ℂ𝔸ℙÍ𝕋𝕌𝕃𝕆 𝕀

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Bela abriu a porta da frente de seu chalé. Assimilando a imagem perfeita da cena bucólica diante de si, ela suspirou. Todas as manhãs na pequena aldeia de Villeneuve começavam da mesma forma. Pelo menos durante todo o tempo em que Bela vivera por lá.

    O sol se erguia devagar além do horizonte, com raios que faziam os campos que cercavam a aldeia ficarem mais verdes, dourados ou brancos, dependendo da estação do ano. Os feixes avançavam até tocarem as laterais impecavelmente brancas do chalé de Bela, que ficava nas imediações do povoado, antes de por fim iluminarem os telhados de palha dos lares e lojas que constituíam o restante da aldeia. Quando isso acontecia, os aldeões já estavam se mexendo, preparando-se para o dia. Dentro de suas casas, os homens se sentavam à mesa para as refeições matinais enquanto as mulheres cuidavam das crianças ou terminavam de preparar o mingau. A aldeia permanecia silenciosa, como se ainda estivesse despertando.
    Então, o relógio da igreja batia oito horas.

    E, como num passe de mágica, a aldeia ganhava vida.
    Bela havia presenciado a cena centenas de vezes. Mesmo assim, naquela manhã, como em todas as outras, ela mais uma vez se deslumbrava ao contemplar a pequena aldeia e as mesmas pessoas cuidando de suas rotinas. Estreitando seus olhos castanhos cordiais, ela suspirou diante de quão mundano era tudo aquilo. Com frequência, ela imaginava como seria acordar de forma diferente.

    Bela balançou a cabeça. Não lhe fazia bem deixar-se imaginar ou sonhar tanto assim. Essa era a vida como ela sempre conhecera, a vida que ela compartilhava com o pai desde que eles haviam se mudado de Paris, muitos anos atrás. Era uma perda de tempo habitar o passado ou se perguntar o que poderia ter acontecido. Ela tinha coisas para fazer, incumbências a cumprir e — ela olhou para baixo, na direção do livro que segurava — uma nova aventura para desvendar. Bela endireitou os ombros, fechou a porta atrás de si e partiu para a cidade.

    Em questão de minutos, ela abria caminho pela rua principal de paralelepípedos e acenava conforme passava por outros aldeões. Embora tivesse morado na aldeia durante a maioria dos seus anos de vida, ela ainda se sentia como uma estranha aos olhos dos outros. Lá, como na maior parte do interior rural da França, era isolado e insular. A maioria das pessoas por quem Bela passou em seu caminho havia nascido ali e a passaria toda a vida no mesmo lugar. Para eles, a aldeia era o mundo, e os forasteiros eram vistos com desconfiança.

    Bela não tinha certeza se ainda não seria tratada como uma estrangeira caso tivesse nascido na aldeia. Ela realmente não tinha muito em comum com a maioria dos moradores. A verdade é que ela tinha mais prazer em ler do que em ter conversas banais e tediosas — queria era viajar para terras distantes e viver aventuras magníficas, ainda que apenas nas páginas de seus livros favoritos.

    Tecendo seu caminho pelas ruas, ela ouvia o restante dos aldeões cumprimentando-se. Sentiu uma pontada de solidão ao vê-los. Todos pareciam estar perfeitamente contentes com a monotonia de suas rotinas matinais. Ninguém parecia compartilhar de seu desejo por algo novo e empolgante, por algo mais.

𝓐 𝓑𝓮𝓵𝓪 𝓮 𝓪 𝓕𝓮𝓻𝓪  (𝐿𝑖𝑣𝑟𝑜 𝑂𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝐹𝑖𝑙𝑚𝑒)Onde histórias criam vida. Descubra agora