Turbulência

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Alguns anos antes

Adriana Silva

A viagem para Barcelona correu muito mal, turbulências fortes, e uma tempestade, quando o avião pousou o céu estava a brilhar com o sol a aparecer, literalmente a brincar com o meu sistema nervoso.

Respiro fundo quando o sensor dos cintos foi desativado, assim que pude saí do avião.

Ao sair do avião e quase a chegar a zona das malas, verifico os bolsos, vi que faltava uma coisa muito importante.

Agarro no casaco e começo a desesperar, olhei para dentro da mala vezes sem conta, e mais algumas vezes, passo-me e tiro tudo, mas não estava ali, ponho tudo na mala outra vez, verifico o chão para ver se não ficou nada ali, e volto para atrás, ao lado da porta estava  um segurança, o que achei estranho, mas já a suar e a tremer digo:

- Peço desculpa, mas eu tenho que entrar nesse avião! - digo com as mãos já molhadas.

- Não pode voltar. - disse o homem grande eu comecei a chorar e a tremer-me toda, ele chamou alguém que estava dentro do avião e de repente tinha dois assistentes de bordo comigo.

- Menina, acalma-se. - disse um hospedeiro de bordo. Outra hospedeira deu-me uma garrafa de água e quando eu consigo controlar a respiração digo.

- Deixei o meu telemóvel, deixe-me por favor confirmar, eu tenho a certeza que ele caiu quando eu me levantei! - Ela olhou para outra pessoa e a pessoa concordou. Deixo a minha mala de mão com o segurança e entro novamente dentro do avião.

A hospedeira que entrou comigo foi comigo até o meu assento, eu continuava a soluçar apesar de ter parado de chorar. Ela ajudou-me a procurar e depois de uns 5 minutos ela disse-me:

- Tem a certeza que não o colocou na mala? - Afirmo. - E não o deixou em nenhum outro lado?

- Como é o telemóvel? - Perguntou outra pessoa.

- Tem uma capa amarela com flores, borboletas azuis com detalhes vermelhos,pintados a mão. Há última vez que o vi foi quando começou a turbulência, guardei-o já não me recordo onde, não sei se foi no casaco ou no colo. Eu não me lembro. - disse quase a chorar de novo. - Já revirei a mala, já tirei tudo e não está, você não está a perceber eu não posso perder o telemóvel, se não, não tenho como voltar para trás. - disse já a desesperar. A tripulação continuou a procurar.

- O que se passa, porque a demora? - Perguntou alguém em inglês.

- A menina perdeu o telemóvel, estamos  a procura dele, já os mandamos sair. Só um momento, por favor! - disse a hospedeira chefe. 

- Um telemóvel? - Ouço outro alguém dizer, um rapaz surgiu por entre as cortinas da executiva para a económica.

- João! - Ele foi repreendido, mas ele avançou.

- É este! -  Olhei para ele com o meu telemóvel na mão e beijo as bochechas dele. - Problema resolvido! - disse ele ainda.

- Obrigado, obrigado! - digo para o rapaz.

- Encontrei-o no corredor, ia entrega-lo a saída! - disse.

- Obrigado novamente! - disse a pegar nas minhas malas. - Peço desculpa!

- Não faz mal acontece! - Eu saí do avião, agradeço ao segurança por ter segurado a minha mala de mão e fui pegar na minha mala do porão, vi que a mala estava no tapete das malas sozinha, agarro-a e vejo-o novamente, depois reconheço-o.

Ele passou com a equipa do Benfica e eu olho para baixo quando os nossos olhares se cruzaram.

Vou até a saída e vejo a Andreia a minha melhor amiga.

Barcelona | João Neves | ACABADAOnde histórias criam vida. Descubra agora