Capítulo 35

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Não demorou para que alcançasse Wanda, que contornava a plataforma pela rua que levava à saída da cidade a fim de chegar ao caminho que levava até a casa do Bruxa Branca.

Não fez questão de buscar o carro, estacionado no canteiro central próximo ao pequeno hostel onde se hospedavam, pois provavelmente estava imersa demais naquela nova informação, processando todas as possibilidades de que aquilo fosse mesmo real e o que chegava com isso.

- O que vai fazer? - Ladeou a ruiva sem qualquer dificuldade, olhando ao redor para confirmar se aquela seguidora de Chthon não os seguia.

- Vou até quem tem as respostas que eu preciso. - Ela explicou de maneira rígida, caminhando a passos largos. - A Bruxa disse a verdade sobre Natalya ser minha mãe, mas como ela poderia saber de tudo?

- Bem... Agora começo a ter palpites. - Bucky comentou, recebendo um murmúrio de concordância da ruiva, que continuou a caminhar a passos duros até fazer a curva para o caminho de pedras cascalhadas, que levava para dentro da mata. Seu perfil demonstrava toda a tensão, que dominava seu corpo, e ele até podia enxergar a concentração para manter o controle. - Ei... Você está bem? Com tudo isso?

Dessa vez, alcançou a mão dela, fazendo com que parassem no meio da estrada. Aparentemente, Wanda não havia tomado nenhum minuto para respirar e digerir aquilo que acabara de ouvir, tão determinada a conhecer uma verdade mais amigável - ou toda a verdade, ainda dolorida -, que sequer pensara muito a respeito de tudo o que a outra havia lhe contado.

Os olhos esverdeados o encararam por um momento, como se sequer o enxergassem de verdade ante a obstinação que a tomara, até que Wanda piscou e expirou, rendida, engolindo em seco, muito distante da imagem da bruxa, por falta de palavra melhor, que ameaçara a outra na estação de trem.

Ali, estava como a Wanda de todos os dias e, esta, apreciava muito mais. Por mais que não se intimidasse pela imagem poderosa que ela emanava sempre que a Feiticeira Escarlate se impunha em magia rubra, conseguia acessar e compreender, na medida do possível, a mulher à sua frente de forma muito mais fácil. Era um esforço de todos os dias, com o qual se habituara muito fácil, tinha de admitir.

- Vou ficar. - Ela abaixou os olhos para suas mãos juntas, parecendo pensativa, mas não exatamente sobre o que estava à sua frente. Só então, Bucky percebeu como o gesto parecia... Íntimo demais, especialmente depois da noite anterior. Porém, ela não se afastou e ele também não. - Não serve a ninguém que eu me deixe levar pelas palavras dela ou... De qualquer um que queira um pedaço de mim. É assim que parece ser, de certa forma... Não é?

Embora ela se deixasse levar por todo o resto. Pelo o que compreendia, o fato de que os seguidores de Chthon queriam manipulá-la era apenas mais claro do que todo o resto, por isso a incomodava mais do que qualquer outra coisa. Concordou com um aceno, a examinando.

- E se... E se for verdade? - Questionou com cuidado, vendo-a desviar os olhos. É claro que a incomodaria. Apenas o fato de não ser filha de quem pensava que era, Maria e Django, a havia quebrado de forma quase irremediável há algumas semanas. A ideia de ser filha de um ser sobrenatural e, consequentemente, só existir para servir a um propósito pré-determinado por este ser, deveria ser quase insuportável. - E se você for realmente filha dele?

Notou que o brilho nos olhos dela era apenas de fragilidade e melancolia pouco escondida, assim como o canto dos lábios, curvado em nome da própria angústia sobre aquela possibilidade. Wanda era sempre um pouco assim, sobre tudo a respeito de sua vida, mas, naquele dia, parecia ter internalizado muito mais daquele fatalismo que a rodeava, daquela possibilidade de destino pré-determinado.

De repente, percebeu que as folhas das copas das árvores, que ladeavam toda a estrada, que terminava na casa da Bruxa, se moveram em uma brisa repentina demais para ser tão natural. Abaixou os olhos para as mãos deles, como Wanda havia feito antes, e notou a leve camada de energia escarlate que as rodeava, embora não o atingisse de forma direta.

The Hurting. The Healing. The Loving.Onde histórias criam vida. Descubra agora