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Bela estava começando a achar que havia cometido um grande erro

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Bela estava começando a achar que havia cometido um grande erro. Apesar de sua ala do castelo não ser exatamente alegre e colorida, era uma brisa de ar fresco perto da ala oeste.

Conforme andava pelo longo corredor, seus olhos se arregalaram. O lugar  emanava  solidão. E parecia completamente depressivo. As paredes estavam arranhadas e vazias, o que se tornava mais evidente com os ganchos solitários onde antes se penduravam quadros. O tapete sob seus pés estava desbotado e desgastado, com partes rasgadas pelas longas garras da Fera. Até mesmo o ar era de algum modo mais pesado. Bela estava quase dando meia-volta quando viu uma luz no fim do corredor. Uma porta havia sido deixada entreaberta e, através dela, Bela podia identificar o que parecia ser uma grande suíte. Com o medo vencido pela curiosidade, ela avançou e abriu a porta devagar.

Imediatamente desejou não ter entrado. Se o corredor já era aflitivo, esse cômodo era dez vezes pior. Para onde olhava, ela  via evidências do temperamento agressivo da Fera.

Cortinas em farrapos se penduravam nos varões. Vasos que deviam ter sido belos estavam largados e destruídos pelo chão.

A gigantesca cama de quatro colunas estava coberta por uma colcha cinza desbotada tomada pelo pó, que claramente não era usada havia muito tempo. Conforme seus olhos passearam pelo quarto, ela entendeu por quê. Em um canto, havia uma espécie de ninho gigante feito de pedaços de tecido, penas e galhadas amontoados. Bela teve um mau presságio ao ver uma área tão selvagem e animalesca do castelo. Ela se virou e deu um grito ao deparar com um par de olhos azuis brilhantes. Por um longo e tenso momento, ela achou que alguém a estava observando, até que se deu conta de que os olhos pertenciam a um garoto claramente preso em um retrato da realeza. Com o coração disparado, Bela se inclinou para a frente. O rosto do menino havia sido retalhado até se tornar irreconhecível, deixando aquela parte da tela em pedaços. Mas os olhos foram poupados. Bela se aproximou mais. Eles pareciam tão familiares… Ela engoliu em seco quando percebeu que lembravam os olhos da Fera. As palavras de madame Samovar retornaram à sua mente. 

Um verdadeiro príncipe , ela dissera. Deveria ser o príncipe ao qual ela se referira. Bela relanceou para o retrato, procurando por pistas do passado. Havia outras duas pessoas no quadro: um belo rei e uma formosa rainha. A imagem da mulher — que trazia olhos gentis repletos de riso e           amor — ainda estava intacta; já o olhar frio e distante do rei também havia sido estraçalhado. Bela imaginou como teria sido o garoto  do retrato, como  qualquer um  teria sido se tivesse crescido com pais como aqueles dentro das muralhas do castelo. Bela arrastou seus olhos para longe do retrato e engoliu o estranho sentimento de melancolia que se formava novamente na boca de seu estômago. Sua atenção foi então desviada para o final do cômodo. Portas enormes tinham sido deixadas abertas, revelando uma grande varanda de pedra do outro lado. Mas o que lhe chamou a atenção estava na frente das portas. Em meio à destruição e ao caos do recinto, a mesa teria saltado aos olhos apenas pelo fato de ainda estar de pé.

𝓐 𝓑𝓮𝓵𝓪 𝓮 𝓪 𝓕𝓮𝓻𝓪  (𝐿𝑖𝑣𝑟𝑜 𝑂𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝐹𝑖𝑙𝑚𝑒)Onde histórias criam vida. Descubra agora