John Collins
Em uma tarde quente de verão eu empurrava minha cadeira pelo estacionamento do colégio, as aulas haviam acabado há algum tempo, mas a maioria dos alunos ficaram para as programações dos clubes que participavam, de modo que ainda havia muitos carros estacionados por ali. Todavia, o número de automóveis não me impediu de encontrar de imediato aquele a qual eu procurava.
O carro de cor extravagante se destacava em meio aos outros, a cor laranja cintilava com os raios de luz solar que incidia sobre a lataria. Sorri e balancei a cabeça negativamente, sempre havia imaginado que o primeiro carro da minha melhor amiga seria excêntrico, afinal Grace era a excentricidade em pessoa, no entanto desde que ela havia ganhado eu ficava olhando para ele sem acreditar que ela escolheu realmente aquela cor. Eu me perguntava, quem em sã consciência escolheria um carro laranja? Ainda me perguntava como o sr. Bennett, o pai de Grace, tinha deixado isso acontecer, como ele havia deixado sua linda relíquia, que ficava muito bem na cor prata, ser transformada em uma abóbora ambulante. Anos depois Grace se gavaria, pois seu carro era parecido com o de um filme famoso. Brincaria dizendo que seu carro havia inspirado os diretores (ou quem quer que organiza essa parte) de Crepúsculo.
Grace Bennett e eu éramos amigos há quase uns dez anos. Sim, muito tempo se passou desde a última – ou primeira – das minhas memórias aqui relatadas. A verdade é que, embora vocês estejam lendo uma narrativa enorme, essas são apenas minhas lembranças. No momento em que as tive levei apenas algumas horas imersos nelas, e ainda que a infância tenha sido uma parte importante da nossa história, gastei mais tempo perambulando pela nossa adolescência, pois considero-a como a fase que determinou quem nós nos tornamos. Os medos, as dúvidas, descobertas, escolhas, alegrias e tristezas, tudo que passamos na juventude e que nos ensinou a viver.
Desde que eu conheci Grace, não negava que ela era a garota mais estranha que eu já havia conhecido, e a mais especial também, diga-se de passagem. Ela era elétrica, falava o tempo todo, às vezes era até difícil de acompanhá-la. Gostava de festas, principalmente de decorá-las, apesar de ser um pouco atrapalhada. Sua flor preferida era margarida, mas sempre dizia gostar de todas igualmente. Ela amava borboletas.
Às vezes eu me perguntava como nos tornamos melhores amigos. Logo nos primeiros dias na nova casa, e mesmo depois de ter aceito ser amigo de Grace, eu me esquivava dela todas as vezes que ela aparecia para brincar. Às vezes dizia que estava cansado, outras fingia estar concentrado em alguma leitura ou estudo, ou ainda fingia estar praticando os exercícios que aprendia na fisioterapia. Grace nunca parecia se importar, e acabava sempre entrando e auxiliando minha mãe a preparar alguma receita, no final batia a porta do meu quarto para me entregar o que quer que elas tivessem cozinhado. Eu normalmente ficava em meu quarto, podia sempre ouvir a risada dela, ficava curioso para saber o que ela achava engraçado, mas era orgulhoso demais para me aproximar. Da janela do meu quarto eu podia vê-la brincar no quintal de sua casa e aos poucos comecei a desejar poder estar lá também, então comecei a sair para o quintal a fim de que ela me visse e me chamasse para brincar, mas ela não o fez. Alguns dias depois, cansado de ficar sempre sozinho, eu pedi para poder brincar com ela. A partir daí começamos a brincar juntos quase todos os dias. Quando as aulas começaram eu tinha uma amiga para me ajudar a passar pelos desafios que me esperavam.
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Borboletas no Jardim
Short StoryCONTO 1| Família Collins Não é segredo para ninguém o quão complicada e cheia de altos e baixos é a fase da adolescência. Repleta de dúvidas, medos, escolhas, descobertas, alegrias e tristezas. A fase onde, talvez mais nos questionamos quem somos, o...