peixe-anjo-imperador 𓇻

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𓆡・.,'゚・゚ʼ



— O✶| -Oi, oi mãe. Não, eu acho, que não vai dar pra' ir essa semana, é que- não vamos ir... Ah, sabe como é mãe... Muita coisa no trabalho, e a faculdade dele também. É, te ligo depois. Não tô bebendo mãe. Para com isso, eu... Preciso desligar, tá? Mando, mando beijo pra' ele sim. Tchau.

A ligação é encerrada e copo faz um som quando jogo os braços com força acima da mesa, enterrando minha cabeça sobre eles. "Céus, que porra." Lamento, engolindo o resto do álcool que tinha no vidro. O corpo pesava tanto mas não mais que minha vida, tenho tanta coisa pra' fazer. Tanta coisa. Eu preciso resolver coisas do trabalho, tem pelo menos umas cinco metas pra' cumprir e o mês está acabando significa que não vou conseguir o extra e estou juntando pra' ir a cidade da Pérola com... meu deus eu não estou mais com ele! Por que ainda me preocupo com essa viagem? Mas eu queria ir foi ideia minha, porque ele nunca viu, mas eu já vi. Será que ele também se preocupa com isso? Não compramos as passagens ainda... Eu quero morrer. Ou será que quero matar algo que tem dentro de mim? Por que a minha vida é tão ruim? Ou por que eu me sinto assim? Eu tinha tudo pra' estar satisfeito. Mas não gosto do meu namoro, não gosto do meu emprego, não gosto da minha casa, não gosto de mim, não gosto do que quero ser, eu não quero ser nada, o que eu quero no final das contas? Se eu pudesse seria tão absurdo quando o sol, longe, brilhante e maior que todas essas preocupações. Mas eu sou só... um peixe palhaço.

Não quero mais falar com meus pais, eles gostavam de Changbin, só que eu não. Por que por tanto tempo fiz coisas por outras pessoas? Nunca percebi antes? Eu só vou pra' Pérola por causa dele, alguns amigos eu só mantenho por que saem com ele, meus pais gostam dele, mas também gostam de mim sendo assim... tão sem graça.

Se eu pudesse, o que seria alem de mim? O que eu seria além do que sou? Será que eu sou o que sou? Ou só finjo ser? Eu sou ou vou ser? Há muita coisa a dizer que não sei como dizer. Faltam as palavras.

Quando me faço sentado à janela do meu quarto contemplando a noite, eu a vejo de novo, e ela me sente. Carrega um pedaço de bolo branco, nua, o atravessa a sua janela até a minha, e me entrega, porque estou triste. Descobri que faz isso sempre que me sente triste, não funciona, mas ela diz tentar. Seus cabelos estão molhados, e ela acaba de sair do banho, grudam a sua testa, por entre seus olhos e rosto bege. Suas bochechas estão alaranjadas contra a luz, e ela me espera comer.

— Estamos iguais. Limpos. — Ela se refere ao fato de eu também estar sem vestes, mas uso toalha. — O que te aflige hoje é o mesmo de ontem e de todos os dias?

— Sempre. — Murmuro entre o sabor intenso do creme de limão, ela é tão mágica que tudo que toca derrete na minha língua com tanta maestria. Após questiono — Muriel. Quem você é?

— Ah, sou tantas coisas. Eu já te falei poucas. Não está satisfeito? Com o pouco?

Limpo o rosto com o dorso da mão, e respondo-lhe — Sinceramente? Não.

— Bem... Nesse terreno do é-se sou puro êxtase cristalino. É-se. Sou-me. Tu te és. — Ela diz como se fosse óbvio, como se me fizesse sentido, mas não faz, e eu a aguardo —... Sou assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico, fantástico e gigantesco: a vida é sobrenatural. E caminho segurando um guarda-chuva aberto sobre corda tensa. Caminho até o limite do meu sonho grande. Vejo a fúria dos impulsos viscerais: vísceras torturadas me guiam... Não gosto do que acabo de dizer, mas... sou obrigada a aceitar o trecho todo porque ele me aconteceu. E respeito muito o que eu me aconteço. Minha essência é inconsciente de si própria e é por isso que cegamente me obedeço. Comprazo-me com a harmonia difícil dos ásperos contrários. Quem eu sou? A resposta é: sou.

ÁGUA VIVA ✧ ᴹᶦⁿˢᵘⁿᵍOnde histórias criam vida. Descubra agora