Yellow Dreams

Prólogo

Não é adorável, estar completamente sozinha?
Coração feito de vidro, e a mente feita de pedra
Rasgue-me em pedaços, da pele ao osso
Olá, bem-vindo ao meu lar
Lovely,2018

Aplaudindo de pé, assim se encontrava a plateia em um dos mais badalados teatro da cidade, meu coração batia na boca, eu não tinha palavras para o que eu estava sentindo. Todo o esforço, toda a dedicação, todas as renúncias, aquele momento compensava tudo. Ser o destaque numa apresentação desse porte, ainda mais aos 19 anos e além de tudo com "O quebra - nozes", sem dúvidas essa é a noite mais feliz da minha vida, olho para minha mãe, ela está em lágrimas, nem acredito que ela atravessou literalmente o mundo só para me ver dançar, meu pai se mantém neutro, é impossível saber o que ele está pensando, apesar de ter uma ideia. Ele nunca apoiou minha saída da Coreia para dançar nos Estados Unidos, minha mãe como boa americana apoiava pelos dois, resultado vim pra América com 16 anos, sou do corpo de balé de uma ótima companhia e acabo de fazer a personagem principal da peça.

Depois de ser o centro das atenções me reúno com a minha família e decidimos sair para jantar, meu pai nunca foi muito de falar, mas consegue soltar como eu estava bem, até me deu um cachecol azul de presente que eu já estava usando, decidimos jantar em um bistro charmoso próximo do teatro, seria só atravessar a rua e caminhar um pouco, quando atravessamos a rua o cachecol voou do meu pescoço, o inverno nova-iorquino estava no seu auge, voltei tentando recupera- lo, afinal, tinha acabado de ganhar, foram 7 segundos, apenas 7 segundos que mudaram minha vida.

Em uma cama de hospital, estava agora, ao tentar pegar o cachecol acabei sendo atropelada, foi um alvoroço, o motorista prestou os primeiros socorros e me trouxe para o hospital, estou em um quarto simples e extremamente limpo, o cheiro de iodo, álcool e produtos de limpeza fazem meu estômago revirar,minha perna esquerda está enfaixada e imobilizada, todo o meu corpo doí, meus pais estavam conversando com o médico fora do quarto os observo pela parede de vidro, pela cara dele as notícias não são boas. Minha perna está fraturada em três lugares, vou precisar ficar com gesso por pelo menos vinte dias o que significa que possivelmente vou ficar de fora e próxima apresentação, chega até ser irônico o fato de que acabei de me apresentar com o quebra nozes e agora estou aqui, uma bailarina quebrada.

Vinte dias mais pareceram uma eternidade, meus pais voltaram para a Coreia dois dias depois do acidente, minha mãe queria montar acampamento no meu dormitório, porém a convenci que ficaria bem e que ela também tinha seu Studio para tocar, assim como meu pai tinha o seu trabalho. Depois de tirar aquele gesso horroroso o médico recomendou fisioterapia e o mínimo de esforço pelos próximos dois meses o que significava que estaria fora da próxima temporada, só não contava que seria totalmente dispensada pela companhia, ficando assim sem emprego, teto e sonho. Voltar para a casa dos meus pais não era uma opção, liguei para Bob afinal meu namorado iria me acolher e me apoiar, ledo engano, terminou comigo pelo telefone,disse que precisava focar na carreira dele e não tinha tempo para ser enfermeira de ninguém. Consegui contato com uma irmã da minha mãe e ela me acolheu, mas não sem me humilhar e me colocar para trabalhar no seu mercadinho praticamente por casa e comida. Depois de quase cinco meses de fisioterapia, consegui um emprego como professora de balé em uma escola infantil, um pequeno loft para morar, voltaria aos ensaios normais, quem sabe recuperar minha vaga na companhia, o destino tinha outros planos e dançar definitivamente não era um deles.

Foram mais sete meses de fisioterapia para fortalecer e reabilitar os músculos e ossos da perna e assim voltar a dançar, já era inverno novamente e a minha antiga companhia apresentava novamente "O Quebra - nozes" adivinha quem é o quebra nozes? Exatamente, Bob e Clara é interpretada por Sam minha melhor amiga que agora é namorada de Bob, que lindo casal não é mesmo? Apesar de serem podres confesso que a apresentação saiu impecável, eles são bailarinos modelos e o cenário, o clima... Eu amava tudo aquilo, eu amava o Natal em NY, a neve, as músicas, toda aquela loucura natalina... Meu celular vibra é um número internacional desconhecido, sinto um aperto no peito e o estômago embrulhado. Atendo e a voz desconhecida do outro lado diz