É difícil medir o quão realmente precisamos de sangue circulando no cérebro até alguém estar com o braço em torno do seu pescoço, pressionando a veia jugular, enquanto tudo vai ficando escuro ao seu redor e você fica à beira de perder a consciência.
Kim estava imobilizada.
E odiava cada segundo dessa sensação.
A baixa estatura criava uma desvantagem, é obvio, por isso ela evitava combates corpo a corpo a qualquer custo. Entretanto havia sido pega de surpresa e tudo que restava era torcer para que o homem não a matassem, ou que a matasse de um jeito indolor. Mas ela acertara a cabeça dele com uma arma e o deixara desacordado no meio do nada. Ele não tinha nenhum motivo para ser misericordioso.
— Manda ele soltar ela, Victor, isso é entre mim e você — vociferou Lalisa, agora com a arma apontada para a cabeça do sujeito que tinha seus braços em volta do pescoço e do torso de Jennie.
A loira tentava disfarçar, mas suas mãos trêmulas entregavam o quanto ela estava amedrontada.
— Está mesmo me pedindo para eu poupar a vida dessa garota? — ponderou Victor. — Parece que agora eu tenho algo que você quer então.
— O que você quer? Para deixar a gente ir.
— Se está disposta a negociar, então ela deve ser importante. Posso pedir o que eu quiser?
— Não testa a minha paciência, Victor. Se ela se machucar, eu mato ele, depois você e quem sabe aquele outro que prendi na dispensa. Mas nenhum de nós dois quer que acabe assim, então facilita as coisas pra mim.
— Dinheiro, irmãzinha. O dinheiro que você veio pegar de volta. Ele apontou para uma mala de viagem enorme que estava jogada aos pés de Lalisa. — Pensa rápido, ela está quase apagando.
Ela havia prometido aos pais que recuperaria o dinheiro e os livraria das chantagens de Victor. Era uma quantidade alta demais, mesmo para a família Manoban. Se ela voltasse para casa sem aquela mala, teria problemas.
E ela sempre achara que não havia nada pior do que decepcionar a família e ser fraca, mas, ao assistir os olhos de Jennie perdendo o brilho cada vez mais depressa, não conseguia pensar em uma coisa sequer que fosse pior do que vê-la morrer.
Lalisa colocou a arma no chão e a chutou para longe.
— Sua vez — disse ao rapaz.
Ele virou o rosto para Victor, que fez um sinal para que soltasse a caçadora e, depois de um resmungo mal-humorado, puxou a arma que estava enfiada na calça da garota e a largou. Kim caiu sobre o chão com um baque duro dos tacos de madeira. Seus olhos estavam lacrimejando, enquanto ela tossia e tentava retornar à lucidez.
Lalisa ajoelhou-se no chão e engatinhou sobre o corpo da caçadora, tocando o rosto vermelho com suas mãos macias e geladas. Kim conseguia sentir o cheiro de seu perfume importado misturado com suor e assistir as rugas de preocupação no rosto da vampira suavizarem à medida que seus olhos se tornavam alertas outra vez.
Um sorrisinho desenhou-se nos lábios da asiática.
— O que você está fazendo? — perguntou Kim com a voz falha, mas num tom provocativo.
— Salvando a sua vida, sua idiota.
Uma legião de pensamentos difusos tomou conta da mente de Kim, enquanto sentimentos mais conflituosos ainda inundavam seu peito. Estivera tão próxima da morte que não tivera tempo o suficiente para sua consciência processar.
— Tanto dinheiro por uma humana — disse Victor. Ele deu o primeiro passo adiante na direção de seu comparsa, que já havia pegado a mala e arrastado para longe, como se seu conteúdo pudesse evaporar — Quem diria que você se importaria com alguém além de você mesma?
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Heartstaker
FanficQuando a caçadora de vampiros Jennie Kim é contratada para capturar a perigosa Lalisa Manoban ― sua grande rival do Ensino Médio ―, ela tem certeza de que aquele trabalho parece bom demais para ser verdade. Sua teoria se confirma da pior forma possí...