2. Piano

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Madalena terminava de fazer a trança nos cabelos de S/N, enquanto Grace estava na cozinha, terminando de preparar o café da manhã. Não fazia muito tempo que o sol começou a mostrar seus primeiros raios de luz, mas logo sumiram, escondidos pelas nuvens que nublavam todo o céu. As três jovens dividiam o mesmo quarto e ficaram acordadas até tarde, conversando em meio a sussurros e cochichos para que seu pai não as ouvisse e fosse dar uma bronca. Isso explicava porque estavam tão quietas e sonolentas, diferente de como costumavam ser logo que acordavam.

— Pronto. - Madalena falou, terminando de fazer o laço na ponta da trança. — Você está linda. - Elogiou assim que a irmã mais velha se levantou, deixando seu vestido rodado à mostra. O tecido cobria até seu joelho, enquanto o resto de suas pernas eram cobertas por uma meia calça que tentava a proteger do frio. O laço combinava com a cor de sua sapatilha e S/N suspirou, sem se importar se estava, ou não, bonita para quando se encontrasse com Vincent.

— Você não pode arranjar uma desculpa para o papai me trazer de volta para casa? - Pediu.

— O café está pronto. - Grace apareceu na porta do quarto, chamando as irmãs. Madalena lançou um último olhar para S/N, dando de ombros como se pedisse desculpa por não poder fazer nada.

As três se sentaram na mesa, orando junto de seu pai. Quando todos estavam prontos, Grace saiu com seu noivo - casamento também arranjado por seu pai - e foram fazer qualquer coisa que S/N não se atentou em saber. Madalena foi deixada na casa da tia para ajudá-la a costurar as roupas que a mulher consertava, e S/N foi em silêncio com seu pai até a igreja. O carro foi estacionado e os dois saíram de lá, Henry com seu sorriso educado e simpático de sempre, e S/N abrindo um pequeno e forçado sorriso.

— Preciso fazer algumas coisas, porque não vai treinar a música? - O homem sugeriu e a moça assentiu.

Antes mesmo de entrar na igreja, que já tinha suas portas abertas para quem quisesse orar, S/N podia ouvir um barulho repetitivo, que aumentava a cada passo que ela dava, e ecoava por entre as quatro paredes do local. Curiosa, olhou ao redor assim que colocou seus pés dentro da igreja, procurando de onde vinha ou o que fazia aquele som. Para a surpresa da jovem, quem ela encontrou foi o filho do coveiro, que martelava um dos bancos de madeira. Era sempre ele que consertava o que fosse necessário, mas a moça não esperava vê-lo ali naquele horário. Não quando Henry havia a mandado ir praticar piano e lhe deixado sozinha com o rapaz. A igreja estava vazia àquela hora da manhã e era de se esperar que os dois fossem os únicos ali por um tempo considerável.

S/N teria aberto um pequeno sorriso e lhe desejado bom dia, mas ele não olhou em sua direção e muito menos ouviria caso ela dissesse algo, então a jovem decidiu seguir seu caminho até onde o piano estava. Precisava treinar para uma nova música que seria cantada pelo coral e tinha entorno de uma semana para aprender tudo e fazer uma apresentação impecável. Apresentação que se repetiria por meses e meses, até que qualquer outra música que falasse sobre Cristo fosse requisitada para ser tocada. Mesmo que não pudesse falar aquilo em voz alta, ela achava cansativo. E chato. Ela riu sozinha enquanto se sentava em frente do piano, imaginando qual seria a reação de seu pai caso soubesse dos pensamentos da filha. Ele enlouqueceria.

Começando a tocar as primeiras notas, o melódico som que cada tecla fazia começava a se misturar com o som incessante das marteladas, tirando a concentração de S/N e a fazendo suspirar vez ou outra. Quando começou a achar aquilo irritante, ela se levantou e caminhou até o rapaz de cabelos negros, parando ao lado da figura agachada.

Notando a sapatilha azul que entrou em seu campo de visão, as marteladas cessaram e ele subiu o olhar pelas pernas cobertas e vestido rodado, parando no rosto da filha do pastor. A mesma que tentou conversar com ele no dia anterior.

Semeone else - SehunOnde histórias criam vida. Descubra agora