Wanda não apareceu naquela manhã.
Desde que chegaram da cidade na noite anterior, após o episódio na rodovia junto ao pé da montanha, ela havia se dirigido ao quarto avisando que não estava com fome e não jantaria. Bucky não comentou, apenas foi dormir e acordou naquela manhã esperando encontrá-la de pé, pois Wanda parecia ter o hábito de levantar assim que o dia raiava.
Porém, tudo na cabana se mostrava absolutamente quieto e silencioso. Até mesmo o movimento do lado de fora, de brisa e aves acordando, parecia ter sido... Repentinamente pausado. Bagunçando os cabelos, estreitou os olhos para a vista além da janela tentando enxergar algo fora da normalidade, mas não havia nada, além do que impalpável, aquilo que não conseguia descrever, mas habitava tudo ao redor que, tinha certeza, estava relacionado aos poderes da ruiva.
Aproveitando que ainda havia pão de massa preta, apenas fez ovos mexidos como acompanhamento e esperou, sem detectar qualquer movimento antes de resolver sair. Wanda sabia se cuidar, Sam havia dito no dia anterior, sugerindo que o que poderiam fazer – como meros soldados treinados em combate – por alguém como ela era ínfimo.
Bucky não discordava até certo ponto, pois sequer compreendia como funcionava aquela aura escarlate em torno de Wanda Maximoff, assim como por toda ela, especialmente nos olhos, mas a noite anterior havia acendido um alerta nele. Por mais que fizesse uso dos poderes, nem mesmo a jovem parecia saber o que havia acontecido. Então, antes que resolvesse sair para correr como pretendia, resolveu bater no quarto dela.
Três vezes, seu dedo soou contra a porta sem qualquer resposta.
- Wanda. – Esperou, tentando identificar algum movimento do outro lado, mas não havia nada. Olhou ao redor, com o cenho franzido tentando encontrar algum sinal de que ela saíra sem que houvesse percebido, mas tudo aparentava estar em seu devido lugar, inclusive a porta do quarto de hóspedes, firme e permanentemente fechada. – Wanda, está aí?
Bateu novamente, um pouco mais alto. Estava pronto para testar a fechadura em detrimento da privacidade dela, quando a maçaneta foi girada num ruído baixo e a porta lentamente aberta numa fresta pequena, como que num gesto de permissão. Desconfiado, empurrou a superfície de madeira esperando encontrar lá dentro algo parecido com o que vira no outro quarto, a entidade e a energia escarlate habitando por todo o lugar.
Porém, o cômodo parecia simplesmente comum e ordinário, não fosse o monte encolhido na cama sob cobertores pesados. O cabelo de Wanda estava esparramado sobre o travesseiro, completamente bagunçado em todas as direções possíveis e suas feições se encontravam fechadas e tensas enquanto tremia, claramente apertando os cobertores sobre si. Pelo que podia observar de onde estava, respirava com dificuldade em razão dos calafrios que a tomavam a todo o instante.
Era uma cena completamente atípica, que não esperava relacionar a alguém tão, aparentemente, forte quanto ela. Miticamente forte. Como era possível que ficasse doente e à mercê de algo tão fundamentalmente humano? Franzindo o cenho, encaminhou-se até a cama e desligou o abajur antes de colocar a mão sobre a testa, notando a temperatura super quente emanando dali.
- Você está ardendo em febre. – Murmurou sem conseguir chamar a atenção dela. Em meio a um suspiro resignado, apertou onde deveria ser o ombro sob os cobertores, tentando acordá-la sem muita brusquidão. – Wanda, você está doente.
Sem forças, a ruiva se remexeu sob os cobertores e tentou abrir os olhos para encará-lo, mas não durou muito antes de se virar, abraçando lentamente o travesseiro do lado direito da cama. Estava acostumado a vê-la muito exausta a qualquer momento do dia, como se dispendesse energia demais em alguma atividade, porém, nada havia sido como aquilo.
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The Hurting. The Healing. The Loving.
RomanceGostaria de poder lê-la da mesma forma que ela o lia, mas Wanda soava como um livro completamente em branco, vazio. Entretanto, apenas às vezes, quando Bucky a olhava com atenção, tinha a impressão de que contemplava a imensidão do jardim de um mund...