Elain
Um passarinho parecia muito convencido em não deixar sua janela e ir cantar em outro lugar.
A noite havia sido longa. Depois de ter tomado todo o conteúdo quente da xícara, deitou e ficou encarando a janela de longe. Por muito tempo.
Esperando, aguardando. Como se algo fosse vir de lá e arrastá-la para alguma versão realista e aterrorizante daquela visão. Até que a lua, a noite e as estrelas parecerem grandes demais, envolvendo sua mente e finalmente a permitindo descansar.
Alguma coisa dentro dela sussurrou que talvez pudesse ter sido Rhys.
Ela decidiu ignorar.
Fadada a sair da cama, suspirou e tirou o cobertor pesado de cima do corpo pequeno e aterrissou no chão.
Se o relógio estivesse certo, ela teria que cuidar do jardim de uma cliente em algumas horas.
Meio indisposta, Elain foi até o guarda-roupa e tirou algumas roupas confortáveis. Calça e uma blusinha leve com estampas de flores azuis.
Era cedo demais para o café da manhã, então ela decidiu aproveitar o tempo para adiantar a organização das coisas para o dia. Desceu toda a escadaria (aquela escadaria ⎯ cujo ela amaldiçoou internamente) e tomou caminho para o jardim de trás da casa.
Elain era a responsável por cuidar de todos os jardins da Casa do Rio. Fazia isso com prazer. Rhys dera a ela o privilégio de tomar posse de alguns armazéns de lá, e desde então ela usava-os para guardar os materiais de jardinagem, desde carrinhos de mão à substrato úmido. Havia de tudo.
Os servos levantavam cedo, e já estavam trabalhando àquela hora. Alguns varriam, outros colhiam, e outros limpavam. Quando estava passando pela cozinha, parou ouviu a voz de uma das cozinheiras que gostava dela:
⎯ Bom dia, Elain ⎯ um sorriso mostrou-se presente quando viu quem era. Ela também gostava muito daquela cozinheira.
Outra coisa que aprendera na casa de Rhysand e Feyre: servos não são só servos. Eles também são amigos.
Bastava ser gentil o bastante para descobrir.
⎯ Bom dia ⎯ ela respondeu, e a mulher sorriu.
⎯ Bom dia, senhorita Elain ⎯ a voz do cozinheiro-chefe se fez presente.
Ele era um elfo barbudo e meio baixinho ⎯ e era conhecido por ser muito mal-humorado. Ironicamente, nunca havia sido assim com Elain; muito pelo contrário, ele na verdade era sempre gentil demais, oferecendo-lhe tortas e doces nos momentos mais incomuns.
Não que ela estivesse reclamando. Os doces eram uma delícia. Doces sempre eram ótimos e bem-vindos. Até mesmo do nada.
Cor corou das bochechas do feérico quando ela lhe deu um sorriso educado.
⎯ Bom dia, senhor. ⎯ E continuou sua caminhada.
Quando chegou aos fundos, uma feérica que tentava arduamente catar os ovos das galinhas a viu e saudou:
⎯ Bom dia, senhorita.
⎯ Bom dia ⎯ respondeu enquanto andava.
Havia se tornado normal no dia-a-dia de Elain ser saudada por quase todos da casa de sua irmã e o parceiro. Acontecera muito rápido, e ela não sabia dizer porque, exatamente, gostavam tanto dela. Era como se ela fosse um imã que não podiam resistir.
Sua mãe costumava dizer que Elain era encantadora de pessoas.
Não de cobras, cães ou gatos, mas pessoas. Dizia que ela tinha o dom de encantar quem quisesse.
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Corte de Encantos Vibrantes
Hayran KurguTerror e perigo ⎯ eram essas as palavras que definiam seu destino. Elain Archeron finalmente tinha achado um lar. Depois de tantos sofrimentos que vieram com a guerra contra Hybern, Velaris havia se tornado sua casa. Sua família achava que estive...