Bela acenou para o pai enquanto ele dirigia sua carroça para fora do chalé. Philippe, o gigante gentil em forma de cavalo, jogou a cabeça no ar e relinchou alegre, pronto para a aventura.
Como fazia todos os anos, Maurice estava indo para o grande mercado, a algumas aldeias de distância, para vender suas caixinhas de música. A carroça estava carregada com cada uma das peças em que ele trabalhara no último ano, embaladas e empilhadas cuidadosamente para que ficassem protegidas durante a longa jornada. E, como em todos os anos, ele estava deixando Bela para trás. Era pela sua própria segurança, ele sempre lhe dizia. Ou porque ele não podia deixar o chalé desocupado, como acrescentava às vezes. De todo modo, sempre era a mesma coisa: ele preparava a carroça, Bela se certificava de que Philippe estava pronto para a viagem, então eles passavam pelo ritual de despedida. Bela ajeitava o lenço de Maurice em sua camisa e ele lhe perguntava:
— O que você quer que eu lhe traga do mercado?— Uma rosa como aquela da pintura — era sempre a resposta de Bela.
Então, após um rápido abraço e um agrado em Philippe, Maurice seguiu seu caminho.
Naquele ano não foi diferente. Quando seu pai e Philippe sumiram no horizonte, Bela suspirou. Bem, ela pensou enquanto caminhava de volta para o chalé, e agora? Ela sabia que poderia ler, ou limpar, ou trabalhar no jardim. Mas, por alguma razão, nenhuma dessas coisas a apetecia naquele momento. Ela precisava fazer algo mais. Algo que a afastasse de sua própria mente — que estava começando a se encher de preocupações sobre a viagem do pai, como todo ano.
Reparando na grande pilha de roupas sujas, ela ergueu uma sobrancelha. Normalmente, ela detestava lavar roupas. As lavadeiras estavam sempre próximo à fonte, fofocando e tagarelando. Quando Bela chegasse, elas ficariam mais barulhentas e suas risadas, mais cruéis — fazendo o tempo que levava para deixar as roupas limpas se arrastar, algo excruciante. Se aquilo não demorasse tanto…
Ela olhou pela sala, notando um dos arreios de couro de Philippe e a cesta de maçãs. De repente, ocorreu-lhe uma ideia. Sorrindo, ela correu até o depósito, pegou o que precisava e seguiu para a aldeia. Para sua satisfação, quando chegou, a única pessoa na fonte era uma jovem garota de olhos tristes. Bela já havia visto a menina pela aldeia antes. Ela estava sempre sozinha e, a julgar pela forma como encolhia os ombros e evitava o contato visual, Bela tinha certeza de que ela não tinha muitos amigos. Enquanto Bela a observava, a garota mergulhou uma camisa na fonte, puxou-a de volta e começou a esfregá-la.
Levando sua pilha para a beirada da fonte, Bela começou a tirar seus apetrechos dos bolsos do avental. Ela foi até a mula de Jean, o oleiro, que estava parada próximo à porta da taverna, com sua cabeça abaixada e uma das patas traseiras erguida. Após amarrar uma ponta do arreio de Philippe no cabresto do animal, Bela prendeu a outra ponta em um pequeno barril de madeira. Então colocou todas as roupas e alguns pedaços de sabão no barril antes de erguê-lo e jogá-lo direto na fonte. O barril tombou para o lado, enchendo-se devagar de água. Bela foi até a frente da mula. Balançou uma das maçãs tentadoramente e começou a andar para trás. A mula a seguiu e Bela a guiou por um trajeto ao redor da fonte.
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𝓐 𝓑𝓮𝓵𝓪 𝓮 𝓪 𝓕𝓮𝓻𝓪 (𝐿𝑖𝑣𝑟𝑜 𝑂𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝐹𝑖𝑙𝑚𝑒)
Romance𝑀𝑜𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟𝑎 𝑑𝑒 𝑢𝑚𝑎 𝑝𝑒𝑞𝑢𝑒𝑛𝑎 𝑎𝑙𝑑𝑒𝑖𝑎 𝑓𝑟𝑎𝑛𝑐𝑒𝑠𝑎, 𝐵𝑒𝑙𝑎 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑗𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑠𝑢𝑎 𝑣𝑖𝑑𝑎 𝑚𝑢𝑖𝑡𝑜 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑑𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑎 𝑝𝑒𝑞𝑢𝑒𝑛𝑎 𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑣𝑖𝑛𝑐𝑖𝑎𝑛𝑎 𝑑𝑒 𝑉𝑖𝑙𝑙𝑒𝑛𝑒𝑢𝑣𝑒 𝑝𝑜𝑑𝑒 𝑜𝑓𝑒...