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EVANGELINE

TUDO estava acabado.
O ponto Ômega havia sido destruído. Perdemos muitos civis. Demais.
Os cidadãos que restaram estão traumatizados e derrotados, o que é fácil de compreender, como era a intenção do meu pai. Foram destituídos de qualquer última esperança que poderiam ter de rebelião. E, agora, tudo precisa ser colocado de novo em ordem, depressa.
Os corpos estão sendo retirados ou incinerados. As unidades de residência danificadas estão sendo substituídas. Civis estão sendo forçados a voltar ao trabalho, os órfãos estão sendo realocados e as crianças restantes estão sendo obrigadas a frequentar as escolas de seus setores.
O Restabelecimento não dá tempo para as pessoas se lamentarem. Todos estavam mortos e não sobraram ninguém.
Bom, quase ninguém.

Depois da catástrofe de uma semana atrás, todos nós nos reunimos e decidimos que precisávamos de um lugar para ficar e nos abrigar. Foi quando Adam sugeriu sua casa. James ficou feliz por voltar para casa, mas o resto de nós sabíamos que não poderíamos ficar lá por muito tempo, já que a água e comida não durariam.
Isso era assustador.

Juliette estava morta, minha amiga estava morta e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso. Meu irmão estava preso no Setor 45, meus outros dois irmãos estavam comigo.
Eu não sabia mais o que pensar.

Eu estava fraca e aterrorizada e cega para a ideia de possibilidade. Não tinha experiência com ações furtivas e manipulação. Eu mal sabia como interagir com as pessoas; mal podia entender as palavras em minha própria cabeça.
Fico chocada ao pensar no quanto mudei nos últimos meses. Sinto-me uma pessoa totalmente diferente. Mais esperta, de alguma forma. Mais endurecida, com certeza.
E é claro, estou brava.

Na verdade, brava é pouco para descrever o que eu sinto. Eu estou furiosa.
Eu sempre tive algo contra o Restabelecimento, com tudo que eles fizeram com nosso lindo mundo, eu sempre tive uma certa mágoa por causa disso. Mas nunca senti nada igual estou sentindo agora.
Eu queria arrancar minha própria pele e gritar, queria socar Anderson e arrancar sua cabeça com minhas próprias mãos e fazê-lo pedir misericórdia que nunca receberia. Eram coisas sombrias, mas eu já estava acostumada com isso.

Passei tanto tempo tranquila e feliz no Ponto Ômega que eu me esqueci como era. A raiva, o ódio.
Eu tinha ficado fraca lá, sensível e emotiva, mas chega disso, chega dessa baboseira. Eu precisava ser forte, fria, eu precisava usar tudo que meu pai me ensinou contra minha vontade pra lutar contra ele.
Por isso, eu precisava meditar um pouco.

Algo impossível dentro dessa casa.

Ian e Lily estavam discutindo, enquanto Brendan e Winston conversavam muito alto. James estava correndo pela casa brincando com Kenji e Adam e Alia estavam em um canto conversando baixo.

- Chega. - anuncio em voz alta - Ian, Lily, por que raios vocês estão brigando dessa vez?

- Nada.

Lily anda até mim e se joga em meu colo, passando as mãos pelo meu pescoço e sentando nas minhas pernas cruzadas com ambas as pernas de lado.

- Ele está me maltratando.

Abraço a garota, olhando indignada para Ian.

- Como pôde? - dramatizo.

Ian revira os olhos, nos deixando de lado.

Desde que Lily tinha voltado pra me buscar no dia de patrulha, eu e ela acabamos ficando muito próximas.
Também tinha feito uma amizade com Alia. Mesmo que agora ela passasse mais tempo com Adam do que com o resto de nós, ela ainda ficava bastante comigo e Lily.

Bad Word [Kenji Kishimoto]Onde histórias criam vida. Descubra agora