Abismo IV

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Tebet, com menos contragosto, parou o carro à beira daquele meio-fio, mais uma vez.

Ambas desceram do veículo, adentrando novamente a igreja. Que por todos os demônios do inferno, estava vazia, suspirou e agradeceu profundamente.

— Vamos sentar ali. — a loira apontou para o lugar de dantes, sempre falando mansa, de forma natural.

Agarrou a mão de Lúcifer, entrelaçando os dedos, com certa pressa.

O que causou um sentimento de vitória ao intimo da Escarnecedora. Simone iria corromper aquela garota com uma facilidade de outro planeta.

Sentaram-se uma ao lado da outra, sobre os bancos de madeira. Soraya somente pegou seu livro, volvendo a atenção para o mesmo.

— Eu só vou ler um pouquinho, estou quase finalizando. — sorriu doce.

— Então deixe-me ler junto com você. — Lúcifer jamais se perdoaria por própria se convencer a ler aquela maldita obra.

Já estava arrependida.

O livro era pequeno, estilo de bolso, o que dificultava a leitura de ambas, visto que Soraya temia ser mal educada e dizer "não" para a proposta de Simone.

Entretanto surgiu uma brilhante ideia, como se uma lâmpada tivesse acendido sobre sua cabeça.

— Simone, se quiser posso sentar no seu colo, assim podemos ler melhor. — a expressão de Soraya fora retraída e muito tímida, provava-se mais inocente a cada instante.

Lúcifer ficou descrente, jurou que a Thronicke estava de brincadeira. Afinal aquilo fora uma ideia de jerico, sem pé nem cabeça, mas não hesitaria em aceitá-la.

Por vez a Diaba assentiu, tentando disfarçar a maldade presente pelos olhos negros e perjuros, escondendo a linguagem do seu corpo, que evidenciava a completa truculência.

A loirinha acomodou-se no colo da Tinhosa, deixando sua bunda exatamente sobre a intimidade alheia.

Simone nunca imaginou-se rezando, contudo naquele exato momento pediu a Deus para que não ficasse excitada.

Conquanto rapidamente mudou seu foco, agora observando Soraya, que começou a ler, tão concentrada.

Lúcifer passou os olhos pelos lábios inchadinhos, que eram apertados pelos dentes, demonstrando uma entrega de atenção para a leitura; o cheiro daquela puritana era doce, mas suave, exatamente como a Tinhosa gostava.

— Pare de me olhar assim. — ditou, corando.

Fora esquisita a maneira como Tebet fitava-a, parecia que iria devorá-la a cada mísero segundo, deixando-a tímida.

— Você é tão bonita. — o elogio repetente, já não soava tão estranho. Soraya virou-se, fitando a face da Demônia, sorriu angelical.

Seus olhos correram para uma pequena cicatriz presente no topo da bochecha, fazendo-a franzir o cenho, tocou-a com delicadeza, acariciando-a.

— O que foi isso? — perguntou-lhe, mantendo-se atenta somente para a marca.

Já Simone não tirava seus mirantes dos lábios alheios, sentia tanta sede, tanto desejo de tê-los.

A loira, sem resposta, volveu os lumes para os da outra, vendo-os mudar de cor, em uma mesclagem movente, como um pequeno caleidoscópio, castanho e escarlate.

Não sentiu medo.

— Você já beijou alguém? — a voz da Diaba era extremamente rouca e sussurrada.

Soraya engoliu a seco, não conseguindo desviar o olhar, ela não queria parar de fitá-la.

Negou vagarosa, sentindo-se esquentar de timidez, enquanto os dedos gélidos pararam o carinho na cicatriz, suspirando pesado.

No Limiar do InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora