5: Todos Irão Se Lembrar de Você

101 11 19
                                    

Manezinho é um esquecido. Na verdade, ele se sente esquecido.

O antigo amigo da turma do bermudão e de todos do bairro se mudou para Portugal no auge dos seus nove anos, um país europeu que abrigava uma oportunidade de vida imprescindível para a sua família: uma oferta de trabalho para o seu pai.
Com o novo trabalho, poderiam comer sem se preocupar com o pouco dinheiro que teriam que usar para pagar conta de água que deslizava por debaixo da porta ou com a possibilidade de comprarem sabão em pó, sem sacrificar outro item na lista de compras. A família de Manezinho ficaria em paz e por isso arrumaram as malas, viajando para a nova vida.

Depois de oito anos, Manezinho sentiu os ares do Brasil novamente, pousando em São Paulo e pegando um ônibus de quatro horas da capital até o seu antigo bairro, o Limoeiro. Iria matar a saudade de sua avó, Dona Manuela, que ficou no Brasil e se sustentou sozinha vendendo quitutes e quentinhas para outros moradores

Manezinho achou que todos o iriam o reconhecer, mas depois se deu conta que estava tão diferente desde a última vez que morou no Brasil.
Agora estava mais alto, não possuindo o cabelo partido e sim um corte militar,  ficando mais atraente para uma criança que era considerada feia pelo resto das outras. Porém, por conta do saudosismo que palpitava em seu coração, relembrando seu antigo eu, colocou uma jardineira jeans vermelha sangue por cima de uma camisa branca larga.

Enquanto caminhava pelas ruas do Limoeiro, todos o olhavam fascinados, alguns o reconheciam e outros o ignoravam no instante em que viam seu rosto.

Manezinho perguntou sobre seus amigos, sobre Titi e os outros, para o dono da loja de doces que ainda se lembrava do garoto. O dono ficou com o rosto sombrio, falou que os tempos de paz acabaram e que alguma coisa aconteceu com Titi dois dias atrás.

Assim, Manoel notou. Não havia tantas crianças nas ruas, alguns estabelecimentos estavam vazios e as viaturas circulavam incessantemente. Algo havia acontecido e ele não sabia o motivo.

Continuando a andar pelo bairro, notou que novas construções foram erguidas e outras demolidas. A única coisa que o encantou foi o Jardim Botânico, que entrou assim que leu que não era preciso pagar para entrar.

Manoel ficou maravilhado. Admirou as matas altas, árvores erguidas que escondiam o teto de vidro e principalmente o cheiro das flores que inundava o recinto e caminhavam até seu nariz, fazendo cócegas.

"Caralho, esse lugar é lindo" pensou, se aproximando de uma roseira.

Manezinho fitou o conjunto de ramos verdes, que estendia belas rosas, unidas como uma família. Ao fundo, notou uma das rosas jogadas na terra, abaixo das que estavam acima, longe do que um dia já fez parte.
Ele se entristeceu, pois se viu naquela rosa. Um dia já fez parte do bairro, daquela turma bagunceira que caçoava de todos os garotos menores. Mas agora estava longe, habitando em lembranças antigas e só se mantendo na mente de sua avó.

Naquele momento, o soar do seu celular vibrou em seu bolso, onde apanhou rapidamente e colocou em seu ouvido:

"Deve ser minha avó."

— Estou! — falou Manoel, enfrentando o silêncio. — Alô, quem estás falando?

Outro silêncio gutural surgiu.

Como é se sentir esquecido pela sua antiga turma? — rompeu a voz grave.

Manezinho arqueou as sobrancelhas, olhando ao redor. Não havia ninguém por perto.

— Quem estás falando? — indagou assustado. — Quem?

As matas começaram a se mexer ao redor.

Antigo amigo, o único que se lembra de você — continuou a voz, enquanto o português caminhava para a saída. — O único que lembra dos seus bullyings e de todo mal que fez.

— Eu era uma criança — esbravejou furioso, entrando em um caminho de terra, com enormes árvores ladeando ao redor. — Porque estou dando satisfação a você? Irei desligar, tenho coisas mais importantes pra fazer.

Que falta de educação. Um bom português é minimamente educado como um príncipe — respondeu a voz, com o garoto sentindo um olhar fervente atrás da mata densa, dentro das folhas que cobriam o manto negro. — Mesmo sendo mau educado, vou te ajudar.

Manoel parou, engolindo seco, com suas pernas tremendo e disparando seu olhar para os lados.

— Como, seu idiota? Eu estou muito bem pra ser ajudado — respondeu, pressionando o celular em mãos.

Vou fazer todo mundo se lembrar de você, Manezinho — falou a voz antes de desligar —, como a nova vítima do bairro.

Assim, Manoel colocou o celular no bolso. Sentiu sua respiração pesar, enquanto começou a andar para frente, até parar ao ouvir um galho estalando na mata ao lado.
Ele fitou as folhas, vendo um grande labirinto de troncos grossos, parecia que não havia nada. Mas outro barulho estalou, e a sua curiosidade se moveu sob seu corpo.

Manezinho ficou próximo às árvores, pondo suas mãos no corrimão. Ele olhou novamente e não viu nada, somente o silêncio.

Ele se virou, ficando de costas para a mata, dando um longo suspiro. O ar inspirou novamente por sua boca para ser despejado, até um cordão metálico envolver seu pescoço e apertar sua pele até seus músculos se fecharem.

Ele foi puxado agressivamente para trás com seu corpo se chocando com a terra e sendo levado para mata densa enquanto inúmeros fios de sangue banhavam a linha metálica .
Em um pulo, Manezinho foi levantado enquanto era rastejado e assim, Ghostface fez seu ato final.

O corpo de Manoel foi jogado contra um robusto galho afiado, que atravessou seu peito e rasgou a fina camada de sua pele, jorrando um laço de sangue que voou pelas folhas e cruzou todo seu peitoral.

Ghostface caminhou até Manoel, que abria sua boca e gorgolejou o líquido rubro, manchando sua camisa e se misturando com a jardineira vermelha. Logo, o homicida fugiu do Jardim em seguida após ver que seu trabalho estava feito.

E assim, o espírito impiedoso deixou Manezinho marcado nos jornais, sendo relembrado por todos os moradores que o antigo residente do Limoeiro havia sido morto pelo novo assassino do bairro.


Manezinho é um dos personagens que participava das edições antigas, sendo um dos interagentes da turma do Bermudão. Porém, com a evolução de Turma Da Mônica, foi esquecido no churrasco e nunca mais voltou.
Eu me lembrei dele, mas para ser a nova vítima do Ghostface, é claro.

Não esqueçam de votar, comentar para me apoiar. Interações me motivam.
Até o próximo capítulo! ☎️

𝐒𝐜𝐫𝐞𝐚𝐦 - Turma da Mônica Jovem (TMJ + Pânico)Onde histórias criam vida. Descubra agora