Capítulo 5: Uma cabeça cheia de suspeitas

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Elain


Elain estava exausta quando deitou na cama noite passada.

E continuava cansada quando acordou.

Os músculos dos braços doíam por conta do esforço não habitual do dia anterior. Trabalhou até o sol se esconder no horizonte, e trouxe uma dor muscular muito irritante quando voltou a superfície.

Como um ioiô, sua cabeça voltou aos pensamentos que dormira pensando. Na viscosidade desconhecida daquela terra, a podridão, a cor, o cheiro. Tudo era esquisito. Esquisito demais para aquele lugar.

E o pior era que ela arrepiava-se toda vez que pensava no assunto. Como se algum instinto primitivo, tivesse ela adquirido no Caldeirão ou mesmo antes dele, dizendo que tinha coisa ali. Avisando. Implorando para que tomasse cuidado, se defendesse.

A curiosidade dela estava mais atiçada do que nunca.

Elain nunca sentiu tanta necessidade de dar uma de pesquisadora e procurar o que teria sido aquilo.

Os pézinhos caminharam em pantufas até o banheiro, e ela lavou o rosto. Não gostava de se ver demais no espelho, porque parecia... outra pessoa.

Os olhos. Os olhos eram tão iguais aos do pai.

Ela sentia mais saudades do que gostaria de admitir. Das conversas que tinham. Dos contos que ele contava.

Também visitava bastante o túmulo do pai. Mas, a última vez que foi lá, foi mais fria e solitária que as demais, e já fazia um bom tempo.

Havia sido logo depois do Solstício. Ela apenas agachou na neve, limpou a espessa camada branca em cima da lápide com as mãos enluvadas e chorou.

Chorou porque não tinha mais esperança. No mundo. Em nada.

Nela mesma.

Desculpe, papai, foi a última coisa que dissera à lápide. Mas eu não acredito mais nos contos de fadas. Não acredito mais.

O jato de água que jogou no próprio rosto a trouxe de volta ao presente. Esfregou o rosto para afastar a lembrança.

Ela precisava sair para comprar um substrato depois do café. E, se o brilho do sol que iluminava o quarto pela janela detrás das cortinas estivesse certo, não seria daqui muito tempo.

Elain não sabia ao certo se a quantia que tinha consigo seria o bastante.

O substrato pesado estava sendo carregado debaixo de um dos braços, mas ela também segurava uma tesoura e alicate pequenos para cultivo de pequenas plantas. Arrependia-se de não ter trazido todo o dinheiro.

Por que essas merdas tem que ser tão caras, pensava, e por que eu gosto tanto de comprá-las?

Ela passou desanimada pelo corredor de sementes (tinham espécies novas!) porque não poderia comprá-las. Maldita fosse ela mesma por ter prometido silenciosamente para o espelho que não compraria compulsivamente e por isso colocara dinheiro contado na carteira.

Raenya, a vendedora e dona da loja, sorriu para ela quando Elain chegou ao balcão.

A loja toda era linda ⎯ cada prateleira era decorada com flores de todos os tipos e cores. As paredes foram trocadas por vidro transparente, do teto ao chão ⎯ e as poucas colunas que tinham eram de um adorável tom de marrom castanho. Era sua floricultura e loja de artigos de jardinagem favorita. Ia lá com uma certa frequência ⎯ talvez mais do que devia.

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