III

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“Talvez o jeito que estou vivendo esteja me matando.”
– Lana del Rey

Kenma entra pela porta de seu apartamento com o rosto cansado, retira a jaqueta de couro e joga no chão da sala, liga as luzes, vai até a cozinha e abre o armário onde ficava a ração e os petiscos de seu gato, pega a ração e vai em direção ao poti...

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Kenma entra pela porta de seu apartamento com o rosto cansado, retira a jaqueta de couro e joga no chão da sala, liga as luzes, vai até a cozinha e abre o armário onde ficava a ração e os petiscos de seu gato, pega a ração e vai em direção ao potinho que estava na sala colocar comida para o bichinho, e logo Sans vem "receber" seu dono com carinho, o gato come a ração e Kenma guarda o pacote de volta no armário onde fica, logo tira sua camiseta, jogando no chão também. Vai em direção ao banheiro, desfaz o penteado em seu cabelo e o amarra em um rabo de cavalo, tira o resto de suas roupas, e finalmente entra embaixo do chuveiro, sente o corpo relaxar enquanto a água morna entra em contato com sua pele, olha para o teto branco do banheiro e sua cabeça automaticamente o faz pensar em Kuroo. É quase impossível tirar a imagem dele de sua mente, quando ele olha em seus olhos, ou quando está sério, ou quando está irritado, e a lembrança tão antiga dele sorrindo ao vê-lo, a sensação de estar com ele, sentados no coxão em seu quarto enquanto Kenma jogava um video game qualquer.

Kuroo não parecia o culpar por ter só sumido de sua vida, nunca demonstrou ser babaca o suficiente para colocar Kenma como o filho da puta da história. Era o mínimo, mas Kozume se sentia meio que grato por isso.

De repente pensa em como uma conversa decente com Tetsurou parecia uma boa ideia, por outro lado só jogar na cara de dele as merdas que ele fez não parecia uma má ideia também. O tempo que passaram juntos foi simplesmente uma das fases mais conturbadas de sua vida, e conviver com um cara que estava em negação sobre quem era o deixou levemente traumatizado, não era sempre assim, mas os momentos onde Kuroo estava cegado pelo medo de ser ele mesmo, aquilo era perturbadoramente triste.

No começo eles eram só amigos, logo estavam apaixonados, mas eram tão medrosos, e o fim do ensino médio chegou então... Kuroo parecia o ver como um erro naquela época, quando entrou na faculdade e a relação que tinham havia se tornado muito mais que uma amizade, com o tempo só sobrou aquela negação áspera e incômoda que o machucava sempre que seus pensamentos encontravam os dias em que foram... Algo.

Parece diferente agora, mas Kenma se sente um dependente porque só de vê-lo queria imediatamente sentir quem ele é, quem Tetsurou Kuroo é depois de 3, quase 4 anos? Seu jeito nobre com crianças era o mesmo? Seus planos de ter apenas filhos não-humanos? Sua negação sobre ser bissexual? Seu mecanismo de defesa meio tóxico? Guardar tudo até explodir? Ou aquele cara preocupado com o irmão, que mal sabia o que dizer e que não sabia olhar direito em seus olhos era quem ele era?

Se pegava torcendo para que ele fosse uma pessoa diferente do babaca do passado, porque assim não seria um perigo estar perto dele. E sim, ele queria estar perto dele depois de tudo isso, mesmo que se odeie profundamente por isso, por estar fazendo isso consigo.

Após um longo banho, ele sai mais tranquilo, tirando parcialmente o Kuroo de sua cabeça. Pega um maço de cigarros, um isqueiro que achou perto da estante da TV e seu celular. Vai até a sacada e acende o cigarro e não demora para pegar seu telefone, as mensagens em seu celular incluem Kageyama falando sobre novas músicas, mais de cem mensagens no grupo dos amigos que ainda tinha do ensino médio - que ele ignorou por hora -, Yamaguchi o convidando para um evento, algumas garotas e garotos que ele não sabe como tinham seu número, o garoto que ficou numa festa um tempo atrás enchendo seu saco e por fim, Kazuma, perguntando se Kuroo foi muito rude com ele e pedindo desculpas pelo irmão.

Equanto observa a cidade ali da sacada, seus pensamentos voltam ao Kuroo, agora aos dois Kuroo's.

Kazuma tem o mesmo brilho nos olhos que Tetsurou, é tão alegre quanto o irmão, mas é irresponsável, talvez ele seja melhor que o mais velho, ele não parece ser do tipo que demora tanto tempo pra perceber que fez merda. Tetsurou pensou que ele pode machucar seu irmão, e isso é irritante, sabe que não tem só a ver com ele, mas mesmo assim parece pessoal demais. Uma vontade de gritar vem, quem caralhos aquele idiota de topete espetado pensava que era? Ele não poderia aterrorizar sua cabeça por anos e depois, quando isso já havia sumido, voltar para refazer o estrago e destruir o que ainda nem tinha sido cem por cento consertado.

