Maior que o infinito

Acordei viva

Amanheceu , Angélica permanecia imóvel na cama incrédula com o dia anterior, de fundo gritos e risadas de crianças, ela morava ao lado de uma escola.
Levantou abriu a janela e começou a observar as crianças correndo , passou um filme em sua cabeça lembrou dos tempos de escola quando as crianças riam da sua falta de cabelo . Por longos anos ela manteve o cabelo curto devido a uma alergia , está aí um sonho que ela havia realizado : cabelos longos .
Colocou seu uniforme, preparou uma xícara de café , sentou no canto do sofá e fechou os olhos, queria sentir o mesmo frio na barriga do fim da tarde anterior . Enquanto navegava por suas lembranças tentava memorizar cada momento sem saber se iria se repetir.
Ela era frágil, sensível e delicada quando se tratava de paixões e amor , porém na vida já havia enfrentado muitas batalhas , o pai a abandonou , o padrasto era alcoólatra e a espiava tomando banho na infância, os irmãos 2 mais velhos eram sua salvação porém ambos a essa altura já estavam casados e felizes , a mãe com pouca instrução também era de poucas palavras e quase nenhum colo . Morava sozinha em um apartamento fofo , sem móveis projetados porém completo com o que uma menina solteira precisava.
Regou sua planta , colocou a roupa no varal , preparou o lanche pra levar e pegou o elevador , elevador esse que estava tão lento a ponto dela projetar todos os possíveis diálogos com o Rafhael na chegada ao trabalho .
O trajeto era curto morava a 10 minutos do trabalho , buzinou sua moto para cumprimentar seu Osnildo que morava no início da rua , parou na faixa para as crianças atravessarem , deu vez para o ciclista queria garantir que o trajeto nesse dia fosse mais longo, não estava preparada para o encontro .
Chegou ! Estacionou a moto e adentrou a empresa com o capacete :
- O que estou fazendo ? Que patético isso , tira esse capacete e encare a realidade Angélica !
Se dirigiu de cabeça baixa até os armários , guardou a bolsa , colocou o crachá, respirou fundo e foi para frente da loja .
Percebeu que Rafhael não havia chegado e por uns instantes imaginou que ele talvez não viria naquele dia , talvez teria adoecido , ou o pior se arrependido. Estava tirando o pó dos móveis quando ouviu :
- Bom dia! Dormiu bem ?
Era ele , sorriso de orelha a orelha , crachá na camisa e um copo de café nas mãos .
- Dormi sim! Já viu as ofertas de hoje ? Vou lá etiqueta-las .
Ofertas Angélica? Isso é o máximo que você consegue falar após um sorriso e um bom dia desses? Acorda menina, volta lá e fala o que sente . A cabeça continuava imaginando diálogos que não passavam de monólogos com a sua consciência.
Primeira cliente do dia era a querida Sunara, mãe de dois filhos lindos que enfrentava um câncer de mama . Sunara abraçou Angélica , colocou a mão sobre o seu ombro e exclamou:
- O seu sorriso está diferente, mudou algo em você ? Talvez o cabelo , a sobrancelha ou a maquiagem.
-Não querida , acho que está tudo igual ao mês passado na última vez que se vimos .
Enquanto observava Sunara caminhar com seu lenço envolvido na cabeça devido ao tratamento ela tentava entender se realmente algo mudou.
Chegou o fim do dia e entre um corredor e outro ambos se olhavam e sorriam . Angélica já estava estonteante com o que havia acontecido, sem pretenção de um novo esbarrão pelas escadarias ela se sentia feliz , enquanto todos apenas à olhavam Rafahael à enxergou.
Último compromisso do trabalho , subir as escadas do depósito e organizar as caixas . A mente não parava de pensar nenhum segundo no beijo , ela começou a delirar em seus pensamentos e chegou à conclusão que foi por pena .
- Ele deve ter muita pena de mim. Olha pra você Angélica , gorda , feia, sem "sal nem açúcar ", unhas por fazer . Ele com o braço tatuado, moreno, alto e esportista , foi um equívoco, apenas queria te ajudar a ter um dia melhor .
Apegada a esses pensamentos o brilho em seus olhos foram diminuindo , a medida que o depósito ficava organizado os pensamentos dela também, terminou e se sentou para descansar , o sorriso já dava lugar para uma lágrima , secou o rosto e a luz se apagou, todo o espaço possuía um sensor de iluminação.
Ouviu passos na escada e prontamente se levantou , não queria que ninguém soubesse que estava abalada. Era Rafhael , se aproximou, tirou seus cabelos de frente dos olhos, passou a mão em sua cintura e lhe deu um beijo, veio o segundo e o terceiro , três intensos e longos beijos .
- Se encontramos aqui, amanhã as 17:30hrs . Tenha uma boa noite .
Sem dizer nenhuma palavra novamente , ela desceu as escadarias e era visível que o brilho nos olhos iluminava tudo .