Prólogo

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O sol ainda jazia alto acima deles, fazendo-os franzir o cenho sob os óculos de sol para enxergar à frente enquanto caminhavam num ritmo relativamente lento, quando começou a praticamente ouvir o mal humor do outro estalando em suspiros mal incontidos e resmungos mal humorados.

Não havia estradas no vale inóspito de chão coberto por pedras, pinheiros altos demais e pequenas montanhas ao redor, o que o fazia com que o trajeto se tornasse ainda mais dificultoso e longo. Pelas suas contas, havia ultrapassado ao menos trinta quilômetros andando e, apesar de se sentir perfeitamente bem, sabia que Sam Wilson não tinha a resistência artificial do super soro, embora agora usasse o manto do Capitão América.

Apesar disso, ele não pediu realmente para parar em nenhum momento e Bucky não fez questão de demonstrar bondade. Ainda não sabia quanto mais percorreriam e era melhor que aproveitassem à luz do dia enquanto podiam, o que Sam provavelmente também vinha levando em consideração.

- Me lembre, mais uma vez, porquê estamos fazendo isso mesmo?

Observando o chão de pedras com uma careta, por um instante, Bucky respondeu de forma linear.

- Steve detestaria se soubesse que abandonamos a garota.

- Steve perceberia que a garota, claramente, cresceu. – Ouviu Sam bufar novamente, acompanhado do ruído de água do cantil prateado, provavelmente despejando sobre o rosto para tentar se refrescar. Estranhamente, há algum tempo tudo o que os rodeava parecia atipicamente estacado. Desde a brisa, até as folhas das árvores quietas e o lago que vinham contornando... Tudo parecia milimetricamente perfeito, como uma pintura ou uma projeção eletrônica, o que fazia com que a temperatura subisse sob o sol, muito real acima da cabeça deles. – Sinceramente, cara... Wanda é um verdadeiro caos. Ninguém sabe lidar com ela, não acho que tenhamos chances.

- O quê...? – Parou, indignado, finalmente se voltando ao homem, que agora tinha a face e a camiseta completamente encharcados, além das feições exaustas. – Você teve a ideia de procurá-la!

- Isso foi antes de ter o nosso avião destruído por esse... Campo magnético estranho.

Sam olhou para cima quase como se pudesse ver a área protegida por um campo de energia realmente anormal. Cobria uma extensão realmente grande e era praticamente transparente acima deles, de forma que não faziam ideia que aquilo estava à frente quando sobrevoaram baixo o local onde suas pistas indicavam que a Maximoff se encontrava.

Porém, o antigo modelo Cessna 172, que conseguira no acervo de um falecido tio e no qual vinha trabalhando desde que voltara ao Brooklyn, começou a sofrer panes elétricas assim que adentrou a área protegida e, logo, estavam em turbulência, como se houvesse uma tempestade ao redor deles, embora o céu estivesse completamente limpo.

Por isso, Sam precisou fazer um pouso forçado na água e eles decidiram seguir caminhando. Aquela era a pista de que havia algo, no mínimo, questionável ali, sendo Wanda Maximoff ou não. Pelo o que sabiam, as possibilidades de não ser a garota, considerando o que ela fizera na pequena cidade de Westview, não eram grandes. Também mal humorado, estalou os lábios e simplesmente voltou a caminhar, boné na cabeça e a camisa há muito amarrada à alça da mochila que carregava às costas.

- Podia ter imaginado isso antes de partir nosso avião ao meio na parte mais inóspita da Europa Central.

Aumentou o tom de voz no final, sem vontade de alimentar alguma paciência com Sam. Ele podia ser como um labrador, o que era irritante; mas também se transformava muito fácil num buldogue esnobe, folgado e reclamão.

Sabia, entretanto, que Sam apenas pensava em desistir da garota porque estava bravo com ela, não porque magicamente havia deixado de precisar de ajuda. Ninguém ficava bem isolado e ela vinha fazendo exatamente isso, desde Westview. Vira as fotos que mostravam a realidade que ela construiu por si própria naquela pequena cidade: parecia ser um mundo inteiro centrado em si mesma, embora não soubesse com base em quê que a garota o projetara. Agora, talvez estivesse fazendo a mesma coisa, mas ali, naquele lugar distante, onde talvez as agências governamentais dos Estados Unidos não pudessem atrapalhá-la.

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