sei te responder essa pergunta.
  Rayan olhou para as luas brilhando lá em cima.
  - Com os poderes deles dois, - continuou Jambo. - eles criaram o que temos até agora. Quando terminaram, dividiram o poder em dez...
  - São os braceletes. - afirmou Rayan.
  - Sim. Eles confiaram o poder em dez mestre animais que passariam a frente esse poder a quem tiver o sangue escuro de Tales.
  - Mas o que aconteceu com os mestres animais? A maioria dos users agora são pessoas.
  Jambo hesitou em falar, mas finalmente disse:
  - Michael começou a guerra para dizimar todos os mestres animais e tomar o poder todo para si. Os únicos que restavam eram só o Mestre Maly e o Mestre Doran. Como agora é você que tem o bracelete de gelo do Maly, o último mestre animal é Doran.
  Rayan ficou em silêncio. Tinha acabado de aprender um pouco mais sobre aquele lugar. Mas ainda assim era uma história pesada para ele.
  Rayan respirou bem fundo, sentiu sua respiração sair congelada. Estava sentindo o poder do seu bracelete retornando para ele.
  Azulo voou para longe, e Rayan se levantou. Jambo fez o mesmo, espreguiçando-se.
  - Hora de te levar para casa. Está pronto para ver seu amigo?
  Rayan seguiu Jambo em direção ao mesmo local onde havia acordado naquela manhã. Ao se aproximar da cerca que delimitava a extremidade da vila, seus olhos capturaram a visão de Saile encostado ali, com Azulo pousado em seu ombro. Um sorriso iluminou o rosto de Rayan ao ver seu amigo esperando por ele.
  Sem hesitar, Rayan correu em direção a Saile e o abraçou. Tinha esquecido seu cheiro de café. A sensação de segurança que sempre sentia perto de Saile era indescritível, como se estivesse em casa, mesmo estando longe.
  - Eli! Como é bom te ver. - Saile retribuiu o abraço.
  - Bom - disse Jambo, chegando depois. - Vou voltar para minha casinha, boa noite.
  A brisa noturna era mais gelada naquele lugar e naquele horário, mas Rayan e Saile continuavam ali, perto da cerca, antes de entrar para dormir.
  Saile parecia perturbado, não tinha a mesma expressão no rosto que Rayan costumava ver.
  - O que fizeram com você? - perguntou Rayan.
  - Cuidaram dos meus machucados da nossa queda. E também me disseram sobre minha vida, algumas verdades.
  - Que verdades?
  - Sobre Michael ser meu pai. E Arthur meu irmão, não Nicolas. - Saile estava triste, como se aguardasse, uma hora ou outras essas revelações algum dia.
  - Você parece muito cansado. Que tal descansar um pouco?
  Eles entraram. Tomaram um pouco de Starbucks que Saile tinha trazido e deitaram.
  Rayan não conseguia dormir. Queria dizer ao amigo que queria partir pela manhã de volta para sua casa, mas não teve coragem ao ver Saile abatido daquele jeito.
  Pensava também o que a sua mãe estava fazendo, se estava preocupada procurando por ele. O feriado acabaria amanhã e no próximo dia já teria aula de novo. Era mais um motivo para ele voltar para casa, não podia ficar naquele mundo. Ele estava assustado. Amanhã, voltaria para casa.
  Logo ele pegou no sono.

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