Dia 01 Despindo a alma

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Cabelos preso , com frizz, sombra azul nos olhos ,
brinco com flores , uma sapatilha, calça jeans e bochechas rosadas assim Angélica iniciou mais um dia .
Mais um dia na vida de uma menina que já tinha 25 anos e não conseguia vê no espelho uma mulher . Desde cedo Angélica se dedicou a todos deixando de lado seus sonhos, projetos , desejos e nem vamos mencionar sua autoestima. Ela era a caçula de uma família nada convencional, poucos colos, poucas conversas , poucos retratos e quase nenhuma referência de figura feminina presente .
Na adolescência Angélica havia se apaixonado na escola, uma paixão que durou muito mais que 201 dias , porém não despertou o melhor dela , a aprisionou , sufocou e a derrotou .
Um sussurro no ouvido , um bilhete inesperado , uma ligação no meio do expediente, um beijo no elevador , uma ida ao motel , uma fantasia , nada disso ela havia experimentado . Sendo sincera caras leitoras Angélica não tinha vivido ainda uma paixão de tirar o fôlego e despir sua alma, até hoje.
Era fevereiro ao fundo o som de marchinhas de carnaval , todos sorrindo e seguindo seu expediente. Subia e descia a escadaria do trabalho diversas vezes durante o dia. Caminhava pelos setores cumprimentando os colegas ainda em ritmo de aniversário, fazia 2 dias que ela havia completado seus 25 anos e ainda tinha a esperança de receber flores , cujo qual nunca chegaram .
Passava das quatorze horas quando ela desastrada tropeçou , sentou em um degrau e por uns 10 minutos se perguntou como seria seu ano, será que algo mudaria na sua vida monótona, deu um leve sorriso levantou-se e exclamou:
- Para de ser boba Angélica e volte ao trabalho , talvez ano que vem ou no aniversário de 30 anos .
Entre uma marchinha e outra ela arriscava suavemente mover o corpo quando ninguém a olhava , nas ida ao banheiro desviava o olhar do espelho , não era contente com a aparência que refletia, preciso contar a vocês que faziam 3 anos que ela não se olhava do pescoço para baixo em frente a um espelho. Certa vez alguém a falou que ela tinha uma aparência horrível e nem com muito custo iria conseguir mudar , porém tinha um bom coração , essa frase ecoava no seu sub consciente e ganhava vida a cada reflexo seja de um espelho, um carro estacionado ou uma câmera fotográfica.
Quase chegando o fim de mais uma segunda feira, última subida para o depósito e ela sentiu um forte puxão de cabelo , suas mãos entrelaçaram nas mãos de alguém, seus braços foram aprisionados a parede, uma respiração ofegante , um corpo encostando no seu e um beijo intenso, naquele momento Angélica teve sua alma despida.
Enquanto o beijo acontecia ela pensava que não era possível alguém sentir algo tão forte , não era possível uma sensação tão incrível que percorria dos dedos do pé até a sua nuca.
- Como nunca experimentei isso antes? É isso que uma mulher sente ao ser beijada? Que frio na barriga, será que ele vai passar? O que se fala quando os olhos abrirem?
As mãos foram se soltando , os olhos abrindo e um silêncio ensurdecedor tomou conta daquele momento. Antes que pudesse falar algo Rafhael colocou o dedo sobre o seu lábio :
- Você é muito além do que todos veem eu consigo te enxergar! Menina solta esses cabelos e sorria, liberte-se para o mundo.
De alma despida, sem fôlego, sem rumo e pela primeira vez sem palavras, ela percebeu que precisava experimentar o sentido da vida, ela precisava
experimentar novamente a sensação do coração parar por alguns segundos e mesmo assim estar viva.
Angélica foi pra casa Viva de uma forma que em 25 anos ela não havia experimentado, era o dia 01.

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