Capítulo 4

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John Collins

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John Collins

Eu estava deitado de barriga para cima, os braços dobrados sob a cabeça, meus olhos estavam fechados, e minha mente acompanhava a batida da música que soava no fone gasto plugado ao walkman mais gasto ainda. Eram músicas completamente novas para mim, meus ouvidos tão acostumados a canções sobre o homem, sua força, sua justiça e seus amores, agora estavam sendo inundados por vozes que louvavam sobre o maior amor que haviam provado e conhecido. Até ali, ou pouco meses antes deste dia, eu não era alguém que se dedicava a Deus, ou que ao menos cria nele por vontade própria. Eu cria, ou achava que sim, porque meus pais criam. Então eu ia à igreja todos os domingos, agradecia o alimento, e pedia por proteção, como havia sido ensinado. Mas havia alguns meses, isso estava mudando. Meu interesse por saber mais a respeito de Deus começou a aumentar, e eu começava a experimentar mais da sua graça, e pequenas doses de fé meu coração ingeria conforme eu me aproximava Dele. A seleção de hinos em uma fita, havia sido presente de um amigo que havia feito na igreja.

Eu tinha dezessete anos, estava prestes a me forma no ensino médio, já havia recebido duas cartas de aprovação de faculdades diferentes, havia me inscrito em cinco, muito embora desde o início já tivesse certeza para qual iria se fosse aceito, talvez tenha sido por isso que me inscrevera em tantas, por medo de não ser aceito em nenhuma.

Estávamos no final da década de 80, era verdade que o mundo estava evoluindo e se modernizando cada vez mais rápido, entretanto, mesmo que isso estivesse acontecendo, as vezes eu me pegava desacreditado de que as coisas funcionariam para mim como com qualquer outra pessoa, eu poderia dizer normal, mas a palavra já havia se tornado subjetiva demais, afinal, o que era normal? Eu não tinha a mentalidade tão ultrapassada ao ponto de pensar que ser deficiente me tornava menos capaz que os outros, mas naquela época sabia que ser deficiente me levava a mais portas fechadas do que levaria se eu simplesmente pudesse andar. Por vezes eu me pegava listando coisas que eu não poderia realizar, ou que pareciam completamente fora do meu alcance, por exemplo, eu nunca seria convocado para a guerra, embora de alguma forma fosse um alívio, também feria a minha masculinidade e patriotismo, além de me fazer sentir incapaz.

Como se não bastasse todas as incertezas que pairavam sobre a minha própria vida, ainda tinha as incertezas a respeito do casamento dos meus pais. Talvez aquele fosse o pior ano desde que firmaram aliança um com o outro. As discussões eram frequentes, pareciam ser sempre o mesmo assunto, eu não sabia muito bem, na verdade. Desde que meus pais começaram com as brigas, tomei a decisão de que não queria saber o motivo delas, tinha a impressão de que se soubesse teria de ficar ao lado de um ou outro. Embora de qualquer forma soubesse que eles não me envolveriam de tal modo em suas discussões, tinha quase certeza de que minha mente avaliaria a situação e apontaria apenas um lado para eu ficar.

Poucos de nós gostamos de falar sobre nossas falhas, ao menos sem que de algum modo, mesmo elas venham a nos enaltecer. Não me sinto orgulhoso em dizer que eu sempre fui teimoso e cabeça dura, como Grace sempre dizia. E isso pode ter sido atenuado ao longo dos anos, mas ainda assim era algo que eu carregava e que em muitas situações me fizeram demorar a ser um bom ouvinte, prestativo e humilde.

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