Capítulo 5

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Você está com as bochechas coradas?
Você já teve aquele medo de não conseguir afastar
Do I Wanna Know?, 2013

Acordar no sofá se tornou parte da minha rotina esses últimos dias,confesso que atacar o filho do senhor Park foi sem dúvida um dos momentos mais embaraçosos da minha vida e que não foi o último essa noite, eu tive que o constranger com uma bolsa de gelo e ainda fazê-lo ficar comigo porque estava com medo. O quão patética ele deve achar que eu sou? Quase todas as nossas interações foram vexatórias, como no dia em só precisava destravar as rodinhas do piano ou quando ele veio conhecer o espaço e fiquei questionando por uma criança que não existia. Então caio na real, eu dormi e não terminei o filme, ele foi embora, Jesus, e se eu ronquei ou babei. Jogo esses pensamentos para o fundo da minha mente, hoje meu dia está livre, então decido praticar para a competição, não estou muito segura da música, não faz muito meu estilo, mas é forte e provocante, acho que pode gerar um impacto, no mais é só técnica, reproduzir uma coreografia, o que pode dar errado? Tomo banho e um café forte, olho pra bolsa de gelo jogada na pia, Aiish... qual a próxima vergonha? O que mais pode acontecer? Talvez seja melhor manter distância para evitar mais constrangimentos, isso, é um bom plano, manter distância.

Estou a um bom tempo me olhando no espelho e sinceramente, magra demais, baixa demais, nada sexy ou mesmo sensual, será mesmo que posso fazer isso? Talvez seja melhor desistir... Não, desistir não é uma opção, preciso ser racional apesar da minha atitude desesperada, entrar em uma competição? Sem dúvida é uma loucura, mas não posso perder essa casa e o dinheiro vai ajudar bastante com a dívida. Me alongo, coloco a música, marco o tempo, marco os movimentos sem o salto, depois com o salto, repito algumas vezes, é uma coreografia simples, porém cansativa a perna já começa a dar sinais de dor, sei que ela vai falhar, porém preciso ir até o limite, é algo maior que eu, repito quase toda ela, perto do final como esperado minha perna falha. Estou ofegante, escuto meu coração nos ouvidos, me sinto viva apesar da dor, então o vejo ali parado, mãos nos bolsos, usa preto desde o boné ao tênis uma bolsa de academia no ombro, ele sorri o que sempre me deixa tímida

-Eu gosto, pode repetir? - não consigo esconder o sorriso, tem algo nele que me faz sentir confortável, apenas concordo e giro pra repetir.

Repassei a coreografia agora de frente para ele, o que foi diferente, seus olhos estavam atentos a cada movimento, sua cabeça se movia no ritmo da música, consegui concluir dessa vez e agora estava ansiosa pela sua opinião.

-Uau, você domina muito bem a coreografia, sua respiração, o tempo - começou, porém senti que vinha algo- mas senti que você estava mais retraída do que quando não sabia que estava sendo observada.

Isso era óbvio, porém se eu queria competir, iria precisar vencer isso, então se eu tinha acesso a um dançarino mais experiente, porque não perguntar? Quando o conheci não fazia ideia de quem era, depois que Halmeoni me falou quem era, lógico que fui pesquisar e novamente me sentir a pessoa mais desatualizada do universo, o grupo do qual ele fazia parte era simplesmente o momento, eles estavam em todos os lugares e eram amados por todos, buscando na memória já havia visto seu rosto em vários lugares diferentes da cidade, por isso era tão familiar.

- Faz algum tempo que não me apresento, então... - justifico - e bem, eu fazia balé clássico, isso é bem diferente

-Bastante, diria que o oposto - fala mexendo no celular - se eu fosse você - uma música substitui a que tocava no sistema de som- eu sentiria a música - solta a bolsa no chão e tira o tênis, batidas de bateria acompanhada de um baixo enchem a sala- tudo é sobre você e a música

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