4: O Amargo Sabor do Desespero

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— Cascão, eu queria tanto meter um chute na sua cabeça — falava Cebola, enquanto caminhavam para o hospital.

Ao invés dos dois garotos irem embora às sete, ficaram até às dez horas no campinho, com Cascão mostrando as novas manobras de skate que aprendeu. Mas o atleta, já cansado depois da partida de futebol, sentiu suas pernas falharem e assim caiu no chão agressivamente, tendo seu corpo esmagando seu punho direito.

— Você é um péssimo amigo, eu me machuquei, mano — respondeu Cascão, com o seu amigo revirando os olhos.

— Se machucou porque é um otário — Cebola avistou o hospital e assim observou as duas portas laminadas abrirem automaticamente. — Entra primeiro, cara.

Ao adentrar no recinto, a primeira coisa que Cebola pensou era que havia acontecido algo. Era notório os olhares assustados das enfermeiras atrás do balcão, que sussurravam entre si que Deus havia abandonado o Limoeiro e os pacientes, com as faces penosas, que fitavam um ponto em comum.
Um amontoado de policiais no meio do corredor, falando com uma presença tão familiar para os dois garotos. Dona Sousa respondia algo para eles, com os olhos vermelhos e a face pálida, enquanto ao seu lado, Dona Lina massageava as costas da amiga.

— O que tá acontecendo? Porque a mãe da Magali tá aqui? — indagou Cebola para Cascão, que fitava algo que não o parava de olhar.

— Acho que alguém pode explicar tudo isso — respondeu o melhor amigo, com Cebola notando.

Em meio às duas mães amedrontadas, uma jovem habitava entre elas, com os olhos curiosos que se voltaram aos dois amigos.
Magali prestava atenção nos policiais, mas ao ver Cascão, sussurrou no ouvido de Dona Lina que iria ao banheiro e recebendo o olhar fervente de sua mãe, se afastou das duas e foi em direção aos meninos.

— Gente! — Chamou a garota, se aproximando. — Que cês tão fazendo aqui?

— O Cascão machucou o punho — respondeu Cebola, com seu amigo mostrando a mão dolorida. — Mas Maga, eu que pergunto, o que aconteceu aqui?

Magali suspirou arduamente, antes do olhar sombrio surgir em seus olhos:

— A Mônica foi atacada.

•••

Cascão foi atendido rapidamente pela enfermeira, que o colocou em uma sala pequena, deixando-o sentado em uma maca. Porém, enquanto a dor passava, o horror surgia nós três adolescentes.

— A Mônica foi atacada e o Titi morreu? — rompeu Cebola, ao lado do amigo, em choque.

Magali havia contado tudo que ouviu dos policiais, observando as reações de espanto dos garotos enquanto estava à frente dos dois, perto da porta aberta.

— O Titi eu não sei, mas o que aconteceu com ele foi grave. Parece que foi esfaqueado dez vezes — contou a morena, com os meninos se entreolhando.

Cebola desejou por um fugaz momento chorar. Conheceu Titi na época da turma do bermudão, um grupo de crianças que se achavam mais maduras que as outras. Mesmo tratando o resto das crianças com insignificância, no final da tarde, sempre iam jogar bola juntos no campinho. E quando todos cresceram, um laço de amizade se fortaleceu entre eles, agarrando seus pulsos e corações.
Imaginar que um amigo quase morreu era algo doloroso, e a melancolia só aumentava ao saber que Mônica também havia quase morrido, mesmo os dois não se gostando pelas intrigas do passado.

— A Mônica tá bem? — perguntou Cascão, com Magali assentindo.

— Ela parece bem, não se machucou tanto. Tava sendo interrogada pela polícia, no quarto onde o Titi tá internado — a garota respirou fundo, passando as mãos trêmulas pelo cabelo. — Eu fui a culpada disso tudo. Eu que dei a ideia da Mônica mentir pra Dona Sousza, ir pra casa do Titi e depois voltar meia noite pra dormir comigo. Meu Deus, eu...

𝐒𝐜𝐫𝐞𝐚𝐦 - Turma da Mônica Jovem (TMJ + Pânico)Onde histórias criam vida. Descubra agora