Prólogo

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Elain



No mundo dos feéricos, não existiam casamentos passageiros. Ou médicos desesperados. Ou sentenças de morte por ter pego uma gripe.

No mundo dos feéricos, não existiam várias coisas.

Como seu casamento. Sua alegria. Seu corpo inteiro, do jeito que era. Intocado. Isso não existia mais. Esta foi a segunda lição que aprendeu.

A terceira era: no mundo dos feéricos, não existia espaço para piedades. O mundo era cruel, com um monstro a cada esquina.

E a cada comentário também.

Cinco semanas na casa de Rhysand e esta menina ainda não teve progresso algum. Parece que só piora.

Ela anda comendo? Parece raquítica. Duvido que se aguente em pé.

Ela vai almoçar com a gente?

Ela anda esquisita. Só fala em enigmas estranhos. Não a reconheço mais, Feyre.

Por que a reconheceriam, se nunca a conheceram? Como poderia ela entender o que havia mudado, se não sabia quem era? Se não sabia onde estava?

A primeira lição, acredito, talvez seja a que você esteja esperando. Mas acontece que, até hoje, Elain nunca conseguiu entendê-la.

Ela fora o teste. A Primeira. Saiu com vida.

Ou pelo menos acreditava que havia saído.

Quando as águas gélidas, mortíferas e crepitantes como um fogo frio e mudo a abraçaram, ela sabia que estava morta.

Não respirava mais. Não sorria ou chorava tampouco. Cada lágrima havia secado. Ou talvez se juntado ao Caldeirão para afogá-la. O coração não tamborilava no peito.

Havia se rendido. Aceitado seu destino.

Então, quase que como uma piada sádica, a mais improvável reviravolta: luz. Ela vira luz.

No início, parecia um pontinho verde e brilhante. Como o mais belo cristal, perdido no oceano. Parecia vida. E estava flutuando até ela.

Fazia um barulho estranho. Tum-tum. Tum-tum. Como um coração apaixonado, cintilando por ela. Cheio de vida. Circular, brilhante, pulsante. Lindo.

Foi a primeira vez que teve esperança.

Aquela beleza chegou até seu rosto. Se fundiu ao seu peito esquerdo, tornando-se parte dela, tornando-se ela, como um presente. Como se aquele lindo coração tivesse sido dado a ela.

Tum-tum, tum-tum sentia no próprio peito.

Então, arregalando os olhos com o fôlego que lhe tinha sido dado, viu seu reflexo na luz. Cheio de poder e de desconhecido.

Não o reflexo do que foi um dia. Nem tampouco do que era agora. Não, era melhor que isso.

Talvez, o que ela iria se tornar.

Aquela foi sua primeira visão.

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