Capítulo 4

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Nos fundos da cabana, Wanda levantou a porta do que seria a garagem. Olhou para Sam de maneira desconfiada, imaginando se ela havia roubado aquele carro ou se era apenas magia. Ambas as ideias lhe pareciam absurdas, de qualquer forma, e provavelmente pareceram ao amigo também, que apenas levantou as sobrancelhas e se adiantou.

- Eu dirijo.

Revirou os olhos sabendo exatamente o que aquilo significava enquanto o via tirar a proteção, relevando um modelo sedã preto e discreto. Usando um boné também escuro e os cabelos ruivos por dentro do casaco comprido, Wanda se acomodou no banco do carona quando Sam manobrou para fora da garagem e Bucky se sentou no banco de trás, ignorando o olhar divertido do Falcão.

Havia uma estrada que seguia pelo sopé da montanha, literalmente na direção oposta pela que chegaram no dia anterior. Tão estreita, e pela forma como Sam seguia lentamente, os fazia balançar a cada pedra que pisava, parecendo tão pouco usada que se perguntou se levaria a algum lugar para além daquela cabana; e, se levava à cabana, a quem o fazia. Como Wanda descobrira aquele lugar?

Encarou silenciosamente o perfil da jovem, distraidamente mexendo nas pontas dos próprios fios longos, as unhas curtas e limpas, diferente do típico esmalte preto de que se lembrava. Em sua mente, as mãos de Wanda sempre foram distintas demais para serem ignoradas, assim como a cor escura das unhas e da maquiagem. Agora, o rosto dela se encontrava sempre limpo, refletindo olhos cansados, às vezes vermelhos e inchados. Apesar disso, vê-la trajando um conjunto de calça jeans, camiseta preta e coturnos pesados era mais animador em comparação ao pijama largo e meias.

- Vocês não se cansam do silêncio? – Perguntou Sam com uma careta, no que ambos somente o olharam de volta. – Pegar a estrada de carro e sem música é como... Um sacrilégio para mim.

- Nós não queremos ouvir Marvin Gaye, Sam.

Disse tranquilamente, desviando os olhos para a janela. A paisagem era bonita e ensolarada, talvez até demais, embora fosse fim de verão. Saberia apreciar melhor a Europa Central se não lhe trouxesse tantas lembranças relacionadas a Zemo e o Soldado Invernal.

- Talvez esse seja um sacrilégio maior.

- Eu não conheço Marvin Gaye. – Sam quase parou o carro ao se voltar para Wanda, indignado.

- O quê?! – Sentada de lado no banco, a jovem franziu o cenho quando o olhou em confusão, no que Bucky apenas gesticulou com a mão em meio a uma careta. – Marvin Gaye é como... Jesus. Mas negro.

- Tenho quase certeza que essa não é uma comparação muito adequada.

- Sim, para Jesus. – Sam gesticulou. – Sabe, Bucky... Sabia que estava fingindo sobre Marvin Gaye por causa do Steve.

- Eu gosto de Marvin Gaye.

Aumentou o tom mais farto que podia, enfiando os próprios dedos entre os fios de seu cabelo. Duvidava que aguentaria aquela viagem se durasse mais de duas horas, fechados no mesmo ambiente, sem música. Lidava bem com o carro silencioso e os próprios pensamentos, mas não tinha nada contra música. Além disso, ajudaria Sam a se manter em silêncio, o que o deixava em paz também.

- Ouça, Wanda... – Ele ignorou o soldado e se voltou para Wanda, de maneira séria. – Isso tem que ser remediado o mais rápido possível. Sendo minha amiga... Não é uma opção que não conheça Marvin Gaye.

Apertou os lábios, compreendendo exatamente o que ele queria dizer. Sam não faria questão de apresentar algo tão caro a ele, se não considerasse minimamente a pessoa, se não a colocasse em seu rol de amigos. Havia sido assim com Steve, com o próprio James e, agora, com Wanda. Escondeu um riso e se inclinou.

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