O barulho da porta sendo destrancada o tira de seus pensamentos, ele olha para trás esperando pelo momento em que seu amigo vai entrar por ali com uma cara de defunto, ou então bêbado, ou então os dois, mas se surpreende porque não era nenhuma dessas opções. Ele parecia normal até demais, o que era estranho, porque aquele esquisitão nunca estava normal.

— E aí. - Cumprimenta meio alto, para ter certeza de que o mais novo ouviria, logo acende outro cigarro, o garoto tira sua jaqueta jeans e a coloca no cabideiro ao lado da porta.

— E aí, como foi o lance de conseguir um baixista? - pergunta indo até a geladeira pegar uma cerveja, chutando algumas roupas que estão jogadas no chão pelo caminho. É estranho, Lev não tenta conversar com ele sempre, não de forma tão casual, pois conhecia o garoto bem o suficiente para saber que Kenma não gostava muito de falar. A não ser sobre seus interesses especiais.

— Finalmente encontramos o cara, ele é bem impressionante, não botei muita fé porque ele é só um calouro com cara de criança, mas ele me fez engolir tudo que eu tinha pra falar. - Responde, enquanto o garoto se aproxima, logo ele está ao seu lado na sacada.

— Isso parece ser bom, faz um tempão que vocês estão procurando alguém, né? Mas você não parece que tá de bom humor. - e ele faz uma observação, não tão sagaz assim, se conheciam há anos, tempo o suficiente pro Haiba saber quando Kenma só estava com sua habitual expressão tranquila ou entediada e quando estava claramente querendo se matar, mesmo que não houvesse muita diferença entre tais expressões.

— O irmão mais velho dele é um antigo conhecido. - Resmunga, estava realmente mau humorado com isso, okay, Kenma reconhecia que era complicado demais, mas Kuroo também era, sente raiva dele, mas também quer ser amigo dele como antes, mas também quer beijar ele, ou bater nele. Não sabe mais.

— E você não se dá bem com ele?

— É o Kuro.

— Quê?! - quase se engasga com a cerveja ao escutar isso. - Puta que pariu. - seu rosto se fecha, Yaku disse que aquele cara estava longe de Tokyo por um tempo.- Eu nem sabia que esse cara tinha irmão...

— Não é nada, eu supero. - Diz tranquilamente, tentando convencer a si mesmo disso também. - O que aconteceu? Você parece que tá mais idiota que o normal.

— Yaku volta de viagem amanhã. - Diz empolgado, bebericando o líquido alcoólico mais uma vez, um grande sorriso estampado em seu rosto branquelo.

— Cara, ele viajou por três dias. - Kenma comenta incrédulo, sabia o quanto Lev amava Yaku, até demais, tipo, num nível que podia ser considerado dependência.

— Eu sei! Mas é difícil ficar longe dele quando ele sempre está aqui, todo dia, não consigo ficar sem ele. - responde com um biquinho nos lábios, Kenma acharia engraçado se não fosse trágico.

— Você já falou com ele sobre... Tudo? - Pergunta levemente preocupado, evitando demonstrar isso.

— Eu tento! Mas ele sempre começa a falar sobre algo feliz, ou fazer planos para o futuro... Fico mal de cortar a vibe dele. - responde coçando a nuca, desajeitado como costumava ser, Lev era um idiota, mas Kozume se preocupava, ele era seu amigo desde o ensino médio afinal, mesmo que sempre tratasse ele mal naquela época.

— O Morisuke é meio duro, mas ele te ama, vocês são uns gays insuportáveis, dá pra ver que vão ficar juntos pra sempre, conheço ele, conheço vocês, sei que nada que acontecer vai fazer vocês se separarem. – suas palavras diárias já estavam esgotadas, às vezes era cansativo conversar, se forçar a isso fazia sua cabeça doer, principalmente se envolvia algo complicado assim.

— Eu vou tentar falar com ele sobre...

— Você sempre diz isso.

— Mas dessa vez é sério!

— Certo, certo... - Kenma ri, batendo o cigarro e assistindo as cinzas caindo.

— Mas, e aí... - Lev cutuca Kenma com o cotovelo. - Sobre o lance do Kuroo... O que você vai fazer?

— Ah, você sabe... - suspira. - Tentar não voltar a amar ele.

He (don't) likes the boys in the band - KurokenOnde histórias criam vida. Descubra agora