Capítulo 25

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Ele estava acabado. Olhando no espelho de borda redonda do banheiro do quarto de Wanda, era notável o quanto o veneno tinha deixado sequelas em seu rosto cansado e nas olheiras fundas sob seus olhos.

Fisicamente, sentia como se um caminhão tivesse passado sobre ele, ida e volta, pelos últimos quatro dias. Embora tivesse ficado desacordado por todo aquele tempo, era como se seu corpo estivesse inconscientemente lutando contra os efeitos da substância que inundara seu corpo.

As palavras dela ainda ressoavam em sua mente. Se não fosse o soro, estaria morto nos primeiros minutos após a facada. Apesar disso, continuara lutando, sem saber, como se houvesse algo pelo o que continuar.

Respirou fundo apoiando as duas mãos sobre o armário de madeira da pia. Talvez fosse apenas instinto. Tinha que ser. Nunca fora realmente empenhado quanto a manter a própria segurança e isso se tornara quase uma característica sua após o soro. Havia sido assim quando caíra para a morte naquele desfiladeiro nos Alpes e se lembrava de se sentir inconsequente sempre que agia como Soldado Invernal - talvez, em uma tentativa radical de se livrar de sua prisão mental.

Talvez isso também justificasse toda a falta de cuidado durante a noite da tempestade, quando fora atrás de Wanda sem pensar no que poderia haver na escuridão ao redor da cabana. Havia muito o que não sabia sobre a ruiva, sobre seu mundo, sua magia e aquele lugar que os rodeava, o que o resignava por completo, mas o deixava temeroso. Por si mesmo e por ela.

Engoliu em seco, ainda realizando que só pensara na segurança dela naquele momento, sem se preocupar consigo mesmo. Suspirou esfregando o rosto fortemente, como se tentasse fazer as pazes com essa constatação ou retomar o controle sobre a própria força, uma vez que se via esgotado, embora o único esforço que tivesse feito fosse para tomar banho.

Depois de sair do quarto um tanto transtornada por realizar como se importava com a possibilidade de sua morte, Wanda voltou muitos minutos depois, mais calma e séria, perguntando se precisava de algo e um banho foi a primeira coisa que passou por sua mente. Isso sempre o ajudava a organizar os pensamentos e talvez a água quente tivesse algum efeito prático sobre seu corpo, relaxando e curando onde precisava.

Então, ela o ajudou a se colocar de pé fazendo uso de seus poderes, o que o atordoou num primeiro momento. Havia segurado sua mão, mas a força e a energia que rodeava o gesto estava repleta de magia escarlate, como quase tudo naquela cabana. De alguma forma, o sentimento que o permeava sempre que a via, efetivamente, ser uma bruxa, não era de medo. Muito longe disso.

Com uma careta, desceu a mão pelo rosto e o pescoço, incomodado com a barba por fazer depois de todos aqueles dias. Mesmo que o banho tivesse ajudado, ao menos um pouco, quando a barba estava mal feita se sentia totalmente bagunçado. Então, preparando-se psicologicamente, alcançou a maçaneta da porta e a abriu, vendo Wanda ocupada trocando o lençol e as demais roupas de cama antes de olhá-lo interrogativamente.

- Precisa de alguma coisa?

- Er... Eu preciso fazer a barba. - Disse, sem jeito, detestando depender dela para ajudá-lo naquele nível.

- Ok. - Ela ajeitou os travesseiros sobre a cama, enquanto perguntava, parecendo estranhamente solícita. - Onde estão suas coisas?

- No compartimento externo da minha mala.

Não se importou realmente que ela visse seus pertences, eram adultos e não havia nada demais em sua mochila, mas era como se... Fosse Wanda demais ao redor de Bucky, desde que sequer pensara na tempestade ao ir atrás dela até a hora em que acordou e a viu deitada ao seu lado. Ela não pertencia à sua realidade, nem ele à dela, tinha que colocar isso em mente, estarem juntos ali era fruto de um acaso repleto de humor irônico.

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