Capítulo 10;

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Deitada sobre a cama de Lalisa Manoban usando só uma toalha que era, provavelmente, a coisa mais cara que Jennie tocara em sua vida inteira, a caçadora concluiu que era tarde demais para refletir sobre suas ações.

O que a Jennie do passado diria?

E com passado, leia-se dois dias atrás.

O que seus pais diriam?

Talvez eles aceitassem que ela estivesse transando com uma vampira, contanto que a vampira em questão não fosse a filha do prefeito. Que sorte a deles estarem mortos agora e não terem esse desgosto.

A vampira estava ao seu lado com uma das mãos apoiando a cabeça e a outra traçando suas tatuagens do braço direito com a ponta do dedo indicador, enquanto suas costas arranhadas ardiam. A caçadora não saberia dizer o que se passava dentro daquela mente, nem que sua vida dependesse disso; mesmo depois de quase um dia inteiro de convivência e de terem feito o melhor sexo da vida dela, Lisa ainda era um enigma.

Um belo de um enigma. Um enigma que Kim queria desvendar, mas sabia que ia morrer tentando.

O panda-vermelho de pelúcia estirado no chão do quarto era prova ocular de sua boa-vontade dúbia e tentativas vãs.

— Você se dava bem com os seus pais?

A pergunta de Lalisa surgira do nada. Kim aspirou rápido o ar.

— Na maior parte do tempo, sim. — Usando os cotovelos, ela ergueu o tronco um pouco e tombou a cabeça para o lado, ainda assistindo a loira tocar os traços da tatuagem sob sua pele. — Vou te contar uma coisa que a maior parte das pessoas acha estranho, mas...

— Estou com medo do que você vai dizer. E olha que minha relação com meus pais é a mais disfuncional possível.

Kim riu.

— Eles estão na minha tatuagem. Essa que você está tocando. — Era um yin-yang cercado por escamas dracônicas que se assemelhavam a chamas. — A tinta foi feita com as cinzas dos dois. É meio mórbido e às vezes eu entro em pânico por saber que tem restos mortais na minha pele, mas gosto de acreditar que é só um jeito diferente de levar eles sempre comigo.

Lisa arqueou as sobrancelhas, um tanto quanto impressionada.

— Não dava para colocar uma foto deles na carteira como uma pessoa normal? — Elas deram risada juntas. — Meus pais vão viver pra sempre, se nada ou ninguém interferir, então não passei muito tempo pensando em como seria minha vida se eles não existissem.

— o tom da vampira era agridoce. Ela não olhou nos olhos de Kim enquanto falava, o que quase nunca acontecia. Talvez fosse hora de mudar de assunto.

— Você nunca me disse o motivo de eles não terem chamado a polícia assim que souberam do sequestro.

— Porque meu... sequestrador sabe de coisas demais sobre essa família. Eles não arriscariam, ainda que saibam que ele mais ladra do que morde e que é só um idiota querendo o dinheiro e a atenção que nunca teve.

— E qual é o plano de vocês para pegar ele? — A pergunta veio com toques sutis de preocupação. — Vocês têm um plano?

— Eu tenho um plano. Eu. Sozinha.

— O quê? Mas e seus pais?

— Eles gostam muito de mim — ela esboçou um sorriso amargo, mas preferem não sujar as mãos. Eu dou conta.

— Lalisa, eu realmente acho que... — Seus lábios foram selados pelos da loira num instante. Aquela boca, tão difícil de resistir, estava borrando seus sentidos, pintando sua mente com tons saturados de vermelho, deixando-a quente como uma fogueira outra vez.

HeartstakerOnde histórias criam vida. Descubra agora