John Collins
O baile de formatura era o evento mais esperado pelos alunos desde o primeiro dia do último ano letivo, e para alguns até mesmo antes disso. O grêmio estudantil se dedicou à organização, e recrutaram pessoas para ajudar na decoração; pelos corredores as meninas discutiam sobre vestidos e quem as acompanharia; e os meninos tentavam encontrar a melhor forma de convidar uma acompanhante.
Eu não tinha criado expectativas a respeito disso, lembro-me que nem ao menos desejava ir. Na época, a minha justificativa era a de que não achava que o baile de formatura era tudo aquilo que as pessoas faziam parecer ser. Certo, era um ciclo se findando em nossas vidas, uma despedida de uma fase tão desafiadora, e porque não, uma boas-vindas a outro ciclo que talvez fosse mais desafiador ainda. No entanto, eu pensava que não era necessário tanto alarde por isso. Talvez eu fosse muito ranzinza como Grace costumava dizer. Mas o que percebo hoje, e na época eu já sabia, mas era orgulhoso demais para admitir a mim mesmo, é que de alguma forma pensar no baile era mais uma das coisas que feriam minha masculinidade. Veja bem, os rapazes buscavam as moças em suas casas, seguravam suas mãos para entrar na festa, e dançavam com elas. Como eu poderia fazer isso? Provavelmente a garota com quem eu fosse teria de me buscar. Eu não iria poder segurar a mão dela para entrar no baile, porque minhas mãos estariam ocupadas movendo a cadeira. E eu não seria capaz de conduzi-la em uma dança. Todas essas razões talvez não signifiquem muita coisa na modernidade de hoje, mas naquela época me tornava um homem inválido.
O fato de eu não desejar participar daquele evento não me livrou de ir.
Na tarde do baile, lembro-me de estar diante do meu reflexo no espelho que havia no corredor dos quartos em nossa casa, meus olhos estavam fixos na gravata borboleta preta presa em meu pescoço, minha vontade era arrancá-la, voltar para meu quarto e continuar a ler um artigo sobre computação que havia iniciado no início da tarde. Mas o olhar alegre e orgulhoso de minha mãe ao meu lado fez eu me conter. Havia dias que eu não a via sorrir tão feliz. Foi ela quem comprou a roupa para que eu pudesse ir, o clássico, camisa branca, calça e blazer social preto, sapatos sociais, a bendita gravata, e por sorte consegui me livrar do suspensório que ela queria que eu usasse. Ela pendurou uma rosa branca na lapela do blazer, dizendo que era presente de Grace.
- Meu menino, está tão lindo. - Ela juntou as mãos junto ao rosto, os olhos esverdeados com um certo brilho e eu não me contive e dei risada de sua ação. - Mas apresse-se, seus amigos já devem estar esperando lá fora para a foto.
Então ela saiu quase que saltitando para o quintal, a câmera fotográfica pendurada no pescoço. Sabendo que eu não tinha escolha a segui.
Meus amigos realmente já estavam lá, havíamos combinado de irmos todos juntos, sem a necessidade de estarmos em par. Juan e Daniel vestiam trajes iguais ao meu, exceto pela cor da gravata de Juan, ele usava uma azul. Georgia usava um vestido pink todo brilhante, os saltos a faziam se destacar entre todos nós, visto que já era um tanto alta. Eu me perguntava como ela estava conseguindo se equilibrar sobre eles. Grace estava com um vestido azul escuro, pela primeira vez desde que eu podia me lembrar, não havia estampas em seu vestido. Também usava saltos, embora muito mais baixos do que os de Georgia. Ambas usavam corsage feitos com rosas brancas e margaridas, lembro de Grace ter passado uma tarde inteira para confeccioná-los.
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Borboletas no Jardim
Short StoryCONTO 1| Família Collins Não é segredo para ninguém o quão complicada e cheia de altos e baixos é a fase da adolescência. Repleta de dúvidas, medos, escolhas, descobertas, alegrias e tristezas. A fase onde, talvez mais nos questionamos quem somos, o...