Capítulo 6;

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Todos aqueles dígitos a mais em sua conta bancária fizeram Kim se esquecer de seu incômodo por estar na companhia de Lalisa Manoban; e ela dirigira durante os quinze minutos até seu restaurante favorito pensando em como gastaria cada milhar. Tinha vislumbres de um apartamento perto do litoral, com uma varanda espaçosa para Tripé, e uma pequena adega particular. Talvez pudesse ter um arsenal disfarçado de adega, o que talvez não fosse prático, mas não precisava ser; faria só pela estética.

Bebidas alcoólicas e armas de caça estavam entre suas coisas favoritas.

Ao sentarem-se à mesa perto da janela, Kim começou a bater os pés inconscientemente, aguardando a comida e também o momento em que receberia a mensagem que diria que ela podia se livrar da filha do prefeito.Toda a sua ânsia estava restrita àquele momento; depois que cumprisse sua parte do acordo, estaria livre.

Adeus, cidade mórbida.

Tiraria férias de vampiros assassinos por um bom tempo.

Era quase seis da tarde e o sol já estava se pondo, banhando as ruas de laranja-forte enquanto a brisa brincava com as folhas e com o lixo da calçada. Aquele era um bairro mais antigo e afastado do centro que tinha pouco ou nenhum planejamento urbano. Tudo era disforme, mas Kim se sentia parte daquilo, já que vivera ali com seus pais na infância.

— Você me trouxe até o outro lado da cidade para comer carne crua? — disse Lalisa enquanto corria os olhos céticos pelos pratos que foram servidos diante das duas.

Sem dizer nenhuma palavra, Kim levantou o tampo da grelha anexada à mesa delas, apertou os botões para ligar e jogou as fatias da carne sobre o metal. O chiado borbulhante das fatias assando a fez salivar.

— Nunca comeu churrasco coreano?

A vampira a encarou sem precisar dizer nada para explicar como aquela pergunta era estúpida por uma dezena de motivos. Kim sentiu a ponta de suas orelhas ficarem quentes, envergonhada. Um mal-estar subia pela sua garganta toda vez que se lembrava do que Lalisa se alimentava. Não entendia como algo assim podia escapar de sua consciência tão fácil.

A verdade era que Lalisa possuía uma aura inegável de charme e simpatia, um sorriso largo de dentes brancos e alinhados que ficava ainda mais intenso nas vezes ínfimas em que demonstrava resquícios de empatia. Exercia poder, mesmo só com o esticar das linhas finas de seu rosto.

— Mas para tudo tem uma primeira vez. — Manoban deu de ombros.

Quando a loira levou uma tira fina de carne até a boca e mastigou, foi como ver um lobo selvagem comendo McDonald's.

— E então? — perguntou Kim com as sobrancelhas arqueadas. — Melhor do que sangue, né?

Lalisa comprimiu os lábios, ainda apreciando o sabor da gordura que derretia sobre a língua, então sorriu depois de engolir.

— Não, mas é melhor do que muita coisa que já comi.

— Eu não sabia que você podia comer comida de gente.

— Você não lembra do projeto de Literatura que fizemos juntas no segundo ano? Eu te convidei para a minha casa depois da aula, nós levamos o dia todo para terminar e meu pai fez o jantar pra nós duas, porque ficou muito tarde e você disse que estava ficando com fome.

— Porra, é claro que eu não lembrava. Isso faz anos.

Mas, agora que a memória havia sido desbloqueada, Jennie tinha vislumbres de uma casa luxuosa e muitíssimo limpa, um candelabro de cristal e um aparelho de jantar que pagaria dois meses do salário do seu pai na polícia. — Puta merda, agora que eu me toquei: aceitei jantar na sua casa correndo o risco de ser o prato principal.

HeartstakerOnde histórias criam vida. Descubra agora