Grace Bennett Collins
John aceitar ser meu amigo não significou nada nas duas primeiras semanas que se passou após a chegada dele. Ele me ignorava por completo, e logo comecei a pensar que de fato ele era como todos os outros garotos. E eu teria desistido de ser amiga dele se não tivesse ido até a casa da dona Janette e seu Isaac buscar algumas mudas de plantas. Claro que falei a eles sobre o novo vizinho, e como ele não era nada legal. Lembro que ambos sorriram, e a dócil senhora me disse para ser paciente, e não desistir, pois John estava passando por uma situação difícil, que ele poderia estar triste, desanimado e com medo. Seu Isaac disse que estar em uma cadeira de rodas podia ser muito frustrante às vezes, e até se acostumar levava um tempo. Ambos afirmaram que John deveria ser um bom menino, e que assim como as minhas lagartas se revelavam belas borboletas após um determinado tempo, John se revelaria um ótimo amigo. Eu os ouvi, mas não tinha certeza se isso aconteceria.
Todos os dias eu o convidava para brincar, mas ele estava sempre ocupado, então eu passava algum tempo com a mãe dele, vendo-a cozinhar e ajudando-a quando podia. Quando eu brincava no quintal de casa podia vê-lo na janela, até que um dia ele começou a sair para o quintal. Eu queria logo correr e chamá-lo para brincar, mas não o fazia. Minha mãe disse para eu respeitar a vontade dele, então pensei que não o chamando ele viria brincar se quisesse e não porque eu o havia obrigado. Um dia, sem que eu esperasse, ele se aproximou e pediu se podia brincar. Aos poucos adaptamos as brincadeiras conforme ele pudesse participar, brigávamos e nos chateávamos um com o outro, mas também gargalhávamos e aprontávamos. Íamos para a mesma escola, compartilhávamos os mesmos amigos. Conforme fomos crescendo, nossa amizade foi se fortalecendo, e quando a adolescência e todos os desafios que vem junto dela veio prová-la, ela não pôde ser abalada.
A maioria das pessoas colecionavam coisas, todavia, eu colecionava lugares, ou ao menos pensava que sim na época da adolescência. Não havia tantos assim em minha lista, e a maioria deles nem ao menos me pertenciam, mas cada um tinha um lugar especial em meu coração.
Lembro-me de um dia me sentar à sombra de um corniso alto e florido. Estava fresco ali, a grama estava bem aparada de modo que não estava irritando minhas pernas. Aquele era o lugar que eu intitulei de " pouso do respirar". Eu costumava chamar de pouso os lugares em que amava estar, havia sido inspirada pelas borboletas que tanto amava. Ok, era algo estranho, eu sabia, mas em minha mente fazia sentido. Por exemplo, eu gostava de ir até a praia, caminhar sobre o píer enquanto olhava o sol se pôr no horizonte, as cores vivas, a brisa suave sobre o meu rosto. Quando chegava ao final eu me debruçava sobre a barra de proteção e olhava a imensidão do mar, ouvindo o suave som das ondas a quebrar. Pouso da serenidade foi como eu havia nomeado o lugar.
O corniso pertencia a minha velha amiga, a dócil e adorável senhora Janette, que morava no fim do quarteirão. Foi com ela que eu aprendi a cultivar flores, e conforme a idade dela avançava eu passei a cuidar da manutenção do seu jardim.
Eu já havia estado ali naquela semana para os cuidados do jardim, sabia que não era necessário estar ali novamente para isso. Mas era ali que eu parecia poder sentar, respirar e simplesmente pensar. Por isso, pouso do respirar. O aroma das flores à minha volta, o vento suave, uma ampla visão do céu, às vezes era tudo o que eu precisava. Sabia que dona Janette não se importaria de ter-me como intrusa no seu jardim.
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Borboletas no Jardim
Short StoryCONTO 1| Família Collins Não é segredo para ninguém o quão complicada e cheia de altos e baixos é a fase da adolescência. Repleta de dúvidas, medos, escolhas, descobertas, alegrias e tristezas. A fase onde, talvez mais nos questionamos quem somos, o...