Catorze

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Austin trocava os canais da televisão tediosamente, não se decidindo entre assistir ao filme que passava sobre animais ou ao programa de culinária. A solidão do quarto do hospital estava o deixando irritado. Ele observou o soro pingando lentamente e correndo até sua veia, então voltou a atenção para a televisão.

Seu pai estava ali ao lado. Ele nunca tinha saído do lado do filho desde a morte de sua esposa, a não ser pela época que Austin passou na Austrália gravando o filme. Ele sabia que seu filho havia voltado diferente do que ele costumava conhecer, mas não sabia o motivo, já que ele quase nunca conversava sobre isso.

Duas batidas na porta ecoaram pelo local, fazendo o homem se levantar em um pulo, assustado com o barulho. Ele se ajeitou e foi até a porta, abrindo-a para ver uma enfermeira ruiva ali.

— O Austin tem uma visita. Olívia.

O loiro arqueou as sobrancelhas, ajeitando sua postura naquela cama nada macia de hospital. Ela estava mesmo ali para vê-lo? Era por isso que ele aguardava ansiosamente.

Seu pai o olhou e ele assentiu, permitindo que ela entrasse. A enfermeira saiu por alguns segundos e isso foi tempo suficiente para Austin passar a mão no cabelo tentando se ajeitar o máximo que conseguia.

— Oi — a mulher sorriu para David quando surgiu no quarto.

Austin encolheu os ombros ao ver que não era a Olívia que ele pensava. Era sua amiga de cena que tinha interpretado Priscila no filme. Por um momento ele tinha se esquecido que existiam milhares de mulheres com o mesmo nome por aí, até mesmo de alguém muito próxima a ele.

David resolveu que deixaria os dois a sós, então saiu de fininho fechando a porta atrás de si. Olívia DeJonge se aproximou da cama e segurou a mão de Austin, que ainda estava fraco demais para apertá-la.

— Como tem se sentido? — perguntou ela baixinho.

— Na porta do céu esperando se vou entrar ou não — ele brincou. — Você sabe, a fila está bem grande hoje.

Ela sorriu com o senso de humor do amigo, mas logo aquilo se transformou em um choro, algumas lágrimas rolavam pelas bochechas dela.

— Tive medo de te perder — confessou. — Você é mais importante para mim do que imagina. Pode me contar o que aconteceu?

— Não foi nada demais. Só tomei dois comprimidos a mais do que o recomendado, eu tinha bebido álcool e acho que foi o que piorou a situação.

— Todos nós sabemos que bebida e remédio não funcionam juntos.

Ele sabia. Ele era esperto e sabia muito bem que a combinação não resultava lá em boas coisas. Mas sua mente estava o atraindo para aquilo como uma armadilha e ele não poderia evitar.

Quando chegou em casa destruído pela droga do amor que sentia por uma garota australiana, tentou dormir sem se medicar, achava que o vinho tinha sido suficiente para deixá-lo com sono. Mas não foi o que aconteceu. O relógio marcava cinco e meia da manhã quando ele girava na cama ainda tentando entender como sua vida tinha se transformado num caos em menos de três anos. Abriu os olhos e observou a bandeja de comprimidos sobre a escrivaninha chamando-o suavemente. Então ele cedeu. Se levantou da cama e se arrastou para lá, pegando os comprimidos na mão, deveriam ser dois, mas ele deixou cair dois a mais e sua mente traiçoeira ainda lhe sussurrava para tomar porque assim ele dormiria bem e não pensaria nos problemas.

Sem pensar muito mais, engoliu os quatro comprimidos e voltou a se deitar.

Tudo piorou quando ele girou na cama mais uma vez, sentindo como se estivesse flutuando. Sabia que aquilo não era bom, por isso se levantou ainda tonto e deu a volta na cama para tentar chegar até a porta e chamar alguém para ajudá-lo, mas não foi tempo o suficiente.

Seu estômago se revirou e ele se abaixou para vomitar, mas não tinha o que sair. Com isso, sua tontura começou a deixá-lo com a visão turva, derrubando-o no chão.

David tinha acordado com um barulho de algo quebrando, ele tinha o sono muito leve, por isso qualquer coisa o acordava. Caminhou até o quarto do filho e bateu na porta.

— Austin? Tudo bem aí?

Silêncio. Ele encolheu os ombros pensando que talvez pudesse ter sido apenas coisa da sua cabeça. No entanto, sua mente pareceu o alertar.

— Austin?

Ele girou a maçaneta, sentindo-se aliviado pela porta estar destrancada. A princípio apenas colocou o rosto para dentro do cômodo, procurando-o na cama bagunçada, mas em segundos seu olhar deparou-se com seu filho no chão, desmaiado. Entrou em pânico.

— Filho? — o chamou mais uma vez, balançando-o, mas nenhum sinal de que ele acordaria.

Levou sua mão até seu pulso, percebendo que mesmo fraco ele ainda estava vivo e imediatamente seus olhos pousaram sobre a bandeja de remédios, vendo a caixinha aberta.

Ele puxou Austin para cima com dificuldade, colocando-o entre seus braços enquanto ligava com o celular do filho para a emergência.

— Vai ficar tudo bem — murmurava para si mesmo mais do que para seu filho. Ele queria que ficasse bem. Não aceitaria perder mais uma pessoa que tanto amava.

No quarto de hospital, Olívia acariciava as costas da mão dele.

— Promete para mim que vai ficar bem? — perguntou ela.

— Claro que vou, logo logo recebo alta e volto a ser eu mesmo.

O problema era que ele sabia que não voltaria a ser ele mesmo tão cedo.

— Vou confiar na sua palavra.

Ela sorriu, soltando a mão dele.

Quando ele a viu sair pela porta do quarto jurou ter visto a outra Olívia no corredor, gesticulando para uma enfermeira.

— Pai! — Austin o chamou fazendo-o entrar. — Abre mais a porta.

David escancarou a porta, fazendo o filho ter certeza que era mesmo ela, praticamente brigando com a enfermeira. Austin sorriu antes de pedir ao pai para que autorizasse a entrada dela.

— Não acredito que finalmente te encontrei!

E ao contrário da Olívia amiga de gravações, a Bennett não chegou de mansinho e muito menos segurou a mão dele. Ela estava tão desesperada para vê-lo que o abraçou com força, surpreendendo não só a ele, mas também a David que observava tudo da porta. Foi bem ali que ele descobriu quem era que invadia os pensamentos de Austin desde que ele havia voltado da Austrália. Mas temia que ela fosse o motivo pelo qual ele estava ali internado.

— Eu achei que tinha te perdido — ela soluçou quando se afastou, fazendo-o limpar as lágrimas dela com as costas de sua mão.

Austin puxou Olívia para perto novamente.

— Você não vai se livrar de mim assim tão fácil, Bennett — ele sorriu para ela, que riu entre o choro.

Love Me Tender | Austin ButlerOnde histórias criam vida. Descubra agora