Fogo VIII

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Castigo: uma sanção para reprovar condutas.

Admoestá-las.

Repreendê-las.

Reprimi-las.

Penalizá-las.

Com o intuito de fazer o indivíduo refletir certos atos.

A escolha de cometer, novamente, tais atitudes trará a punição de volta, te pondo em jogo. Ou deixará de fazer ou sempre será castigado.

Compreendam: perde-se sempre quando se é colocado em jogo. As pessoas são como são, e repreensão alguma é capaz de mudá-las.

O balançar inquieto das pernas de Lúcifer evidenciava sua total falta de paciência. Passou a palma pelo rosto — não escondia seu incômodo —, inspirou profundamente e jogou o ar para fora, juntando os resquícios de remanso que sobravam. Continuou fitando a apresentação.

— Está tudo bem, Simone? — a voz delicada indagou com certa preocupação.

— Estou bem, Karen. Não se preocupe. — Sorriu gentilmente, sobrepondo sua impaciência com gentileza. Fitou o rolex prata, totalmente desassossegada.

Odiava igrejas: o som, as pessoas, as palavras, o tédio e o sono que causavam, entretanto reconhecia sua parcela de culpa por todo aquele tardar. Soraya havia passado longos minutos dentro da sala de oração. Apostava todas as suas fichas que ela sequer se tocaria, Thronicke só estaria tentando controlar seus desejos.

Não poderia negar que deixar aquela loirinha excitada foi um verdadeiro castigo para a Demônia, mas valeu a pena. Lúcifer queria vê-la implorando, suplicando para ter os dedos da Diaba sendo socados dentre o espaço de suas pernas.

Mais uma vez, Tebet fez um panorama visual por todo ambiente pejorativamente divino. Notou cada face desatenta, sentindo o cheiro de cada alma suja e pensamentos maldosos.

Riu internamente quando se pôs a pensar que as pessoas corriam para ambientes como aquele buscando uma salvação distante, somente para não queimarem no fogo do Inferno. Todos totalmente egoístas, servindo a Cristo para livrarem o próprio traseiro.

Para a Tinhosa, o Inferno começava exatamente ali.

— Sabe, Simone... — Karen suspirou, virando-se para a outra. — Você gostaria de almoçar conosco? — Sua expressão era muito amigável. Queria devolver a gentileza de Tebet.

— Oh, com certeza. Ficarei muito contente em conhecê-los ainda melhor, ter mais intimidade. — A faceta, que antes parecia sisuda, agora, tinha um sorriso de canto a canto.

Não evitar imaginar tudo que poderia fazer com Soraya em um simples bobear de tempo. Quem sabe não terminariam a conversa de outrora?

Sutilmente, levou um finito susto com a mudança de entonação do microfone chiado. Logo, um riso cresceu em seu rosto quando Thronicke apareceu deslumbrante, sem precisar de adereço algum para aquilo. Sua voz tinha uma doçura, uma melodia suave e encantava a todos, menos a Diaba. Como o som lhe causava agonia, desgosto! A letra melancólica e enjoativa, a voz de anjo que a loira possuía, juntamente com o coral perfeitamente organizado e afinado.

Lindo... Parecia um funeral.

Revirou os olhos, em genuíno tédio, e fitou o relógio da parede à sua frente. Cada segundo parecia passar como horas. Encarou Soraya — que vestia as roupas de sempre: folgadas e de cor apagada — como a um ser divino. Nada ofuscava seu encanto, nada se equiparava à sua beleza angelical e sacrossanta.

Lúcifer parecia não notar, mas cada dia se afundava mais. Perdia-se naquele poço sem fim, nas madeixas loiras com cheiro de mel, nos lábios róseos, na inocência cercada de lacunas.

No Limiar do InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora